quinta-feira, 30 de julho de 2015

A VIDA NÃO É JUSTA

Resultado de imagem para carta dom quixote CARTA AOS POSSÍVEIS DON QUIXOTES       

 


Querido Dom Quixote,


Sua dor é muito compreensível e comum. Muitas pessoas sofrem cedo o peso das injustiças do mundo e passam a acreditar que, se levarem uma vida moralmente boa, deveriam ser recompensadas com consequências positivas.
É a velha ideia de que os bons serão recompensados pelas suas boas ações e os maus serão punidos. 
Muitas pessoas que adotam para si causas ou militâncias, seja sociais ou religiosas, passam a vida inteira com uma bandeira na mão lutando por uma causa, mas muitas vezes perdendo o equilíbrio na maneira prática de se relacionar com os outros.
Essa premissa dos "bons recompensados e os maus punidos" é bem útil num processo de pedagogia moral para pessoas que não conseguem pensar eticamente sem usar ainda o egocentrismo como base de raciocínio. Elas ainda não conseguem agir bem sem a esperança da recompensa. Precisam da contrapartida para seguir agindo corretamente.
Pessoas mais maduras conseguem superar essa ideia de reciprocidade e agem bem porque escolheram agir assim, independente da reciprocidade ou do que fizerem em retorno. Mas entendo que, para desenvolver essa mentalidade, é necessária muita sofisticação emocional, que só se consegue com treino e mudança de padrão pessoal.
Seu senso de bem agir parece ainda necessitar dessa ideia de receber algo de volta e daí surge o seu sofrimento constante. E quando diz que a virtude da reciprocidade está escassa hoje em dia, eu lembraria a você que ela nunca esteve em alta. Nunca. 
O justiceiro quer fazer cumprir uma visão idealizada e utópica da vida, de que ela é essencialmente justa e conciliadora. Isso pode parecer incrível em muitos sentidos, e lutar por isso é certamente algo digno, mas se isso afeta seu senso de convivência com as pessoas, a obsessão pela justiça pode se transformar num problema para conviver com as outras pessoas - que também são vítimas e agentes de injustiça.
Deixe-me contar um segredo doloroso, mas libertador. A vida não é justa. 
O problema surge quando você age como um defensor ardoroso anônimo, brigando mentalmente com os demais e se irritando com cada contrariedade. Viver de forma madura é admitir que não seremos recompensados pelas causas que lutamos. 
Pessoas boas e más morrerão, sem prorrogação ou melhores condições. Quem é bondoso deveria ser porque escolheu ser, mas não para ser poupado de uma morte trágica ou de uma vida cheia de privações.
Quando você trabalha direito, imagina que deveria ser poupado de críticas, mas pense bem comigo, sua competência não deveria blindá-lo de ser questionado ou criticado, afinal, o melhor ou o pior profissional estão passíveis do mesmo tipo de avaliação, sem privilégios.
O problema de querer ser bem tratado por ter tratado bem aos outros é que sua balança fica fazendo pequenos cálculos mentais para entender se sua "barrinha de energia" está cheia e a do outro vazia. 
Isso é torturante! 
Se você fez, você fez. Se agiu bem, agiu bem. A balança é você e não o outro. 
Quem luta por uma causa justa faz alarde na hora certa e com quem tem que resolver (e nas instâncias devidas), e não no seu mundo secreto de controle mental.
Quando alguém age corretamente esperando ser recompensando, parece que, no fundo, tem dois grandes temores: o primeiro é de começar a desacreditar na humanidade (por desapontar tantas vezes). O outro é, por consequência, se deprimir caso constate a própria descrença. 
Essa necessidade de ter fé nas pessoas antes, para então ajudá-las, é parte de um ritual. É como se uma pessoa tivesse uma escassez de recursos e só doasse para uma pessoa mais "pobre" caso ela use de modo "correto". É como se a humanidade precisasse merecer sua benevolência, agindo como você idealiza que ela deveria agir.
A ação que parte da escassez, sob condições específicas de bons modos, mede cada gota de doação.
Já a ação que parte da abundância, distribui porque há o bastante. Ou seja, uma doação legítima surge de alguém que está mais em paz com suas próprias necessidades. Você dá de si e se desobriga a ter que vigiar o outro.
A pessoa justiceira calcula matematicamente a reciprocidade e começa a se achar a defensora do bem mundial, privilegiada em seu escudo de bondade. Sem que perceba, começa a ter pequenos desapontamentos e decepções com as pessoas e, assim, ficar nervosa por cada passo mal dado dos outros. 
É uma tortura, pois tudo é meio torto e desencaixado na vida. Se você ficar nervoso por cada coisa fora do lugar, você irá enlouquecer.
Você quer agir certo? Aja, mas não cobre retidão dos outros. Isso também vai liberá-lo da raiva decorrente de querer que os outros sejam compreensivos ou cooperadores com sua visão de mundo.
Pode parecer que meu texto caia para o conformismo passivo (na visão de um justiceiro engajado), como se não houvesse nada a ser feito ou que isso levaria à uma inevitável alienação, mas não é nada disso. 
O problema de qualquer tentativa quixotesca de mudar o mundo é achar que o mundo deve mudar agora, do seu jeito e no seu ritmo, como se todos tivessem que se iluminar no mesmo compasso. Isso não vai acontecer. 
Se você quer ajudar, seja ativo, mas tranquilo. Se quer fazer do mundo um lugar melhor, comece pelo seu quintal, sua rua, seu bairro, sua cidade. Use de empatia para entender que o outro criou seus conceitos baseado em premissas que você não concorda, mas que o ajudam a caminhar (de um jeito estranho à você) e que isso não o impede necessariamente de seguir lado a lado com essa pessoa. 
Descubra quais os limites entre o que você tem e não tem controle, para não se tornar apenas um panfletário chato, inconveniente e raivoso. 
Há um magnetismo em quem olha para as grandes contradições da vida com brilho no olho e não está caçando aplausos pelo seu senso de justiça.
Abandonar o idealismo, para quem é muito obcecado pode, paradoxalmente, aproximá-lo do ideal que tanto busca.
Não é simples, não é fácil, nem há script, mas é preciso tentar, meu caro Dom Quixote.


