quinta-feira, 30 de junho de 2016

SOBRE NOSSOS DILEMAS

A DOR FUNDAMENTAL DE EXISTIR


Ao longo da vida enfrentamos situações difíceis, dilemas que nos colocam diante de confrontos quase impossíveis de resolver usando uma lógica simplista a respeito do que é certo e errado. Certas condições humanas podem ser certas e erradas simultaneamente e não existe uma resposta óbvia ou um caminho fácil.
A maioria das pessoas evita lidar com esses momentos à todo custo, pensando que ao evitar o que está debaixo dos pano faz com que elas simplesmente desapareçam. Deixar uma pessoa que um dia já amamos, desistir de um trabalho lucrativo, mas moralmente penoso, permitir que um filho lide com um momento difícil sozinho, enfrentar uma doença crônica ou fatal sem autopiedade, enfim, são muitas escolhas duras pela vida.
Ao contrário do pensamento comum ignorar um fato não o torna menos doloroso ou amargo, falsamente o remedia e de forma geral coloca fermento na questão. Problemas humanos não desaparecem sem ação, eles crescem, mofam, se incrementam, criam garras e quando notamos ele ficou ainda mais impregnado em nós. O efeito colateral de evitar uma dor, uma perda ou um destino difícil, é que sem perceber, nos desfiguramos e moldamos para ajeitar aquela dor que tenta ser evitada.
Inconscientemente vamos criando uma casca de proteção para conviver com o espinho cravado no peito. Para proteger essa dor de mais dor criamos outros problemas, nos afastamos dos outros, recusamos possibilidades concretas de saída e até magoamos quem quer ajudar. Uma camada de dor vai se sobrepondo a outra, até que em dado momento da vida já não lembramos mais quem fomos originalmente. Aquela criança  sem maldade com o passar dos anos, para se proteger de algum conflito moral antigo, acaba endurecendo, perdendo a confiança nas pessoas e agindo como se todos tivessem que pagar pelo mal secreto que carrega consigo.
Os resultados desse tipo de endurecimento podem ser vistos por todos os lados, é só procurar, repare. Pessoas incapazes de se relacionar intimamente com outras por que se fecharam numa mágoa quase irrevogável seja pelo pai que se ausentou ou a mãe que disse coisas terríveis. Quantas mães também carregam seus bloqueios e não conseguem se conectar com seus filhos por culpas secretas ou por lembrarem do namoradinho desaparecido que deixou um filho na rota de fuga.
Existem ainda os que fazem escolhas morais irreversíveis e, depois de cruzarem a linha do que consideravam certo ou legítimo, acabam agindo compulsivamente na mesma direção fúnebre, como quem compactua com à própria culpa e assume perpetuamente o papel de ovelha negra. Intimamente a pessoa não se sente merecedora de nenhum amor por ter prejudicado alguém.
Quanto sofrimento causamos e ainda vamos causar por conta dessa inconsciência interior, criando outros ciclos de culpa, tentativa de expiação e problemas sobrepostos?
Ao ouvir as pessoas relatarem os seus dilemas impossíveis, no fundo o que buscam é um tipo de cura para o que não tem cura. No fundo gostariam de apagar o fato de que seus desejos as levam para lugares prejudiciais e que na maioria das vezes, mesmo sabendo que caminham em direção ao precipício, não querem deter os próprios passos. Para alcançar o “prêmio” guardado machucam à si mesmas, crédulas que podem salvar seus corações da dor fundamental de existir.
O que ignoram é que mesmo obtendo o emprego dos sonhos, o amor de suas vidas, o dinheiro milionário ou todo conhecimento do mundo, ainda assim lidarão com escolhas difíceis. Não é possível seguir numa direção sem sacrificar algo no meio do caminho. O que desejam silenciar com buscas insaciáveis é que ao escolher uma rota a outra é dispensada e que não conseguimos incluir todos os nossos pertences prediletos.
Uma vez que o tempo passa os dilemas parecem se tornarem mais complexos e sem trégua. A velhice se aproxima, a morte ronda com mais força e as dores emocionais se tornam físicas. A ampulheta revela que não somos invencíveis. Descobrimos que mesmo com todos os esforços (e tentamos freneticamente) aquilo tudo no que apostamos com todas as forças terá um fim. Até mesmo o consolo espiritual que muitos buscam não cicatriza com facilidade o fato de que a vida como a conhecemos em algum momento deixa de existir.
O que resta então, parece ser esse sentimento inconveniente de finitude em que todos estamos no mesmo barco tentando nos distrair, criando mimos e pequenas aventuras e problemas. Tudo isso dá uma certa graça, mas ainda parece insuficiente.
Em algum momento diante das perguntas essenciais (e ignoradas) da vida o que nos conforta é que podemos contar uns com os outros. Nesses tropeços emocionais é onde trombamos no amor daqueles que nos resgatam o que há de melhor.


