UM OCEANO VIRTUAL DE CONTATOS...
"TER MUITOS AMIGOS É NÃO TER NENHUM"
Aristóteles
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O mundo é uma ilha. Uma ilha que recentemente chegou a 7 bilhões de habitantes. E todos eles estão ligados entre si por apenas seis graus de separação, conforme o experimento do psicólogo Stanley Milgram, pelos idos de 1960. Assim, podemos imaginar que estamos todos unidos.
Então por que tanta gente se sente só?
Eu tenho uma teoria: porque o sujeito abdicou de ser quem ele é para ser alguém mais "aceitável" ao mundo que quer conquistar. Ele se desfragmentou para, nos pedaços de carne e personalidade, encontrar algo que os outros vão julgar como uma qualidade positiva. Até mesmo o próprio homem se esquece de quem é.
Realidade comum: alguém com milhares de conexões no Facebook e ninguém com quem sair no fim de semana. Alguém tido como influência no Twitter porque só fala coisa interessante mas que não sabe conversar nem com o próprio vizinho. Não tendo como fazer amizades. Assim, amigos são raros, apesar de como as redes sociais atuam – ou melhor, de como nós atuamos nas redes sociais. Aristóteles, que nunca teve perfil no Facebook, já sabia disso:
"Ter muitos amigos é não ter nenhum."
Ter um milhão de amigos (como queria Roberto Carlos), colecioná-los, é o motivo da proliferação de redes sociais.
Hoje é tão engraçado! Qualquer um pode transmitir, a tantos amigos quantos forem, mensagem do tipo eu amo vocês com facilidade e sem constrangimentos. Afinal, não precisamos mais olhar nos olhos de ninguém e tampouco falar com nossa própria voz o quanto sua amizade é uma de nossas maiores alegrias neste mundo. Basta publicar no Facebook que amamos as centenas, talvez os milhares de amigos que estão adicionados em nosso perfil, e daí é só aguardar todas as curtidas que virão.
Mas também podemos utilizar apenas 32 caracteres e escrever, no Twitter, algo como “Eu amo todos vocês, meus amigos!”, e esperar os retuítes de todos os que nos seguem. Os mais criativos podem até segurar cartazes em fotos publicadas no Instagram ou no Tumblr.
Utilizarmos as redes sociais desse modo talvez seja uma maneira de nos afastarmos ainda mais de nossos amigos. Afinal, um dos subterfúgios para não expressarmos um sentimento é expressá-lo pelos meios errados.
Além disso, ninguém tem cinco mil amigos, sequer cinquenta. Temos cinco ou quatro amigos do peito, nossos verdadeiros irmãos camaradas. E eles estão lá, perdidos, misturados com outras centenas ou milhares de pessoas adicionadas em nossas redes sociais, como se as fibras de nosso coração estivessem diluídas em um oceano virtual de contatos, a grande maioria composta de pessoa que conhecemos apenas superficialmente.
Cutuca daí que eu compartilho daqui; curte isso que eu reblogueio aquilo; retuita assim que eu hashtagueio assado: não se tratam de ferramentas que mediocrizam as relações, mas sim de ferramentas que instrumentalizam as relações medíocres que já existem em um cotidiano no qual não encontramos muito tempo para confraternizar com nossos grandes e verdadeiros amigos.
Em meio ao limite máximo de cinco mil amigos que se pode adicionar no Facebook, as pessoas estão ficando cada vez mais sozinhos mas, pelo menos, “curtem” seu isolamento em grupo.
O que torna as redes sociais atraentes não é a facilidade de nos conectarmos aos outros, mas sim a facilidade de nos desconectarmos de qualquer um com apenas um clique. Terminar de um laço afetivo é difícil no mundo real, mas acabar com uma “amizade” no Facebook é fácil demais, e isso mina os laços humanos, já que a perda de um amigo é contabilizada como pouca coisa – afinal, no dia seguinte, adicionamos outros cem no Facebook.
Nada contra as redes sociais em si mesmas, nunca sabemos de onde pode surgir uma verdadeiro amigo.
O que não podemos fazer é permitir que as grandes amizades que surgem em nosso destino, mesmo que por meio do Facebook, acabem se perdendo na multidão de contatos que estabelecemos nas redes sociais. Essas amizades são nossa maior riqueza, ao lado de nosso marido e de nossos familiares: são para essas pessoas que você devotará seus últimos pensamentos, isso eu garanto. É ao lado desses amigos que sempre nos sentimos, não importa a idade, moleques junto a outros moleques, como se fôssemos um grupo de eternos meninos, cheios de entusiasmo perante a vida, explorando o mundo com olhos admirados e compartilhando cada descoberta. São eles que seguram nossa barra quando caímos, que celebram nossas vitórias como se fossem suas, e que nos dão a real quando ninguém tem coragem de nos dizer a verdade.
Quando estiver passando dessa para uma melhor, asseguro, você não se lembrará de seus bens materiais, tampouco de seus compromissos pessoais, e muito menos dos problemas que deixou pendentes. Você apenas pensará naqueles que ama, mesmo que não tenha coragem de dizer isso a eles.
Claro, talvez até nem precisemos dizer com palavras que amamos nossos amigos, até porque os homens tem um jeito próprio de demonstrar o que sentem, preferindo muito mais os gestos duradouros às frases prontas. O que é fundamental é expressarmos tal sentimento de um modo que esteja a altura de nossa amizade.
Há quanto tempo você não encontra seus amigos? Da últimas vez que os encontrou, você realmente ouviu o que eles tinham a dizer, as histórias que tinham para contar? Você realmente estava ali, presente, ao lado deles, ou estava pensando em futuros compromissos ou em preocupações cotidianas?
Quem escreve este texto é alguém que pensa o seguinte: se você não for cuidadoso, poderá um dia lastimar não ter aproveitado o tempo em que esteve ao lado de seus amigos para, com um aperto de mão, um abraço, uma gargalhada em comum ou mesmo um brinde, comemorar a grande amizade que os une feito irmãos.
Por isso, sugiro que você seja esperto e, ao invés de ver deixar que suas grandes amizades se diluam nas redes sociais, utilize as redes sociais para potencializar suas grandes amizades.
Então não perca mais tempo lendo esse texto, e convide, se possível, seus amigos para uma confraternização na vida real, em um bar, em um parque, enfim em qualquer lugar no qual vocês possam, do seu jeito, celebrar a jornada de contínuas descobertas que é a vida.
E faça isso como se deve fazer: faça agora, sem desculpas. Porque, como eu sempre digo, você não é eterno. É sempre bom lembrar!
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