quarta-feira, 29 de julho de 2015

APEGADOS # VICIADOS EM COMPANHIA

FELICIDADE NÃO É ALGO QUE SE BUSCA FORA


Resultado de imagem para martha medeiros frases

Martha Medeiros é jornalista e escritora, e sabe como poucas expor com clareza, leveza e lucidez os assuntos que mais permeiam o nosso imaginário que é o amor e as relações. Admiro bastante o trabalho dela.
Nós nos movemos o tempo inteiro tateando por aí sem saber exatamente como agir em relação a felicidade e o amor,  tentando descobrir formas de diminuir a confusão e o sofrimento que causamos e aos quais somos submetidos. 
Sabemos que ninguém está livre de frustrações, ninguém. Quem não as aceita está condenado a passar a vida se queixando e se vitimizando. Felicidade não é algo que se busca fora, ela é construída internamente, é regida pelo estado de espírito. Envolve resiliência, humor e uma visão desestressada para o que acontece em volta. A maneira como se administra os prazeres e os revezes é que vai determinar se a pessoa viverá dramaticamente ou com leveza.   
Em outra ocasião escrevi um texto aqui  sobre como o romantismo nos faz confundir amor com apego — e como isso causa sofrimento nas relações. Esse mesmo contexto encontrei em um texto de Martha Medeiros (Viciados em Companhia). Achei interessante e resolvi compartilhar com vocês aqui. O texto não está na íntegra, mas  o exposto é o suficiente para refletirmos sobre apego, amor e autoestima. Em suma a ideia é: para nos livrarmos do apego, temos que aprender a nos amar sem necessitar do olhar do outro, porque é o nosso amor próprio que nos ajuda a ter compaixão pelo outro e a reconhecer como humana as suas fragilidades, falhas, ineficiência, tudo que também vamos encontrar em nós mesmos.  
  
 Segue texto...
... 
"Sozinho é uma coisa, solitário é outra. Não confio no amor de quem não consegue ficar sozinho. Nunca foi ao cinema sozinho, nunca viajou sozinho, perambula pela rua feito um cão que se perdeu do dono. Sentar na lanchonete de uma livraria para tomar um cafezinho assemelha-se a uma catástrofe. Ficar sozinho lhe parece vergonhoso, e isso é evitado com o mesmo afinco com que evitaria a morte.
Para ele, qualquer parceria é melhor que nenhuma. Uma conversa chata é melhor que o silêncio. Um chato é melhor que ninguém. É praticamente um viciado em companhia. E, como todo viciado, critério não é o seu forte. Não confio no amor de quem não se suporta. De quem telefona a fim de papo furado, de quem envia mensagens só para ouvir o sinal da chegada da resposta, de quem precisa se iludir de que não está só. Quem de nós não está só?
Uma manhã de frente para o mar, uma tarde com um livro, uma noite com um filme, três dias inteiros numa cidade estranha, uma cama vazia – para ele, simulacros do inferno. Não confio no amor de quem não se entretém. De quem se desespera em frente ao espelho, de quem não consegue se maravilhar num jardim, de quem não viaja ao ouvir uma música, de quem não gosta de andar de ônibus enquanto aprecia a paisagem pela janela, de quem não se sente inteiro. 
Eu sozinha sou muitas. Sozinha, tem mais foco o meu olhar, tem mais profundezas o meu ser. Sozinha tem mais espaço minha liberdade, tem mais imaginação a minha fantasia, tem mais beleza a minha individualidade. Sozinha tem mais força o meu pensamento, mais inteireza a minha vontade. Não confio no amor de quem negocia sua autenticidade.
Como amar de verdade outro alguém, se não sabe de onde esse amor vem? Onde foi gerado, por que é necessário, que atributos ele contém? Amar é doar, não vem do doer. Amar é saber que aquele que a gente ama, se faltar, vai deixar saudade, mas não nos transformará num cadáver a vagar. Não confio em quem ama para ser um par, não confio em quem quer apenas se enquadrar, não confio em quem ama por não se tolerar.
Amar tem que ser extraordinário. Além do que já se tem. Se sozinho você não se tem, amar vira tubo de oxigênio, ânsia, invenção e enredo barato, perde a dignidade, o amor vira muleta e trucagem. Confio no amor de quem não precisa amar por sobrevivência, de quem se basta e mesmo assim é impelido a se dar, porque dar-se é excelência, não é mendicância. Não confio no amor de quem não se ama em primeira instância."
...


São proposições manejadas com muita lucidez pela autora!

terça-feira, 28 de julho de 2015

AMIGO A GENTE SENTE

UM OCEANO VIRTUAL DE CONTATOS...