quarta-feira, 29 de junho de 2016

COMO A MUDANÇA SE PROCESSA EM NÓS

PARA MUDAR É PRECISO ESTAR CONSCIENTE DE SEUS PORQUÊS



Não é confortável mudar, para uns parece ser mais difícil que para outros, cada caso é um caso, contudo para todos é proveitoso conhecer como a mudança se processa para pode ter alguma chance de sucesso na empreitada.
Vamos direto ao assunto, primeiramente aceitamos a ideia da mudança que desejamos no nível mental. Racionalmente concluímos que é a atitude certa a tomar.
Esse período de “digestão mental varia para cada pessoa e algumas, porque a mudança não acontece, param por aí mesmo.
A mudança não acontece nesta fase porque ela não depende de raciocínio mental, não depende da razão. Por isso algumas técnicas utilizadas, como a PNL (programação neurolinguistica), tem resultados incompletos ou reversíveis.
Se você persistir em seu intento começa o segundo período ou fase – a “digestão emocional. Você começa a sentir alguns efeitos benéficos de suas tímidas mudanças ou alterações de comportamentos e atitudes e isso já o deixa feliz ou ao menos satisfeito.
Se parar por aí, está ferrado. Após algum tempo volta tudo à estaca zero.
Para a mudança se tornar definitiva você deverá entrar no terceiro período – a mudança de valores.
Aí é que “a porca torce o rabo” pois esta é a parte mais difícil, pois valores pessoais levam algum tempo para serem construídos e incorporados ao sistema de cada um, por isso eu disse que para você se manter firme no propósito da transformação  é preciso estar bem consciente de si, do que aquela mudança de visão acrescenta e representa na sua vida, do porquê da necessidade de mudar, enfim, é preciso estar bem à pá das necessidades que só você, aí dentro, sabe que tem. Só assim uma mudança pode, efetivamente, se processar em mim e em você. 


terça-feira, 28 de junho de 2016

POR QUE A "ZONA DE CONFORTO" É TÃO CONFORTÁVEL? # QUERO MUDAR!

PARA MUDAR É NECESSARIO ENTENDER OS BENEFÍCIOS DA "ZONA DE CONFORTO"



"Quero mudar, mas não consigo!"...
Esta é uma das frases mais ouvida em consultório de psicologia, ou então "Como é difícil mudar!!!!"....
Isso acontece primeiramente porque quase nunca entendemos, de cara, quando alguém nos diz: "Você deveria mudar!"
Onde estamos errados o suficientemente para saber que tem algo de diferente ali que atrapalha o outro ou a nós mesmos?
Segundo, que uma vez detectado o problema, não sabemos bem o que fazer para conseguir essa transformação de "dentro pra fora", quando o inverso é tão mais fácil, o do "fora pra dentro" porque já vem mastigado pela sociedade, pela vivência dos anos e dia-a-dia.
Terceiro, que se essa mudança tiver a ver com juízo de valores, acabou-se o mundo!
Como, mas, COMO transformar conceituações que nos arrebatam desde a tenra idade, quando chegamos na idade adulta?
E nem falo aqui de dogmas religiosos porque, aí, teria que abrir outro post! 
Realmente o ser humano está sempre almejando mudanças, mas paradoxalmente não gosta de mudanças.
Por quê? Porque a mudança pode ser vista como combate ao tédio, mas ao mesmo tempo significa o desconhecido. O terrível monstro de sete cabeças! 
Todos nós gostamos de viver dentro do que é chamado “zona de conforto”. Ah, e como é difícil sair dela! Ela é pegajosa nos retém e prende.
Na zona de conforto podemos estar num mau emprego, mas pelo menos estamos empregados (ufa, que alívio) ...
Podemos estar numa relação a dois conflituosa ou aborrecida, mas pelo menos não estamos sozinhos ...
Podemos sentir muita vontade de ter amigos, mas pelo menos não precisamos ter de ser simpáticos ou agradáveis quando não estamos com vontade (isto é o que achamos que é preciso para ter amigos) ...
Podemos odiar os quilos extras do nosso corpo, mas pelo menos não precisamos ir ao fundo da questão que é descobrir por que estamos gordos (o que realmente nos falta ou deixa infelizes) ...
Podemos nos sentir magoados porque os outros nos rejeitam por sermos teimosos, agressivos ou falsos, mas pelo menos não precisamos nos auto-analisar (sabe-se lá quantos monstros e melecas podem sair daí) ...
Enfim, já deu para entender os benefícios da zona de conforto, não é?
Não é fácil mudar e nem se consegue de um dia para o outro, mas se existir uma forte motivação para a mudança, vá em frente. É preciso estar consciente e mais um tijolinho por dia, até alcançarmos nossos ideais de mudança verdadeira, pois vale a pena. É preciso entender como a mudança se processa, escreverei sobre isso no próximo post. 
A mudança mais lenta e necessária, é aquela que a gente faz, mesmo sem sair do lugar. Fundamentada em nossos processos psíquicos eu diria que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. 


segunda-feira, 27 de junho de 2016

A IGNORÂNCIA DE SI É A MAIS PERIGOSA DAS ENFERMIDADES E A ORIGEM DE TODAS AS OUTRAS

QUEM NÃO SE CONHECE...

