quinta-feira, 23 de julho de 2015

TSUNAMI DE INFORMAÇÕES

MENOS É MAIS!


"Para mim, o cérebro humano, em sua origem, é como um sótão vazio que você pode encher com os móveis que quiser. 
Um tolo
vai entulhá-lo com todo tipo de coisa que for encontrando pelo caminho, de tal
forma que o conhecimento que poderia ser-lhe útil ficará soterrado ou, na
melhor das hipóteses, tão misturado a outras coisas que não conseguirá
encontrá-lo quando necessitar dele.
O especialista,
ao contrário, é muito cuidadoso com aquilo que coloca em seu sótão cerebral. Guardará apenas as
ferramentas de que necessita para seu trabalho, mas dessas terá um grande
sortimento mantido na mais perfeita ordem.
É um engano pensar que o quartinho tem paredes elásticas que podem ser estendidas à vontade. Chega a hora em que, a cada acréscimo de conhecimento, você esquece algo que já sabia.
É da maior importância, portanto, evitar que informações inúteis ocupem o
lugar daquelas que têm utilidade."
*Do livro Um estudo em vermelho

E, afinal, o que é uma notícia “importante”? Pra que serve um jornal? A Folha ostenta lá no topo que está “a serviço do Brasil”. De que forma, exatamente? Volto à pergunta que Caetano Veloso fez há décadas, ao ver bancas repletas: “Quem lê tanta notícia?” E pra quê?
É difícil achar uma resposta fácil. Um jornal, justamente porque precisa agradar todo tipo de consumidor, cobre quase todos os assuntos, ao menos superficialmente. Então, o que a princípio é importante para mim, não é para você. Acho que podemos concordar também que há coisas que certamente não são “importantes” para qualquer pessoa, mas que rendem cliques, que é o que fazem os sites pagarem a conta com publicidade. Sem saber o que é “útil”, o que desperta interesse legítimo ou que simplesmente entretém a pessoa, o jornalão vai lá e metralha toda a munição que tem. Estamos acostumados a isso, mas há muita, muita coisa errada neste processo, fundamentalmente.
Por séculos a nossa sociedade endeusou a “informação” como um fim em si. Para mostrar seriedade, os políticos afirmam que leem três jornais assim que acordam – mesmo que a redundância represente tempo desperdiçado; nos vangloriamos de bibliotecas particulares repletas, mesmo que não tenhamos lido metade do que está na estante e continuamos comprando coisas novas; guardamos páginas nos favoritos para ler depois e nunca voltamos a elas.
Os canais de notícia garantem que nos deixarão “bem informados sobre tudo” e buscamos isso, ainda que, no fim do dia, não fique claro que diferença fez saber os resultados do campeonato francês ou os detalhes de uma nova enchente no Sudeste asiático.
Dá para dizer que você fica pior ao saber dessas coisas inúteis? 
Pensar melhor sobre o que consumimos de informação é, em última instância cuidar da nossa saúde física e mental. Temos mais o que fazer com nosso tempo e nossa massa cinzenta.
Ser inteligente hoje poderia então ser definido como ser seletivamente ignorante.
Mas por que é tão difícil? Por que damos tanta atenção a coisas que não temos qual poder ou influência? Não falo apenas de notícias de futebol, mas falo de coisas ditas relevantes mesmo. Ainda que você saiba tudo sobre o papel da Rússia na Criméia, o que fazer com toda essa informação? Será que entender os detalhes da prestação de contas do seu condomínio – que não sai em nenhum site de notícias – não seria mais importante?
O ideal, então, seria ter uma dieta de consumo de informação um pouco menos voltada para o entretenimento e socialização, e mais para o crescimento pessoal e da nossa comunidade. E, certamente, em menos quantidades. 
Mas será que chegamos nisso pensando e conversando com essa linguagem que fala em "dieta de consumo de informação"?
Ou para chegar nisso (algo realmente ideal!) talvez seja melhor entender que não existe informação lá fora para ser "consumida", que o que acontece em nossa mente é algo mais complexo e que podemos nos apropriar disso, retomar a atenção que deixamos na mão de publicidade, de impulsos, de entretenimentos... Se não consumimos informação, se a todo momento criamos mundos de sentido, como fazer isso de modo mais consciente?
“Ah, Rosane, mas esses portais tão cheios de porcaria!”, poderá dizer alguém, jogando a culpa na mídia – este que é o segundo maior esporte nacional.
Mas se a mídia em geral ataca nossos sentidos primários e tenta nos entupir de informação, somos cúmplices dando audiência. Sim, como público, nós não somos vítimas, somos cúmplices. Porque, e isso é importantíssimo deixar claro, nós temos o controle. 
Dá pra remar contra o Tsunami!

Nenhum comentário:

Postar um comentário