"TER MUITOS AMIGOS É NÃO TER NENHUM"
Aristóteles
´
O mundo é uma ilha. Uma ilha que recentemente chegou a 7 bilhões de habitantes. E todos eles estão ligados entre si por apenas seis graus de separação, conforme o experimento do psicólogo Stanley Milgram, pelos idos de 1960. Assim, podemos imaginar que estamos todos unidos.
Então por que tanta gente se sente só?
Eu tenho uma teoria: porque o sujeito abdicou de ser quem ele é para ser alguém mais "aceitável" ao mundo que quer conquistar. Ele se desfragmentou para, nos pedaços de carne e personalidade, encontrar algo que os outros vão julgar como uma qualidade positiva. Até mesmo o próprio homem se esquece de quem é.
Realidade comum: alguém com milhares de conexões no Facebook e ninguém com quem sair no fim de semana. Alguém tido como influência no Twitter porque só fala coisa interessante mas que não sabe conversar nem com o próprio vizinho. Não tendo como fazer amizades. Assim, amigos são raros, apesar de como as redes sociais atuam – ou melhor, de como nós atuamos nas redes sociais. Aristóteles, que nunca teve perfil no Facebook, já sabia disso:
"Ter muitos amigos é não ter nenhum."
Ter um milhão de amigos (como queria Roberto Carlos), colecioná-los, é o motivo da proliferação de redes sociais.
Hoje é tão engraçado! Qualquer um pode transmitir, a tantos amigos quantos forem, mensagem do tipo eu amo vocês com facilidade e sem constrangimentos. Afinal, não precisamos mais olhar nos olhos de ninguém e tampouco falar com nossa própria voz o quanto sua amizade é uma de nossas maiores alegrias neste mundo. Basta publicar no Facebook que amamos as centenas, talvez os milhares de amigos que estão adicionados em nosso perfil, e daí é só aguardar todas as curtidas que virão.
Mas também podemos utilizar apenas 32 caracteres e escrever, no Twitter, algo como “Eu amo todos vocês, meus amigos!”, e esperar os retuítes de todos os que nos seguem. Os mais criativos podem até segurar cartazes em fotos publicadas no Instagram ou no Tumblr.
Utilizarmos as redes sociais desse modo talvez seja uma maneira de nos afastarmos ainda mais de nossos amigos. Afinal, um dos subterfúgios para não expressarmos um sentimento é expressá-lo pelos meios errados.
Além disso, ninguém tem cinco mil amigos, sequer cinquenta. Temos cinco ou quatro amigos do peito, nossos verdadeiros irmãos camaradas. E eles estão lá, perdidos, misturados com outras centenas ou milhares de pessoas adicionadas em nossas redes sociais, como se as fibras de nosso coração estivessem diluídas em um oceano virtual de contatos, a grande maioria composta de pessoa que conhecemos apenas superficialmente.
Cutuca daí que eu compartilho daqui; curte isso que eu reblogueio aquilo; retuita assim que eu hashtagueio assado: não se tratam de ferramentas que mediocrizam as relações, mas sim de ferramentas que instrumentalizam as relações medíocres que já existem em um cotidiano no qual não encontramos muito tempo para confraternizar com nossos grandes e verdadeiros amigos.
Em meio ao limite máximo de cinco mil amigos que se pode adicionar no Facebook, as pessoas estão ficando cada vez mais sozinhos mas, pelo menos, “curtem” seu isolamento em grupo.
O que torna as redes sociais atraentes não é a facilidade de nos conectarmos aos outros, mas sim a facilidade de nos desconectarmos de qualquer um com apenas um clique. Terminar de um laço afetivo é difícil no mundo real, mas acabar com uma “amizade” no Facebook é fácil demais, e isso mina os laços humanos, já que a perda de um amigo é contabilizada como pouca coisa – afinal, no dia seguinte, adicionamos outros cem no Facebook.
Nada contra as redes sociais em si mesmas, nunca sabemos de onde pode surgir uma verdadeiro amigo.
O que não podemos fazer é permitir que as grandes amizades que surgem em nosso destino, mesmo que por meio do Facebook, acabem se perdendo na multidão de contatos que estabelecemos nas redes sociais. Essas amizades são nossa maior riqueza, ao lado de nosso marido e de nossos familiares: são para essas pessoas que você devotará seus últimos pensamentos, isso eu garanto. É ao lado desses amigos que sempre nos sentimos, não importa a idade, moleques junto a outros moleques, como se fôssemos um grupo de eternos meninos, cheios de entusiasmo perante a vida, explorando o mundo com olhos admirados e compartilhando cada descoberta. São eles que seguram nossa barra quando caímos, que celebram nossas vitórias como se fossem suas, e que nos dão a real quando ninguém tem coragem de nos dizer a verdade.
Quando estiver passando dessa para uma melhor, asseguro, você não se lembrará de seus bens materiais, tampouco de seus compromissos pessoais, e muito menos dos problemas que deixou pendentes. Você apenas pensará naqueles que ama, mesmo que não tenha coragem de dizer isso a eles.
Claro, talvez até nem precisemos dizer com palavras que amamos nossos amigos, até porque os homens tem um jeito próprio de demonstrar o que sentem, preferindo muito mais os gestos duradouros às frases prontas. O que é fundamental é expressarmos tal sentimento de um modo que esteja a altura de nossa amizade.
Há quanto tempo você não encontra seus amigos? Da últimas vez que os encontrou, você realmente ouviu o que eles tinham a dizer, as histórias que tinham para contar? Você realmente estava ali, presente, ao lado deles, ou estava pensando em futuros compromissos ou em preocupações cotidianas?
Quem escreve este texto é alguém que pensa o seguinte: se você não for cuidadoso, poderá um dia lastimar não ter aproveitado o tempo em que esteve ao lado de seus amigos para, com um aperto de mão, um abraço, uma gargalhada em comum ou mesmo um brinde, comemorar a grande amizade que os une feito irmãos.
Por isso, sugiro que você seja esperto e, ao invés de ver deixar que suas grandes amizades se diluam nas redes sociais, utilize as redes sociais para potencializar suas grandes amizades.
Então não perca mais tempo lendo esse texto, e convide, se possível, seus amigos para uma confraternização na vida real, em um bar, em um parque, enfim em qualquer lugar no qual vocês possam, do seu jeito, celebrar a jornada de contínuas descobertas que é a vida.
E faça isso como se deve fazer: faça agora, sem desculpas. Porque, como eu sempre digo, você não é eterno. É sempre bom lembrar!