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Decifra-me ou devoro-te, segundo reza a lenda do enigma da Esfinge esta era a frase que a mesma proferia a todo viajante que dela se aproximava. Já li mais de um significado ou explicação sobre a mesma, mas vou colocar aqui uma “ateniana” que se adequa ao propósito deste post.
Vamos transportar a frase para qualquer ser humano.
“Decifra-me ou devoro-te homem/mulher, eu sou teu eu interior. Teu verdadeiro eu. Sou teu subconsciente e inconsciente, teus sonhos e devaneios, tuas dúvidas e perplexidades, tuas crenças e valores, teus defeitos e qualidades, amores e ódios, desejos e aversões, fragilidades e fortalezas. Se não me decifrares não crescerei em consciência, não evoluirei como ser porque o autoconhecimento é o primeiro passo e eu te devorarei ao transformar-te de ser humano livre e autônomo em mero joguete das Parcas, mera folha ao vento do destino.”
Quem não se conhece será sempre refém de suas emoções, de suas desconhecidas crenças limitantes e de suas percepções distorcidas.
Quem não se conhece diz A quando queria ter dito B. Tira conclusões equivocadas sobre si e sobre os outros já que é comandado pelas crenças que tem e desconhece que as têm.
Quem não se conhece tem maior chance de fazer escolhas não benéficas para si mesmo e depois fica culpando fulano ou beltrana ou a má sorte.
Quem não se conhece terá mais chance de insucesso em seus relacionamentos, pois poderá ser manipulado pelo outro, poderá ficar carente de argumentos válidos numa discussão crucial, poderá ter sua auto-estima abalada por comentários equivocados ou maldosos do outro, etc.
Quem não se conhece mais facilmente entra em conflito com os demais.
Quem não se conhece se auto-engana a maior parte do tempo e disso podem vir conseqüências desastrosas tanto na vida pessoal quanto profissional.
Quem não se conhece pode ter uma vida ralada, medíocre e se achar o “rei/rainha do pedaço” ou, ao contrário, ser uma pessoa excepcional e se considerar um lixo.
Quem não se conhece pode ficar marcando passo, estagnado em alguma situação onde não vê saída porque desconhece o próprio potencial ou, ao contrário, pode dar o passo maior que a perna porque desconhece suas limitações.
Há muitos que não querem se conhecer. A estes eu digo: melhor não ser covarde!
Sim, porque autoconhecimento demanda coragem para vasculhar ou literalmente mergulhar em seu lado escuro: suas limitações, seus medos, seu lado desonesto, seu viés cruel, sua agressividade, sua raiva, sua covardia, enfim tudo aquilo que o ser humano apresenta como características bem humanas, mas que a sociedade e as religiões condenam.
Todos nós temos esse lado sombrio, ninguém escapa. Em alguns o lado sombrio é bem maior que o luminoso, mas na média da humanidade não o é. Ninguém é perfeito, ninguém é 100% “bonzinho”. Vocês sabem!
Então não tenha medo de mergulhar no seu lado sombrio, só te faço uma advertência: ao se aprofundar no seu lado sombrio, jamais, jamais se julgue ou condene. Não é dito que Deus nos aceita e ama como somos? Então faça como Ele.
Quem não se conhece não pode se amar de verdade, pois só após conhecer cada canto obscuro seu, só após chegar ao âmago de sua menos valia, será capaz de começar a dar valor a todo o brilho que tem a despeito de todo o obscuro que em si encontrou. Irá conscientizar que isso tudo que é - é simplesmente ser humano. Nem pior nem melhor que todos os demais. Somente diferente em sua individualidade.


