ESTOUREM SUAS BOLHAS E VEJAM O MUNDO REAL
Humanos buscam as suas bolhas em igrejas e em bairros, em associações, em ambientes profissionais, buscam a sua turma, ser parte de uma tribo, uma facçāo, uma ideologia, querem se pendurar em alguma coisa; consolidam suas amizades com as pessoas em que encontram semelhanças — sociais, de hábitos, de interesses, de espírito, o resto é gente que merece um esporro, gente equivocada, gente doida. Tentamos manter ao nosso redor as pessoas de que gostamos, aquelas com quem nos é fácil e agradável conviver; buscamos, instintivamente, a tal farinha do mesmo saco.
Não é à toa que, em todas as línguas do mundo, há um provérbio para definir isso:
“Diga-me com quem andas e eu te direi quem és”.
Passamos a juventude em uma verdadeira odisséia pra “estourar nossa bolha”. Afinal de contas o “mundo real” é muito diferente “lá fora”.
Deixa eu te dizer o que entendo sobre bolhas.
Não tem essa de “dentro” ou “fora”.
A existência é só um monte de gente flutuando nas suas próprias bolhas.
Chegamos aqui ao divisor de águas deste texto. Se você é diferentão ou diferentona, vive em absoluto desprendimento das coisas, vá fazer outra coisa. Caso contrário, me acompanhe.
O mito da “bolha” está sempre associado às classes mais abastadas da sociedade. Onde as crianças vivem de garagem em garagem e não sabem “onde as pessoas marrons dormem". Mas o menino da favela também vive numa bolha. Talvez de água suja do córrego e com detergente de segunda mão. Mas bolha igual, transporte isso para a sua visāo de mundo.
Se a criança rica não sabe o que é passar fome, a criança pobre, por sua vez, não sabe o que é fartura. Se a rica não sabe o que é “ter que trabalhar aos 13 anos” a pobre não sabe o que é “ter que debutar aos 15”. O rico conhece só o lado de dentro do insulfilm e o pobre só o de fora.
Qual mundo é mais “real”? O mundo todo é real. Não é porque mais gente vive uma realidade, ou porque ela é mais difícil, que ela é, consequentemente, mais real. E, cara, espero que esteja óbvio que não to argumentando coisas como “preconceito invertido”. Se pareceu, ou pare aqui, ou recomece a leitura.
Tô falando que somos todos poeira das estrelas. Cada um com suas complexidades e individualidades, conformado em sua própria bolha. Seja ela fétida ou cheirando ervas provençais.
Nós devíamos estar olhando não pras bolhas, mas pros movimentos, talvez não tão aleatórios assim, que fazem com que elas interajam de maneira assustadoramente desordenadas.
Nossas bolhas, apesar de nos formarem, não nos definem. Todo mundo só é igual no fato de ser diferente. Então, a individualidade não é ruim. Ruins são as forças que se esforçam pra que as bolhas fiquem cada vez mais opacas e o espaço entre elas cada dia maior.
OBS. ♡>Não parem de filosofar. Sejam marginais.