À LUZ DE UMA EXISTÊNCIA PÚBLICA
Com uma rápida pesquisa no YouTube você pode também descobrir uma nova geração de webcelebridades. São crianças que ganham dinheiro, abrem marcas, aparecem em eventos, posam em frente às câmeras.
Em destaque as famigeradas crianças do funk, o comportamento delas me traz as mesmas questões que nossa sociedade anda discutindo sobre a inserção das crianças no mundo sem limites da internet que sustenta a fama.
Colocamos a criança na internet e consideramos ela um ser pronto para ser moldado pelo interesse do mercado, da fama, do sucesso na internet. É justo? É correto expô-la deste jeito? Nesta sociedade em que consideramos a necessidade do acolhimento e da tutoria para que a criança cresça num ambiente saudável, será que estamos ensinando coisas boas ao ensiná-la a posar? Ao jogar sua imagem com coisas que ela não pode ainda nem sequer imaginar a dimensão que tem?
Alguns pais conseguem consumar esse antigo desejo de criar e educar extensões humanas do que são ou desejaram ser. É um jeito de ora idealizar a infância (tentando eternizá-la em suas próprias carnes), ora tratá-la com desprezo (acelerando e pulando etapas do desenvolvimento intelectual/emocional infantil, transformando crianças em imagens de si mesmos). Uma necessidade que alguns adultos infantilizados têm de tornarem seus filhos uma extensão - nem infantil, nem adulta - de si. Esse é um comportamento imaturo dos pais e penso que a diferença entre a criança e o adulto imaturo é o preço dos brinquedos.
Dependendo do grau desta imaturidade, um dos brinquedos pode ser o próprio filho.
No entanto, tal brincadeira terá como preço a subversão de uma infância necessária e até do futuro de uma vida.
De um lado, obriga-se o filho a mendigar no sinal de trânsito, subvertendo sua infância e futuro, por ignorância, pobreza e deseducação.
De outro, traveste-se o filho de adulto, também subvertendo sua infância e futuro pelos mesmíssimos motivos, com o agravante de, neste caso, a pobreza ser de espírito...
Não é justo colocar a criança num mundo de evidência cruel deste jeito. Mais do que associar marcas ao nome da criança, é cruel também estimular que ela entre e vença neste mundo ainda tão nova. Mas a ideia de ter fama, sucesso e um dinheiro garantido ali no seu filho parece muito tentadora e atravessa as brincadeiras infantis para se tornar um negócio rentável.
Pais e mães são não só grandes apoiadores dos fantoches das crianças na internet como são quem faz o canal. De tutores, apoiadores e pais para empresários, diretores, construtores daquele personagem que vai para o ar.
Quando é editado, produzido, montado e quando é feito para posar, para alguém ver, não é brincadeira.
Quando estimula compra, vaidade, imagem, pose: também não.
Não parte exclusivamente da criança nenhum comportamento prodígio frente às câmeras. Não parte dela alimentar seu canal no YouTube, clicar em "li e concordo com os termos de uso" do Facebook, do Instagram…
São os pais os responsáveis pelo conteúdo, pelo freio e por dar condições emocionais para que esta criança se desenvolva.
Fique esperto: criança na internet pode não ser tão gracioso quanto parece.
Fique esperto: criança na internet pode não ser tão gracioso quanto parece.
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