sexta-feira, 24 de junho de 2016

A CRÍTICA TEM POTENCIAL PARA TRANSFORMAR

A CRÍTICA PODE SER VISTA COMO UM CONVITE À REFLEXÃO


Existem três lados de observação de nós mesmos: quem pensamos ser; quem os outros pensam que somos; e por fim, quem realmente somos. Este último imagino como sendo um enigma a ser desvendado do tipo "Decifra- me ou devoro-te"
Quando ocorre uma crítica direcionada a nós, acaba sendo uma proposta de desconstrução de quem pensamos ser. A partir daí, temos duas opções - nos reavaliar ou não.
Em geral, tentamos manter certa coerência interna, um alinhamento com uma narrativa que viemos construindo ao longo da vida. Por exemplo, se fomos bebês saudáveis e fortes, queremos seguir contando essa historinha a vida inteira, 
Quando surge uma crítica a reação automática é se voltar contra quem chamou atenção nessa direção.
Mas não precisa ser assim.
Críticas podem ser vistas como um convite à reflexão, com o potencial de implodir um comportamento que lá no fundo nós mesmos já notamos ser danoso - mas que desistimos de transformar.
Quando vemos um filme do 007 vemos ele dirigir alucinadamente por uma cidade inteira, achamos lindo, mas quando é preciso ter a mesma agilidade para mudar de rota em nossas vida, estacionamos o carro sem arredar o pé.
A mudança parece nos aborrecer como se denunciasse alguma fraqueza, incoerência ou comportamento volúvel.
Há uma confusão gigantesca que fazemos ao longo da vida que é misturar nossas opiniões e gostos com aquilo que somos.
Na prateleira de nossas predileções já tivemos coisas das quais hoje até nos envergonharíamos, mas à época eram tão nossas e tão certas que mostrávamos com orgulho.
Gosto de checar meus antigos textos ou comentários espalhados pela internet e ver como a minha forma de enxergar o mundo foi se tornando mais acolhedora, menos certa de si e nem por isso menos efetiva.
Assim como meu "eu" passado foi diluído no atual, meu "eu" atual tem seus dias contados. Perder algo no que se acredita não é perder a si mesmo.
Na prática, isso quer dizer que frases imperativas poderiam dar lugar a outras como "me parece que", "o que eu consigo alcançar por enquanto é isso", "tudo indica agora esse caminho", simplesmente para nos fazer lembrar que não há nenhum jogo ganho. 
Em última instância, podemos mudar sem nos sentir contraditórios, hipócritas ou traidores das nossas convicções.
Quanto mais realistas e compassivos formos com a nossa mortalidade e falibilidade, mais flexíveis seremos. Afinal, nas raias da insanidade até um abraço apertado pode soar como crítica.


quinta-feira, 23 de junho de 2016

RINDO A TOA

NA ALEGRIA DAS PEQUENAS COISAS


Vivemos uma rotina de problemas a serem resolvidos e não aproveitamos os poucos instantes de felicidade. 
Desde a adolescência eu já me questionava sobre as coisas da vida; eu sempre tive a impressão de que as pessoas correm muito, lutam e se esbagaçam para tentar atingir um objetivo maior, um estado pleno de felicidade, um "prêmio master", e eu me vi nessa luta também durante alguns anos, mas acontece que comecei a me tocar que isso de ser recompensado grandiosamente no fim de tudo não existe, e o pior é que isso vira uma das grandes responsáveis pela frustração das pessoas.   Como se a vida tivesse que ser uma série de sacrifícios que um dia serão recompensados... Como se a vida fosse uma eterna busca... É mais ou menos assim que eu percebo a maioria das pessoas vivendo:  com pressa pra nada... como cachorro correndo atrás do próprio rabo.
Às vezes fico pensando... para onde eles pensam que vão?!
Eu pessoalmente gosto da ideia de ser feliz todo dia, na alegria das pequenas coisas: não estou dizendo que resolvi dar a volta ao mundo, pular de paraquedas ou coisa que o valha, pra ser sincero, a minha vida é o que senso comum poderia chamar de "sem graça". Mas tá bom assim! me livrei de toda e qualquer ansiedade, estou em paz.
Quem me conhece sabe que tenho mania de rir o tempo todo, tem gente que se diverte com isso, tem gente que se irrita... alguns, secretamente, confundem isso com um Q de loucura... Descobri que os loucos se divertem mais kkkkkkkk.  


quarta-feira, 22 de junho de 2016

A IDEIA DE MERECIMENTO

" EU MEREÇO! "


As vezes correndo por aí, em meio a um dia absolutamente perfeito, eu suspiro feliz:
"Eu mereço esse dia tão lindo e tão incrível, eu mereço uma felicidade dessa!"
Mas o que seria isso de "merecer"? merecer como? merecer por quê? como alguém faria para merecer essa felicidade? o que faria alguém des-merecer?
Achar que não merecemos ser felizes é péssimo, mas achar que merecemos é quase tão ruim quanto, porque ainda estamos presas na mesma falsa divisão de conceito, para o bem ou para o mal.
Afinal, se eu mereço esse dia tão perfeito é porque existe gente que não merece. Quem são essas pessoas? O que fizeram?
Ou, pior, se tem gente que merece um dia perfeito também tem gente que merece um dia trágico: minha amiga Deborah mereceu o dia em que foi atropelada, enquanto corria por aí, e quase perdeu as pernas? as pessoas pobres mereceram ser pobres? as pessoas com câncer mereceram seu câncer?
Temos dias bons e ruins. Pensando bem, merecimento não entra na questão.
O universo me dá uma mão de cartas e me questionar se mereci ou não essas cartas não me ajuda em nada a fazer o melhor jogo possível com elas, pelo contrário, na pior das hipóteses, se acho que não mereço, fico insegura, com baixa auto-estima, paralisada; na melhor das hipóteses, se acho que mereço, fico arrogante, complacente, paralisada e isso não me coloca nem um passo mais perto de aprender a lidar melhor com as circunstâncias da minha vida, sejam elas positivas ou negativas.
Cada vez mais, chego à conclusão que essa ideia de "merecimento" é por si só fatalista e competitiva.
Tô achando melhor abandonar esse conceito.

terça-feira, 21 de junho de 2016

TEMOS LIVRE ARBÍTRIO MAS SOMOS REFÉNS

A LIBERDADE SURGE DA CONSCIÊNCIA


Eis a ilusão do cata-vento! Também ele se sente livre, girando no seu eixo para a direita e para a esquerda… em função das circunstâncias.
Mas será o cata-vento assim tão livre? Pura ilusão! O cata-vento não vai para onde quer. O cata-vento vai para onde o vento (circunstâncias externas) o leva, limitando-se a girar para a esquerda ou para a direita.