segunda-feira, 27 de julho de 2015

EQUILÍBRIO, LIBERDADE # CORPO LEVE

EIXO CORPO-MENTE



Equilíbrio. Palavra definida como estado dos corpos que atuam em forças iguais e contrárias. Sentido figurado de harmonia. 
Harmonia, mais do que uma palavra solta é o resultado da plena união e relação das realidades que constituem a nossa verdade.
Para quem vive em nossos dias neste país, equilíbrio e harmonia podem não ser palavras tão familiares. Trânsito, poluição, violência. 
Simplesmente sobreviver, nesse contexto, provoca cansaço físico e psicológico. Para alguns, a válvula de escape é brigar, dançar ou gritar, se deprimir, adoecer...
Não pra mim.
Prefiro calçar aquele velho par de tênis batido. E correr. Pela manhã ou pela noite, não importa. Faz bem sentir o coração palpitar, o sangue correr pelas veias, e o que considero o mais importante, limpar a mente. Mas limpar a mente com um bom som. Pois se há um momento da vida que necessita de uma playlist perfeita, é durante a solidão dos passos rápidos desde a partida até a chegada nos meus treininhos de corrida pelas ruas.  
Faço desse hobby a minha rotina.
O ponto positivo das corridas de rua é o lance social. Durante os treinos ou numa prova você conhece pessoas, faz amizades, encontra um e outro. E para quem não é profissional, isso motiva. Mais do que o pódio ou tentar bater a sua meta de tempo, o clima amistoso de uma corrida, das tendas, da conversa entre corredores já vale. No mundo das corridas de rua o companheirismo impera. Qualquer pessoa que calça um tênis para correr entende as dificuldades do companheiro, já que são similares às suas próprias dificuldades.
O desafio não é vencer um oponente, mas obrigar as pernas a continuar. Afinal, a mente e no meu caso  também a boa música comandam o corpo. 
Compartilho desse sentimento de equilíbrio, liberdade e sensação de corpo leve depois de acelerar o coração e encher meu tanque de combustível de ânimo. 
É importante dizer que qualquer atividade de sua escolha terá esse mesmo efeito. Elegi a corrida nesse texto mas também pedalo e nado para diversificar. Todas as atividades que nos propomos a fazer dá no mesmo, na mesma sensação de leveza.
Ter o objetivo de adquirir esse hábito em nossa rotina não representa apenas um objetivo importante; me arrisco a dizer que isto é um meio para a realização de todos os outros objetivos na vida.
É uma questão de começar
Comece!

sábado, 25 de julho de 2015

PADRÃO DE VIDA ≠ QUALIDADE DE VIDA

A GROSSO MODO, O PADRÃO DE VIDA NOS DIZ O QUE POSSUÍMOS NA VIDA, E A QUALIDADE DE VIDA NOS DIZ COMO VOCÊ SE SENTE NA VIDA.

Resultado de imagem para PADRÃO DE VIDA  ≠ QUALIDADE DE VIDA DESENHO

O que é alta qualidade de vida? 
É segurança contra fome e privações? Não. Mas a sensação de segurança contra fome e privações deve contar. É boa saúde? Não. Mas a sensação de estar bem de saúde deve contar. É estar frequentemente junto a bons amigos? Não. Mas a sensação de estar frequentemente junto a bons amigos deve contar. É ter dinheiro o bastante e uma boa renda? Não. Mas a sensação de ter dinheiro o bastante e uma boa renda deve contar. É ter acesso a arte? Não. Mas o prazer e uma apreciação positiva daquilo que se considera arte deve contar. É ter acesso a uma educação superior? Não. Mas a ausência de frustração e mágoa por não ter acesso a uma educação superior deve contar. Fadiga extrema? Não necessariamente. Se a vitória em algum esporte parece estar próxima, a fadiga extrema pode estar lá, mas não será sentida.
Duas pessoas podem estar exatamente em uma mesma situação lamentável, mas a qualidade de vida de ambas pode ser impressionantemente diferente.
O termo “qualidade de vida” está na moda, mas o conceito deve definir o mais consistentemente possível como alguém se sente, em vez de o que alguém tem ou o que alguém deve sentir, ou qual tipo de sentimentos podem ou devem ser esperados, e por aí vai.
De qualquer forma, é importante clarificar esse conceito  já que ainda não sabemos direito como aumentar a qualidade de vida (sabemos mexer no padrão de vida, e às vezes até chamamos isso de qualidade de vida).
Não sabemos o que nos faz verdadeiramente feliz, por que sofremos, quais dinâmicas profundas nos aprisionam e quais nos libertam para uma vida mais alegre, potente, com propósito e satisfação.
Eu suponho que exista um desejo sério nos países de criar condições gerais favoráveis à alta qualidade de vida. Portanto, há necessidade de saber o mais claramente possível o que causa um aumento na qualidade de vida, e não apenas no mero padrão de vida e progresso econômico. 
A qualidade de vida é mais importante para as suas vidas, e especialmente as dos seus filhos, do que mero alto padrão material. Uma das coisas que precisa ser feita é informar ao público que o diálogo sobre qualidade de vida não é mero bate-papo entre românticos e idealistas, mas sim assunto de pesquisas sérias.   
Eu não conheço pesquisas sobre isso sendo feitas atualmente, e se não nos interessarmos sobre esse assunto fica difícil agir e até cobrar ações que viabilizem a tão propagada e sonhada qualidade de vida. 
 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

SOMOS UMA MENTE E UM CORPO

O USO DE "CÉREBRO" EM VEZ DE "MENTE".


Resultado de imagem para CEREBRO E MENTE

Usamos o termo "cérebro" e "mente" normalmente com o mesmo sentido. Somos bombardeados por informações sobre o uso do cérebro que estimula esse engano.
Se o cérebro é esmagado, claro, morremos. Mas isso não significa que nossa mente é o cérebro. No cérebro não encontramos absolutamente nada do que experimentamos em primeira pessoa, nada do que constitui 100% do nosso mundo: cores, sons, significados, emoções, pessoas...
Por exemplo, se uma caixa de som está tocando uma música e alguém senta o martelo nela, a música cessa. Mas não faz sentido algum dizer que a música é a caixa de som. São fenômenos correlatos. 
A mente não é o cérebro; assim como a espada não é seu corte; ou que uma mão não é um soco. Ainda não sabemos como se dá a relação entre mente e cérebro nem entre matéria e consciência, o que constitui, a principal pergunta hoje nas ciências cognitivas.
Pensando no consumo exagerado de informações que me referi no texto anterior http://aautoimagem.blogspot.com.br/2015/07/tsunami-de-informacoes.html,  falando desse excesso de informação e de inteligência, se temos uma teoria da mente enganada vamos descrever os problemas de modo enganado e propor soluções enganosas. E isso ainda não nos diz nada porque sequer temos a sensação de ter um cérebro, entende? Se a gente não tem isso em primeira pessoa, qualquer texto que fale em cérebro está falando de algo abstrato, fora de nossa experiência imediata em primeira pessoa, que é a de ser uma mente e um corpo.
Num contexto científico, isso é ótimo.  Mas nesse contexto para mim é um problema porque o foco é na mente. É a mente que enfrenta esse problema descrito no texto.
Se pensamos em "consumo de informação", isso não exatamente corresponde ao modo como construímos cada fenômeno, como a percepção se dá. Métodos em primeira pessoa para ganharmos clareza sobre como a mente funciona, um estudo rigoroso disso e uma teoria da mente mais precisa, isso sim talvez nos ajude!



quinta-feira, 23 de julho de 2015

TSUNAMI DE INFORMAÇÕES

MENOS É MAIS!


