quinta-feira, 16 de julho de 2015

A QUESTÃO DO CIÚME

VOCÊ SENTE CIÚMES ?



O ciúme parece já ter sido tombado como patrimônio histórico dos relacionamentos amorosos, como se fosse preciso aceitar que está lá e jamais vai embora. 
O que parece definir a ideia de bom ou ruim, nesse caso, é a sensação de posse. 
A nossa maneira latina de avaliar a qualidade de um relacionamento é observar se as partes envolvidas "se possuem". A métrica define que o ciúme seria um demarcador positivo. Se há sentimento territorialista, isso denotaria amor.
No entanto, a pressão sobre o parceiro à respeito do quanto ambos se amam é um terrível peso. Tensiona e por vezes leva ao fim prematuro do relacionamento.
A cada novo acontecimento o ciumento precisa checar: "você ainda está aí?", "ainda me ama?", "ainda acha que sou bom o suficiente?".
Isso pode parecer bonitinho quando a paixão está comendo solta, mas não quando se pretende levar uma vida juntos. Logo se torna exaustivo e infantil. É como se o ciúme quisesse garantir um lugar de exclusividade pela checagem – e não pela experiência mútua de contentamento.
O principal medo do ciumento é ser abandonado ou enganado, "fico em cima mesmo, não quero ser feito de trouxa". Esse medo obsessivo acaba criando uma relação competitiva com o resto do mundo e controladora com o(a) parceiro(a).
Precisamos entender que nisso, o ciúme se assemelha com vários quadros psiquiátricos. 
Não raro pessoas com esquizofrenia, transtorno de personalidade borderline, obsessivo-compulsivas ou apenas alcoolizadas manifestam essa paranoia ciumenta. 
Aliás, o componente principal do ciúme é justamente essa paranóia que desconfia do outro utilizando dados parciais e interpretações tortas da realidade para legitimar seu mal-estar. 
O ciumento nunca diz "eu sinto ciúme". É sempre "agindo desse jeito você me faz sentir ciúme". Tornando a causa do mal-estar exteriorizada, a pessoa não assume a responsabilidade devida pelo sentimento.
Outro ponto que complementa a paranóia é o sentimento de inferioridade que o ciumento chama delicadamente de insegurança.
Mas é diferente falar de insegurança em uma pessoa que poderia trabalhar para o FBI em matéria de esperteza. Se alguém consegue rastrear o outro e cruzar dados para confirmar sua tese de traição como chamar essa pessoa apenas de insegura? Ela se sente inferior e por isso perturbada em sua importância, claro. Entretanto, precisa ter bastante segurança para ir atrás de tantas provas e considerar tal ato razoável.
O ponto fraco do ciumento patológico costuma ser sentir, lá no fundo, que nada do que faça  é o bastante para "garantir" a relação. 
O sentimento é de menos valia e baixa "gostabilidade", como se qualquer pessoa fosse potencialmente mais atraente, bonita, inteligente, sexy ou interessante. 
O sentimento de importância pessoal, por exemplo, tende a ser construído na infância, ao sermos crianças estimadas e admiradas por nossos pais e familiares. E quem não cultivou isso ainda precisa fazê-lo na vida adulta. 
Como? Um caminho é pela auto-eficafica. Isso significa ter boas performances em diferentes áreas da vida para construir uma fortaleza interior que não seja abalada por uma comparação qualquer.
Por vezes o problema se dá no desejo do ciumento de ser amado incondicionalmente, quase como se não precisasse fazer esforço algum, apenas seguindo em sua passividade.
Potencializando a paranoia e o sentimento de inferioridade, o ciúme conta com a obsessividade para completar o bolo e garantir que "tudo" foi checado na mais fidedigna perfeição. 
O ciumento age como um agente secreto que investiga provas físicas ou emocionais, checando tudo que o outro fala, sente e se está onde diz que está. É nessa necessidade de controle, previsibilidade e imutabilidade que a pessoa se perde. Afinal, essa é uma aspiração digna de "Alice no país das maravilhas". 
Pois a vida é imprevisibilidade, mutabilidade, fluxo. 
O ciúme é a antítese do amor genuíno que precisa de espaço, liberdade e generosidade para florescer.
O ciumento age, em linhas gerais, de modo mesquinho. Contando os passos, os olhares, as alegrias da pessoa amada para na sequência roubar o sorriso no rosto com uma pergunta do tipo "está rindo para quem?". 
Certamente não é isso que garante uma resposta honesta ou uma alegria correspondente. Sem perceber, o ciumento faz murchar a flor que tanto diz idolatrar.
Diante de tudo isso o que fazer então?
Para iniciar um processo de superação do ciúme (que é possível, acreditem) é preciso revisitar seu modelo de amor e repaginar sua vida, sua visão de mundo e sua personalidade. Pois o ciúme não é apenas um problema amoroso, ele sinaliza como nos relacionamos com a própria felicidade em nossas vidas.

É preciso trabalhar em si a entrega, a potência pessoal e a capacidade de estar vulnerável diante do outro. E isso se treina, não é dom inato.
Podemos combater o ciúme com vários ações que não dependem da pessoa amada. O foco é interno, você olha com carinho para si mesmo, se levando menos a sério, parando de perseguir, controlar e criticar cada passo. 
É um treino pra vida. 
Ao deixar transbordar a sensação interna de contentamento em viver, o ciúme pouco a pouco perde espaço. Lentamente, as paranoias cedem, dando lugar a confiança; a inferioridade sai de cena para surgir então o empoderamento; por fim a obsessividade tende a enfraquecer, enquanto a fluidez ganha força.
Se você é um ciumento, repense sobre essa sua forma de amar e sobre o seu comportamento e treine para ter paz e equilibrar suas emoções. 


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