Livre-arbítrio não tem NADA a ver com liberdade. O nosso caso é um belo exemplo: temos livre arbítrio mas somos reféns, internamente, dos nossos impulsos e externamente do nosso adestramento social, ou seja, no fundo no fundo não temos tanta liberdade assim. Sabemos que acordar cedo e comer menos doce é bom, mas não fazemos. Sabemos que fumar faz mal, mas é difícil parar. E por ai vai...
Você diz que é livre – Livre de sentir amor ou raiva em função das circunstâncias… Você é que decide, em função das circunstâncias… Amas ou odeias, em função das circunstâncias...
“Ah.. mas eu só senti raiva porque não me controlei" Será? Será que teria condições de se controlar se quisesse? Acaso alguém se sente bem (psicologicamente e até fisicamente) quando está enraivecido??? Acaso alguém se sente feliz quando está enraivecido??? Acaso os efeitos da raiva são benéficos para ti ou para alguém por natureza??? Então, é isso mesmo, você sente raiva porque não consegue exercer o teu legítimo direito de alternativa! Apenas isso.
O ser humano parece não sentir o que quer, mas sim o que é definido pelas condições que o rodeiam, reagindo normalmente aos fenómenos de forma automática, num misto de ligeira consciência e instinto, onde este último ocupa lugar predominante. Parece exercer apenas os movimentos que lhe são permitidos pela sua mente: ou gosta, ou não gosta… e manifesta-se em conformidade com essas impressões.
Livre arbítrio, ou liberdade, só se podem caracterizar como tal quando deixamos de ser reativos e passamos a ser proativos, definindo nós mesmos o que fazer com os impulsos básicos que sentimos.
Liberdade é poder optar conscientemente por ser compassivo perante qualquer situação externa que deixaria todos os outros instintivamente irados.
Liberdade é poder optar conscientemente por ser feliz, independentemente de toda e qualquer condição exterior, ter ou não ter, ser ou não ser isto ou aquilo.
Liberdade não é girar sobre o próprio eixo sem ir a lugar algum, como o cata-vento, mas sim voar como um pássaro, contra ou a favor do vento, aproveitando o melhor que cada brisa tem para chegarmos ao nosso objetivo.
A liberdade surge da CONSCIÊNCIA 
A liberdade surge quando podemos voar num universo bem maior que o nosso mundinho pessoal do costume.


segunda-feira, 20 de junho de 2016

VIVA COM AUTONOMIA

ENCONTRE SEU EIXO


Considerando que tudo em nossas vidas são relacionamentos, acredito que o que vale para um, se aplica a todos. Parece que estamos sempre procurando preencher nossas vidas, seja com um relacionamento que nos passe segurança e conforto ou com planos de carreira bem elaborados, entre outras coisas. Na menor possibilidade de fracasso, tentamos controlar tudo, se entender. Daí a necessidade das "Coisas Bem Resolvidas". Quando tudo vai por água a baixo parece que somos obrigados a construir novas ou melhorar as nossas bases já existentes. Mas por que deixar chegar lá?   O distanciamento em excesso pode nos causar dor, e muita! O que nos faz percorrer esse caminho e até mesmo esquecermos porquê o escolhemos? Me parece interessante viver sem a preocupação excessiva de qual caminho é o melhor ou o ideal, já que amanhã tudo pode ser diferente. O importante é sempre lembrar da onde eu vim, pra onde eu vou, do que sou feito. Considerando isso, qualquer cenário que eu esteja vivendo será uma escola cheia de lições a serem aprendidas. 
Sabemos que, não existe manual para encontrarmos nosso eixo, apenas  questões e possibilidades de "resolução". 
Para somar, queria alertar que os relacionamentos são para serem olhados de modo bastante abrangente, em todas as direções, não só com homens  e não só com pessoas. É mais um lance de como nos relacionamos, ponto, não importa com o que ou com quem.
As dinâmicas das relações dizem respeito a que mente e que corpo cultivamos. O apego, a carência, a ansiedade, a checagem, a necessidade de mimo e conforto, tudo isso surge não importa se com um videogame, com uma ideia, com um lugar, com um objeto, com uma pessoa, com identidades nossas, enfim, não importa.
Viver com autonomia é o melhor modo de lidar com um relacionamento que vai mal. E com um que vai bem. E com a relação que começa, a que acaba, a que recomeça, à da solidão...

sexta-feira, 17 de junho de 2016

PARTIU RUBÉN AGUIRRE, NOSSO ETERNO PROFESSOR GIRAFALES

HOMENAGEANDO MAIS UM PERSONAGEM DO ETERNO "CHAVES" #   RUBÉN AGUIRRE (1934 ~ 2016)  O PROFESSOR GIRAFALES


Que milagre o Senhor por aqui!