"Para mim, o cérebro humano, em sua origem, é como um sótão vazio que você pode encher com os móveis que quiser. 
Um tolo
vai entulhá-lo com todo tipo de coisa que for encontrando pelo caminho, de tal
forma que o conhecimento que poderia ser-lhe útil ficará soterrado ou, na
melhor das hipóteses, tão misturado a outras coisas que não conseguirá
encontrá-lo quando necessitar dele.
O especialista,
ao contrário, é muito cuidadoso com aquilo que coloca em seu sótão cerebral. Guardará apenas as
ferramentas de que necessita para seu trabalho, mas dessas terá um grande
sortimento mantido na mais perfeita ordem.
É um engano pensar que o quartinho tem paredes elásticas que podem ser estendidas à vontade. Chega a hora em que, a cada acréscimo de conhecimento, você esquece algo que já sabia.
É da maior importância, portanto, evitar que informações inúteis ocupem o
lugar daquelas que têm utilidade."
*Do livro Um estudo em vermelho

E, afinal, o que é uma notícia “importante”? Pra que serve um jornal? A Folha ostenta lá no topo que está “a serviço do Brasil”. De que forma, exatamente? Volto à pergunta que Caetano Veloso fez há décadas, ao ver bancas repletas: “Quem lê tanta notícia?” E pra quê?
É difícil achar uma resposta fácil. Um jornal, justamente porque precisa agradar todo tipo de consumidor, cobre quase todos os assuntos, ao menos superficialmente. Então, o que a princípio é importante para mim, não é para você. Acho que podemos concordar também que há coisas que certamente não são “importantes” para qualquer pessoa, mas que rendem cliques, que é o que fazem os sites pagarem a conta com publicidade. Sem saber o que é “útil”, o que desperta interesse legítimo ou que simplesmente entretém a pessoa, o jornalão vai lá e metralha toda a munição que tem. Estamos acostumados a isso, mas há muita, muita coisa errada neste processo, fundamentalmente.
Por séculos a nossa sociedade endeusou a “informação” como um fim em si. Para mostrar seriedade, os políticos afirmam que leem três jornais assim que acordam – mesmo que a redundância represente tempo desperdiçado; nos vangloriamos de bibliotecas particulares repletas, mesmo que não tenhamos lido metade do que está na estante e continuamos comprando coisas novas; guardamos páginas nos favoritos para ler depois e nunca voltamos a elas.
Os canais de notícia garantem que nos deixarão “bem informados sobre tudo” e buscamos isso, ainda que, no fim do dia, não fique claro que diferença fez saber os resultados do campeonato francês ou os detalhes de uma nova enchente no Sudeste asiático.
Dá para dizer que você fica pior ao saber dessas coisas inúteis? 
Pensar melhor sobre o que consumimos de informação é, em última instância cuidar da nossa saúde física e mental. Temos mais o que fazer com nosso tempo e nossa massa cinzenta.
Ser inteligente hoje poderia então ser definido como ser seletivamente ignorante.
Mas por que é tão difícil? Por que damos tanta atenção a coisas que não temos qual poder ou influência? Não falo apenas de notícias de futebol, mas falo de coisas ditas relevantes mesmo. Ainda que você saiba tudo sobre o papel da Rússia na Criméia, o que fazer com toda essa informação? Será que entender os detalhes da prestação de contas do seu condomínio – que não sai em nenhum site de notícias – não seria mais importante?
O ideal, então, seria ter uma dieta de consumo de informação um pouco menos voltada para o entretenimento e socialização, e mais para o crescimento pessoal e da nossa comunidade. E, certamente, em menos quantidades. 
Mas será que chegamos nisso pensando e conversando com essa linguagem que fala em "dieta de consumo de informação"?
Ou para chegar nisso (algo realmente ideal!) talvez seja melhor entender que não existe informação lá fora para ser "consumida", que o que acontece em nossa mente é algo mais complexo e que podemos nos apropriar disso, retomar a atenção que deixamos na mão de publicidade, de impulsos, de entretenimentos... Se não consumimos informação, se a todo momento criamos mundos de sentido, como fazer isso de modo mais consciente?
“Ah, Rosane, mas esses portais tão cheios de porcaria!”, poderá dizer alguém, jogando a culpa na mídia – este que é o segundo maior esporte nacional.
Mas se a mídia em geral ataca nossos sentidos primários e tenta nos entupir de informação, somos cúmplices dando audiência. Sim, como público, nós não somos vítimas, somos cúmplices. Porque, e isso é importantíssimo deixar claro, nós temos o controle. 
Dá pra remar contra o Tsunami!

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A CULTURA DA TOLERÂNCIA

"DESODIAR"


Resultado de imagem para TOLERANCIA CULTURA

O termo "desodiar" não existe no nosso dicionário. E por tal omissão da língua, relegamos o ódio ao estado sólido, ao concreto, ao que não pode ser desfeito. O amor pode acabar (desamor); mas o ódio soa eterno.
A proposta é dissolver a tal eternidade do ódio (deixar de odiar", "desodiar").
Em prol da cultura da tolerância vou tentar clarear um pouco sobre os mecanismos que movem  nossas intolerâncias, isso pode ajudar a gente a desodiar.
Funciona mais ou menos assim: quanto mais sou forçado a aceitar o outro como igual a mim, tanto mais, num âmago que mal reprimo, eu o odeio e quero acabar com ele. Mas por que eu preferiria que o outro se mantivesse diferente de mim? Por que não quero reconhecê-lo como igual? A intolerância é mais que um preconceito, é uma reação emocional à presença do intolerável, num leque que vai do desconforto à ansiedade, ao medo e, por fim, à raiva e à agressão.
Do ponto de vista da psicanálise: Quando as nossas reações são excessivas, deslocadas e difíceis de serem justificadas é porque emanam de um conflito interno.
De forma simples, o que acontece é: Estou com dificuldades de identificar a causa da minha própria intolerância, então acho mais fácil tentar reprimir o outro, ou seja, condená-lo, persegui-lo e reprimi-lo, se possível até fisicamente, porque isso me ajuda a dar vazão a esse meu conflito interno mal resolvido.
Estou aqui propagando a cultura da tolerância, mas a tolerância é para os fortes. Para se tornar uma pessoa tolerante, é preciso rever alguns conceitos que são cultivados no interior da alma. Ou seja, é necessário admitir-se culpado. E ninguém gosta disso, infelizmente. Mas felizmente, fica aqui o meu convite a essa reflexão. 


terça-feira, 21 de julho de 2015

COMO TIRAR O MUNDO DE VOCÊ

...OLHAR SUA VIDA INTEIRA DE LONGE, MUITO LONGE, SUSPENDER POR UM MOMENTO SUA CRENÇAS, IDENTIDADES, HÁBITOS, VISÕES, EMOÇÕES, RELAÇÕES, TUDO O QUE CONSTITUI SUA REALIDADE.


Se apenas vamos ao pico de uma montanha, mesmo que sozinhos, levamos nós mesmos, nossas lembranças, identidades, tudo. Em vez de sair do mundo, apenas nos sentimos um outro alguém (um esportista, um desbravador, que seja). Não saímos de nós mesmos.
Para sair de verdade, o que funciona para mim é encontrar alguém sábio, que investigou com disciplina por um longo tempo as dinâmicas mais profundas da realidade, que sabe acessar uma posição tão elevada como a de Deus, se não seus próprios ensinamentos, que viveria acima das nuvens, olhando tudo e todos.
Com ele, não consigo vender meu peixe igual sempre faço quando conheço alguém ("Oi, eu sou assim, eu vejo a vida assim, o mundo é assim, la la la...").
Diante desse ser só me resta ouvir. Por dias. E como nada do que ouvirei será sobre o meu mundo (talvez só sobre o quanto meu mundo é pequeno e limitado e dispensável), enquanto estiver na posição de ouvinte, como aluno dedicado sem ficar alimentando comentários internos, estarei fora do meu mundo, respirando e olhando tudo também de cima das nuvens, mesmo que por apenas alguns tempo.
Do jeito que vejo, essa dinâmica não precisa de religião ou misticismo para existir. Ela pode tomar diversas formas.
Diria que, como SAIR DO MUNDO é mais um COMO TIRAR O MUNDO DE VOCÊ,  é muito difícil e exige disciplina. É ver o mundo sem ser o Espectador ou o Ator, apenas observando e compreendendo.
Procurar olhar sua vida inteira de longe, muito longe, ter um respiro no qual você suspende suas crenças, identidades, hábitos, visões, emoções, relações, tudo o que constitui sua realidade.
Quando ouço verdadeiramente uma pessoa ou quando me ponho a apreender algo, tenho essa sensação de me anular e sair de mim, como se eu fosse um copo vazio, para ser capaz de absorver esse outro mundo ou olhar (uma escuta psicológica requer essa posição do terapeuta). Quando me interesso de verdade pelo mundo do outro me esforço para ser capaz de me distanciar de mim mesma, de ver o mesmo horizonte a partir de outros olhos e de aprender coisas que somente minha mente viciada não é capaz de me ensinar. 
É estranho sair do mundo, como no clipe do matrix, quando você menos esperar, terá aquela sensação de estar em um universo paralelo, mas ao pensar em refletir certamente você voltará ao caos do dia a dia novamente, ouvindo alguma buzina ou um celular.  É um exercício de Off/On  interessante.


segunda-feira, 20 de julho de 2015

A QUESTÃO DO DINHEIRO

QUAL O VERDADEIRO VALOR DO DINHEIRO?