- Dona Florinda!
- Prof. Girafales!
- Que milagre o Senhor por aqui!
-vim te trazer esse humilde presente..
-oh, mas o senhor não gostaria de entrar pra tomar uma xícara de cafe.? 
-não seria muito incomodo...? 
Claro que não, mas entre.. 
-Depois da senhora.....

Queria homenagear o ator mexicano Rubén Aguirre Fuentes, partiu hoje, meu admirável e eterno professor Girafales, o mestre Linguiça. Ele é um professor, fica nervoso principalmente quando chamado pelo seu apelido e também é apaixonado por D. Florinda, a mãe do kiko.
É como se ele fosse um amigo de muitos anos. Comecei a assistir o seriado do Chaves desde a minha adolescência, me tornei adulta, mãe, avó e continuei amando e rindo das mesmas piadas, dos repetidos episódios, na qual o ator foi mais um dos integrantes que abrilhantou o seriado. Nunca me cansei de ver, mas acho que boas histórias são assim: atemporais. Você assiste, assiste, e não enjoa.
Era meu programa predileto na adolescência, adorava chegar da rua, ligar a tv e assistir aquelas estorinhas totalmente despretensiosas, de humor tão simples, um humor sincero que parecia vir do coração, ingênuo.  E essa memória afetiva me faz sentir assim, cada vez que um deles se vai. 
O amor é eterno quando é puro e regado por valores bons. Não estou falando dos personagens, mas o amor desses simples atores pelo que faziam em cena. Sem palavrões, bundas, piadas de mal gosto, etc. É por isso que eles cativam tantas gerações enquanto outros não duram nada.
Meu aplauso eternecido ao homem que deu vida ao querido professor Girafales! Nossa sorte é que ele, assim como o Chavinho do 8, nunca morrerão. São imortais em seus admiráveis personagens.


Um dos maiores romances da ficção...
Cantata do professor apaixonado (SOMOS CAFONAS SIM) em um dos episódio do seriado, composto por Bolaños (o Chaves)




 Cantata de reencontro(SOMOS CAFONAS SIM) do professor Girafales (RUBÉN AGUIRRE) com D.Florinda (FLORINDA MEZA) em 2016... 