Resultado de imagem para valor do dinheiro no tempo desenho
Por mais contra-intuitivo que possa parecer, dinheiro não é exatamente nossa moeda corrente. Estamos o tempo todo negociando tempo. Nosso salário é o que recebemos por vender nosso tempo para uma empresa. Quando contratamos um serviço, estamos pagando o tempo de outra pessoa, para poupar o nosso. Quando escolho um táxi ao invés do ônibus, pago mais caro para chegar mais rápido. Existem, obviamente, outros fatores no meio dessas relações mas, no geral, estamos apenas trocando dinheiro por tempo, seja nosso ou dos outros.
Não estou dizendo que dinheiro não tem importância, mas a máxima abaixo é verdadeira:
Mais dinheiro nem sempre significa mais felicidade.
Todo mundo já se deparou com um possível valor salarial e pensou “se eu ganhasse tudo isso seria tão bom, resolveria todos os meus problemas”. Mas quando passou a receber tal quantia, não foi bem o que aconteceu. 
De forma ampla, existe um ponto salarial em que ainda sentimos essa diferença, que ganhar mais significa ter mais dignidade e acesso aos meios e ferramentas que facilitam e melhoram a vida. Depois desse ponto específico, essa relação não cresce como antes. 
O aumento do salário não trará uma sensação maior de felicidade. 
Este é o momento em que razões mudam e ter mais tempo passa a significar mais qualidade de vida.
É preciso certo sangue frio para encarar a situação e pensar com clareza, entender se é mesmo mais dinheiro que precisamos naquele momento. Pode parecer estranho, mas trocar o aumento tão esperado por uma hora a menos de trabalho, poder entrar mais tarde ou sair mais cedo, talvez traga mais satisfação do que uma razoável quantia de dinheiro.
Com uma hora extra você pode dormir melhor, acordar de bom humor e se arrumar com mais calma. Só essa calma que o horário mais estendido adiciona já é refletida diretamente no resto do dia. Dá pra fazer academia, pegar menos trânsito, cortar o cabelo, se maquiar com calma, aprender um idioma novo, brincar com o filho e pegar um pouco de sol caminhando no parque, sei lá.
Mas como virar a mesa?
Nossa relação com o dinheiro e sua importância está tão enraizada em nossa cultura que acaba atrapalhando nossa percepção do que realmente estamos buscando. No meio do furacão, deixamos de lado nossa racionalidade, nos afundamos no trabalho para ganhar cada vez mais. Queremos uma casa maior, um carro melhor, um smartphone mais novo. Trocamos todo nosso tempo por coisas que custam muito mais caro do que apenas o dinheiro que pagamos nelas.
Falo aqui exclusivamente da nossa relação trabalhar mais como forma de ganhar mais dinheiro, e da possibilidade de trocar um possível aumento por uma hora a menos de trabalho por dia, mas não precisamos nos limitar a isso. Podemos sempre olhar a nossa volta e pensar em como fazer esse cambio entre dinheiro e bem estar.
Quando apontamos nossa mira para o dinheiro, todo o resto se torna um meio de ganhar cada vez mais, num ciclo infinito. Se mudarmos o foco para o bem estar, dinheiro passa a ser apenas uma peça que nos facilita até determinado ponto, não fazendo mais muito sentido sacrificar coisas tão mais valiosas apenas para faturar um pouco mais.
Sei perfeitamente que a percepção do que é importante pra gente vai mudando com o avançar da idade, à medida que descobrimos quais são as coisas que nos fazem mais felizes. 
É muito difícil, quando se é jovem, entender que o dinheiro não é mais importante que o tempo que se perde pra ganhá-lo. E talvez  realmente não adianta chegar pra alguém de 20 e poucos anos e falar isso, porque para aquele jovem o que importa naquele momento é diferente do que importa pra alguém que passou dos 40, por exemplo, mas é o que a pessoa sente naquele momento da vida dela.  Com o passar dos anos vai observar pessoas que se afundaram nessa busca desenfreada por dinheiro e tiveram a saúde destruída pelo estresse. E se conscientizará que é preciso estabelecer um equilíbrio racional para cruzar a linha da saúde e do bem estar geral.
Pra quem não tem essa consciência, a sensação de que o dinheiro nunca é suficiente parece ser cada vez mais presente sempre. 
Quer ver? Converse com pessoas que ganham muito bem e pessoas que ganham pouco e pergunte como está o dinheiro, ambos dirão que está faltando e que seria bom ter mais. A óbvia diferença é que quem ganha mais possui mais coisas, mas no geral, não significa que vive mais feliz.
Ando evitando adiar experiências também, sabe como é, nunca sabemos quando nossa vez de deixar esse mundo vai chegar.
E você? Quais formas pode utilizar para sair da urgência de ter cada vez mais dinheiro e começar a viver com mais leveza?
Vale muito a pena!


domingo, 19 de julho de 2015

A QUESTÃO DO MAL

O MAL NÃO É UMA CONDIÇÃO PERMANENTE, EXISTENCIAL, METAFÍSICA. O MAL É UM COMPORTAMENTO.


O mal existe apenas como um comportamento humano. O mal é um contínuo de ações no qual podemos nos mover de um extremo a outro e, até mesmo, sair.
O mal é a falta de identificação. O mal são os olhos cegos e os ouvidos surdos. O mal é a desatenção e o egoísmo. O mal é aquilo que sinceramente não te ocorre, que realmente não enxergou, que jura que não ouviu, que não sabe como foi esquecer.
O que é um batedor de carteiras comparado ao honesto pai de família que não enxerga nada a sua volta? Que não vê sua esposa insatisfeita e desesperada, seus filhos confusos e autodestrutivos, seu amigo abrindo a garrafa de uísque cada vez mais cedo?
O mal é cruzar todo dia pelo seu porteiro com o braço engessado e nunca perguntar, nunca se preocupar, nunca nem reparar.
O mal não é ser dono de uma fazenda com duzentos empregados: o mal é ser contra uma nova estação do metrô porque vai destruir as arvorezinhas da sua praça e nunca te ocorrer das centenas de milhares de trabalhadores que não têm carro, passam horas e horas em ônibus e terão suas vidas significativamente melhoradas por uma nova estação.
O mal é você relaxar do seu longo dia de trabalho curtindo um filme, depois de um belo jantar feito pela sua irmã, e nunca lhe passar pela cabeça que ela teve um dia igualmente longo de trabalho, ainda por cima fez o jantar e agora está sozinha tirando a mesa e lavando a louça, e ainda perdendo a chance de ver o filme!
Você se diz um distraído. Mas a “distração” que te faz esquecer não é o que te justifica, entende? É o que te condena!
Você não é uma pessoa boa que tem péssima memória e é muito distraída. Sua péssima memória e sua extrema distração são sintomas de seu profundo desinteresse por tudo que não diga respeito a você.
Duvido que esqueça os nomes dos vice-presidentes da empresa que vão decidir sua próxima promoção. Duvido que esqueça o endereço daquele cara por quem você se interessou. 
Você esquece é de lavar louça (“puxa, fiquei aqui distraído do filme, esqueci totalmente da louça, agora ela já lavou, amanhã ajudo!”). Você esquece é de assinar o livro dos porteiros (“putz, com essa correria de natal, nem lembrei, mas tudo bem, ano que vem dou em dobro!”).
É muito fácil nos absolvermos. Em nossa cabeça, somos sempre os protagonistas do filme da nossa vida. Tudo o que fazemos é sempre justificado.
Se dirigimos perigosamente e alguém nos xinga, ainda nos achamos no direito de ficar chateados ou revoltados:
“Poxa, ele não vê que estou com pressa? Respeito as leis do trânsito todo dia, mas hoje tenho aquela reunião importantíssima!”
Não interessa o que seja: ou fizemos o certo (e o mundo tem que ver reconhecer e nos premiar, senão é muita injustiça) ou fizemos o errado, mas por um motivo totalmente válido (e o mundo tem que reconhecer e nos entender, senão é muita injustiça).
O que estou propondo é o oposto: qualquer comportamento seu que precise ser justificado ou racionalizado já está por definição errado.
Mais ainda: talvez você não seja uma pessoa boa.
Já pensou nisso?
O mal não é uma condição permanente, existencial, metafísica. O mal é um comportamento.
Então, basta começar a botar a mão na massa. Um dia de cada vez.