quinta-feira, 16 de junho de 2016

O LADO PRÁTICO DO DESAPEGO

O DESAPEGO NOS AJUDA A ENCONTRAR O QUE É ESSENCIAL NA VIDA E NAS RELAÇÕES

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Encontrei uma imagem no Facebook que me fez parar para pensar. Era de um homem com seu cão, caminhando, vistos de costas, tendo à frente algumas árvores e o Sol no horizonte. Acima, uma pergunta: “Você sabe por que seu cão é mais feliz do que você?”. Para encontrar a resposta, bastava olhar para os balões de pensamento acima da cabeça de ambos. Na do homem, seus desejos: um carro, uma bebida, uma casa, entre outros. Na do cachorro aparecia ele próprio ao lado do dono, vistos de costas, tendo à frente algumas árvores e o Sol no horizonte. Em resumo, o cão era mais feliz porque desejava ter exatamente o que já tinha, enquanto o homem sempre projetava seus desejos para aquilo que ainda não possuía. Como jamais teria tudo o que desejava e, mesmo que tivesse, passaria a ter novos desejos, o homem estaria condenado a nunca conhecer a felicidade verdadeira. Dá o que pensar, né?   A metáfora tem a ver com o desapego das coisas e a valorização das experiências. Enquanto o homem se ocupava em pensar sobre as coisas e as conquistas que queria ter, o cão tratava de viver aquele momento e aproveitar a experiência de estar vivo. É exatamente isso que nós ocidentais contemporâneos, criados na sociedade de consumo, temos mais dificuldade: o desapego. Essa talvez seja a razão do nosso maior sofrimento: o apego, pois, enquanto formos apegados a coisas que pertencem ao mundo físico, estaremos ocupando nossa mente com coisas que não são tão essenciais assim, perdemos nossos anos nos distraindo com coisas que não nos faz sentir melhor. Nós, os apegados (quase todos nós, vamos concordar), sofremos porque somos reles mortais, estamos aqui de passagem, e isso não combina com apego, definitivamente. Essa lógica é irrefutável. Qual o sentido de passar a vida apegado a coisas que, com certeza, só serão suas durante o tempo que dure sua vida? Repare quanta energia você gasta para manter o que, no fundo, nunca lhe pertenceu e nunca pertencerá de verdade. Daí relacionar desapego com leveza. 
Pessoalmente, acredito que não temos como assumir um desapego absoluto dos bens materiais e das relações afetivas, mesmo sabendo que podemos perder tudo isso a qualquer momento, e que um dia iremos embora sem levar nada do que consideramos ser nossa posse. É que esse negócio de desapego não faz parte de nossa cultura, de nossa educação, de nosso modelo mental. Entretanto, não foram poucas as vezes em que me percebi refletindo sobre o quanto o modelo do apego me fazia mal. Quantas vezes não fiz novas conquistas, não experimentei novas alegrias, não atingi novos patamares de sabedoria, pelo simples fato de estar profundamente apegado ao que tinha conquistado até então. 
Realmente não é um exercício simples, mas tenho simpatia pelo conceito do desapego, uma vez compreendido, passa a ser muito útil. Para mim, exercer algum desapego pode ser um sinal de inteligência prática, pois o apego pode ser inimigo do progresso. Estar apegado a velhos pertences não abre espaço para os novos. Não conseguir fechar o ciclo de uma relação afetiva impede que se abra outro, talvez bem mais rico e prazeroso. O desapego tem seu lado pragmático, sim. Não somos poços sem fundo onde cabe tudo o que acumulamos. Na verdade somos pequenas caixas de joias onde só cabem aquelas que usamos, que amamos e nos fazem bem. Não podemos ser como o padre Rodrigo Mendoza, interpretado pelo ator Robert de Niro no filme A Missão, que caminha pela floresta e até sobe cachoeiras carregando uma rede cheia de velhas pratarias, que prejudicam seu avanço. Pois tem muita gente assim, que avança pela vida carregando pesos mortos, de coisas ou de culpas. Falta-lhes desapego. E é impressionante como o apego é confundido com amor. Costumamos nos apegar àquilo ou àqueles que amamos. Ao querer manter ao lado alguém que você ama, mesmo contrariando a vontade do outro, você não estará infelicitando o objeto de seu amor? Talvez fosse bom ouvir uma reflexão da monja Palmo. Segundo ela, o apego é o oposto do amor. Enquanto o apego diz: “Eu quero que você me faça feliz”, o amor declara: “Eu quero que você seja feliz”.


quarta-feira, 15 de junho de 2016

SOBRE "ESTILO DE MORTE"

ELIXIR EXISTENCIAL


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A sociedade moderna, é voltada para nos distrair, o tempo todo, da existência da morte. Os publicitários criam anúncios em que todos são eternamente jovens. Deixamos os velhos isolados em asilos, fora da nossa visão e dos nossos pensamentos. Morrer em hospitais, cobertos por tubos e fios, fez com que esquecêssemos o antigo costume de falecer em casa – um dos motivos pelos quais as crianças raramente são colocadas diante do tema da finitude. A pergunta “você tem medo de morrer?” pouco aparece nos programas de tevê. Sim, eu sei que o tema da morte não está totalmente fora da pauta: o dilema da eutanásia e os cuidados paliativos são trazidos à tona em alguns noticiários mas, em geral, a morte é atualmente um tabu. 
Os jornais estão lotados de suplementos sobre estilo de vida, mas onde estão os suplementos sobre “estilo de morte”? Em um nível mais sutil, grande parte da nossa vida social pode ser interpretada como um meio elaborado para nos proteger da ansiedade inerente sobre a morte: a forma como muitos de nós procuram desesperadamente uma carreira de sucesso ou fama duradoura; a tendência de acumularmos cada vez mais coisas para termos a sensação de permanência eterna; nosso desejo de ter filhos como uma forma de deixar um legado; a maneira como passamos boa parte do tempo nos ocupando com algo (porque precisamos estar fazendo alguma coisa sempre). Tudo isso, de alguma forma, são estratégias para não lidar com a realidade de que um dia, mais cedo ou mais tarde, vamos deixar de existir. Nos dias atuais, pensar sobre a finitude é demais para a nossa psique suportar. Então abafamos esses pensamentos, nos distraímos com as alegrias e os desafios diários ou buscamos consolo na religião. No entanto, ao fazer isso, nos privamos do nosso elixir existencial: quando encaramos a existência da morte e a certeza de que não somos eternos, valorizamos mais os dias e conseguimos aproveitar um pouquinho mais. Isso nos deixa uma tarefa delicada, que é trazer a realidade da morte perto o suficiente, encarando de frente e com os olhos bem abertos, sem deixar que isso a perturbe. Dançarmos com ela! 
Sei que ninguém quer falar sobre isso. Mas, como se sabe ela, a dita cuja, é provavelmente, nossa única grande certeza. Mesmo assim, teimamos em fugir dessa conversa a qualquer custo. Precisamos entender por que fazemos isso e perceber que, ao trazê-la para perto, estamos na verdade mergulhando em nós mesmos e na maneira como olhamos para a vida.