sábado, 18 de julho de 2015

A QUESTÃO DA LIBERDADE

AQUILO QUE SE QUER FAZER X AQUILO QUE SE DEVE FAZER # ACERTAR/ERRAR

Resultado de imagem para acertar errar
Sim, é inacreditável, mas, sim, existem métodos de enfim ter uma mente a nosso serviço, a serviço de ações que sejam saudáveis para nós e para os outros, ampliando nossa liberdade e a dos outros, a cada passo.
A questão da liberdade talvez esteja exatamente em não ser "carregado" por nenhuma destas duas tensões, nem da que "grita o que você realmente deveria fazer", nem da que "paga de consciência para não confrontar a família e sociedade em geral (parece ser mais você que se pressiona a atender a demanda dos outros, do que os outros que, de fato, te pressionam). 
Acho que o caminho proposto talvez esteja mais em silenciar estas vozes e perceber que no fim das contas dá no mesmo: qualquer curso é só um curso. Qualquer caminho leva a lugar nenhum e que, por si só, eles não mudam sua vida. Perceber que como você os usa e os vivencia é que talvez faça alguma diferença.
Se entregar a um ou ao outro, vai fazer aquilo que grita continuar gritando e aquilo que dita, continuar ditando.
A liberdade proposta talvez seja como aprender a andar: assim como percebemos com o tempo que não precisamos de apoio nem de colo por que nossas pernas já nos bastam, talvez depois de algum tempo tentando exercer escolhas com liberdade a gente também perceba que não precisa de grandes motivações pra continuar seguindo em frente na vida.
A gente não é um personagem só, construindo uma só narrativa de modo coerente e linear. Nós somos livres. Estamos aqui fazendo uma coisa, mas podemos estalar os dedos e do nada começar a fazer outra, sem nenhuma causalidade ou coerência. Nós podemos fazer isso.
Independente do que faça, não importa onde ou quando ou com quem, o que sugiro é que a gente se relacione bem com as pessoas, que cultive uma rede de parceiros que cuidam um dos outros, que a gente vá observando essa mente que culpa os outros e a vida por algo que é nossa responsabilidade. Observe como as pessoas mais velhas são igualmente confusas e aflitas, tenha curiosidade em relação a quais são suas habilidades e qualidades positivas, tenha curiosidade e se relacione com as qualidades positivas dos outros, ajude as pessoas na medida da sua capacidade, vá vendo se as coisas são sólidas mesmo ou se tudo é bem mais flexível e plástico do que parece, observe também como a gente tem medo de errar e como isso transforma tudo num jogo acertar/errar e como talvez seja melhor viver em vez de tentar acertar/errar, tente se aproximar de seres que admira, seres que manifestam grandes qualidades como destemor, visão ampla, generosidade, compaixão, sabedoria...
Enfim, tudo isso você consegue fazer em qualquer situação. E isso define a qualidade da nossa vida bem mais do que qual faculdade, trabalho ou relacionamento que a gente tá metido.
Seguimos, seguindo...


sexta-feira, 17 de julho de 2015

SER PESSOA

CONTRA OU A FAVOR DA MARÉ


Resultado de imagem para REMANDO CONTRA OU A FAVOR DA MARÉ DESENHO
Quando estamos remando a favor da corrente, descendo o rio, sendo tudo aquilo que a sociedade espera de nós, a viagem é tranquila e agradável, o mundo parece livre e florido, a vida não exige esforço algum.
Na vida, antes de mim, algumas amigas criadoras de caso reclamaram da correnteza, denunciaram que o rio é caudaloso e violento, mas  nem entendia direito o que queriam dizer:
“Gente, o rio é tão tranquilo, tão gostoso de navegar, será que não são vocês que estão vendo coisas?”
Um belo dia, entretanto, deixamos de ser uma ou mais daquelas coisas que a sociedade espera que sejamos. Pode ser um desvio pequeno ou grande, incidental ou existencial, pode ser uma decisão de momento, pode ser revelar ao mundo aquilo que você sempre foi: dizer-se ateu, decidir jamais casar-se , decidir não procriar, sair do armário.
De repente, a corrente não está mais nos levando para onde queremos ir: ela continua, como sempre, nos levando em direção a um emprego em tempo integral, mas agora queremos ser atrizes de teatro infantil. Para chegarmos ao nosso novo objetivo, para sermos quem queremos ser, teremos que remar contra a correnteza.
Nesse momento, quando enfiamos o remo na água para remar contra a corrente, é que percebemos tudo aquilo que não percebíamos antes: que aquele rio que parecia tão agradável e tranquilo na verdade é forte, caudaloso, intolerante.
Um rio que é tão violento quanto são violentas as margens estreitas que o limitam. A correnteza é forte, inapelável, constante: ela está sempre nos levando rumo ao padrão que a sociedade exige de nós, tentando nos transformar em pais e mães de família, trabalhadoras, consumidoras, monogâmicas, heterossexuais, conservadoras.
Ninguém é tão transgressora que não aceite grande parte dessas obrigatoriedades sociais: mesmo quando transgredimos algumas, acabamos aceitando a maioria das outras.
Somos todos, em diferentes graus, transgressores e conformistas.
Mas, se quisermos transgredir em qualquer coisa, teremos que remar contra a corrente.
Ser quem queremos ser é uma luta diária, um exercício de remar contra a corrente durante toda nossa vida; de parar e descansar e ser arrastada para trás e então remar tudo de novo; de manter o olho cravado em nosso objetivo, seja ele qual for; de recusar todas as coações e  seduções que surgirem ao longo do trajeto; de articular sempre quem somos e quem desejamos ser. E essa é a parte mais difícil, é um exercício de efetivamente sermos  pessoa.
Quem está remando contra a corrente precisa se autoafirmar: é necessário articularmos sempre o nosso objetivo — justamente para não nos desviarmos dele.