terça-feira, 14 de junho de 2016

AJUSTE DO "EU TE AMO"

NÃO É BEM COM O OUTRO QUE VOCÊ SE RELACIONA

O relacionamento com o outro é muito mais um relacionamento consigo próprio do que qualquer outa coisa.
Não é bem com o outro que nos relacionamos. 
Nós amamos o mundo do outro. Mais ainda, amamos a experiência de ser alguém nesse mundo. Repito o relacionamento com o outro é muito mais um relacionamento consigo próprio do que qualquer outra coisa — ainda que acreditemos no contrário. Assim como um homem adora aquela que o faz sentir mais homem, as mulheres se apaixonam pelo mundo do cara (afinal, o que tem de bonito em um homem?). Não importam tanto suas características pessoais, mas como eles estão em suas posições masculinas e femininas.
Em vez de nos preocupar com métodos de sedução ou terapias de autoestima, bastaria cultivar um mundo amplo, rico de possibilidades. Mesmo sozinhos podemos fazer isso. Sua presença ativa um ambiente bom, calmo, leve? Qual o seu mundo? Quais experiências oferece? 
O melhor jeito de conquistar uma pessoa é cultivar uma mente sem bagunça, pronta para recebê-la em casa. Um filme que dá gosto encenar. É já viver em um mundo no qual ele vai querer nascer. Fazer de sua vida inteira uma boa cama para ela se deitar. Porque não é exatamente você que ele vai amar.
Enfim este texto fala sobre o amor condicionado, aquele que está por trás da grande maioria dos “Eu te amo” por aí, e propõe descobrir um outro tipo de relação, uma outra base, um jeito completamente diferente de agir, que curiosamente também é nomeado de “amor” pelas grandes tradições de sabedoria, um pequeno ajuste para ele funcionar melhor. E só.


segunda-feira, 13 de junho de 2016

DEIXE IR O QUE JÁ PASSOU

É SEMPRE POSSÍVEL INAUGURAR A VIDA


Boa parte do sofrimento nas relações surge porque somos incapazes de soltar o momento anterior.
O casal foi dormir brigado. No dia seguinte, os olhos se abrem, mas não muito: eles levam a briga para o trabalho, imaginando que o outro faz o mesmo. Mais tarde, paira a necessidade de retomar o foco da noite passada. É como se houvesse uma névoa impedindo o acesso ao frescor do novo momento: “ele ainda é aquele que me disse tal absurdo.” Na outra cena, uma pessoa passa por diferentes mundos em poucas horas, como nunca foi possível na história da humanidade: do pilates para os incontáveis e-mails, do almoço com a mãe ao Skype com a namorada, tudo sem deixar de acompanhar grupos bem diferentes em conversas no Whatsapp.
Ao fim do dia, chega em casa exausta, como se os olhos estivessem poluídos, como se boa parte do que passou por eles tivesse grudado. Em vez de parar, o que ela faz? Reconta e comenta seu dia, internamente ou para quem estiver perto. Levamos as perturbações de um mundo para dentro do outro, de uma relação para a outra, costurando uma coerência que não existe, conectando eventos independentes e tomando decisões a partir daí: “Vou terminar esse namoro! Há três meses tenho sentido isso, ele se tornou tal pessoa, tem também a crise hídrica, enfim, acho que é o momento.”
Nosso corpo se entorta em algum lugar e então vamos tortos para todos os lugares. Às vezes juntamos várias pequenas oscilações de energia em uma bola de neve e decretamos: “Eu sou uma pessoa horrível, minha vida inteira não tem saída, estou em depressão!”. As sensações de correria, pendência, desânimo, acúmulo, certeza, seriedade – de fracasso e até mesmo de sucesso – só surgem porque somos incapazes de soltar. Soltar o quê? Histórias, tensões no corpo, visões empedradas sobre nós mesmos e sobre os outros, falatório interno, lembranças compulsivas, fabricações mentais tomadas como realidade, antecipações, expressões faciais, fixações de todo tipo. Não importa qual aparência surja, limpe os olhos, de novo e de novo.
Imagine uma tela de cinema na qual todos os filmes se sobrepõem, ou um espelho que guarda tudo o que reflete: depois de pouco tempo não dá para ver mais nada. Nossos olhos são assim. Convido você para um experimento: nos próximos dias, entre dois momentos, pare por alguns segundos e solte o que acabou de acontecer. Deixe que aquilo se vá, não costure com outra coisa. Ao fazer isso, você verá que as coisas fluem, assim como podemos estar quase dormindo em uma palestra chata, mas logo acordamos dispostos ao ver que chegou o slide final.
É sempre possível inaugurar a vida. Não precisamos esperar por uma crise para começar do zero (melhor que recomeçar). Teste agora mesmo, ao acabar a leitura: deixe cair os ombros, desobstrua a respiração, relaxe a mandíbula, a língua, a garganta. Solte o texto, sem pressa de encontrar o momento seguinte. Ah...