terça-feira, 7 de junho de 2016

PAIS SEM CRITÉRIOS

REPORTANDO AO CASO ANA HICKMANN E MC BIEL



Noto que existe uma tendência em certos pais de defenderem os filhos, eles estando certo ou não. 
Dois casos que foram expostos recentemente na mídia ilustra bem essa coisa de pais que acobertam o erro dos filhos, por mais pernicioso que o filho seja, por mais desgraça ou transtorno que o filho tenha causado vida a fora. 
Me parece que a questão desses pais é que eles enxergam os filhos como uma extensão de si mesmos, como se, inconscientemente, admitir o erro do filho seria admitir o próprio erro, e há um medo de admitir o próprio erro. Deduzo que se eles carregam culpa,  é porque acham que não fizerem um bom trabalho na educação dos filhos e com isso sentem-se em dívida com eles para sempre, se sentindo no dever de proteger esse filho que é vítima da falha deles.
Muitos pais querem se realizar por meio desses filhos, que são vistos como extensão sua, e não poupam esforços para mostrar ao mundo como eles são lindos, inteligentes e perfeitos, chegando a compará-los com outras crianças, próximas ou não, e justificando que são melhores.
Algumas atribuem eventuais problemas, brigas ou confusões ao temperamento do filho: ele não fez por mal, ele não sabia, ele é tímido, ele é inocente etc. Outras optam por colocar a culpa em terceiros: se a criança tira nota baixa, é porque o professor não soube explicar a matéria. Inventam mil explicações, sempre com o objetivo de livrar a barra do filho.
Foi mais ou menos assim que agiram a mãe do fã que praticou atentado contra a apresentadora Ana Hickmann e agora, mais recentemente, o pai do funkeiro Mc Biel, com a história do assédio à jornalista. Nos dois casos os pais falam qualquer coisa para defender os filhos, tentam insanamente minimizar o ato que os "meninos" praticaram. Lendo a declaração que eles deram em relação ao envolvimento dos filhos nos respectivos casos, a impressão que dá é que eles preservam, na imaginação, a ideia de que os filhos  ainda estão no jardim de infância, que eles não sabem o que fazem, não sabem o que dizem, que tudo não passa de brincadeirinha, que não querem fazer mal algum ao coleguinha etc etc etc. Na conversa de ambos é flagrante a tentativa de amenizar, acobertar, proteger e tentar endireitar, justificando   o comportamento torto do filho.
Pais perfeccionistas querem um filho perfeito. Se ele for perfeito, como eles, não erra. Essas atitudes revelam o quanto é difícil admitir os erros neles mesmos. Afinal, o filho é deles, é continuidade deles. Se os filhos erram, consequentemente, eles se sentem errados como pais, é uma falha deles.
Essas justificativas sem pé, nem cabeça também têm a ver com a personalidade dos pais: inflexíveis, pouco dados à reflexão, egoístas... É comum que projetassem no mundo sua carga negativa, já que não conseguem nem querem aprender a lidar com a própria confusão instalada. Acredito que não somos culpados pelos erros que nossos filhos se arriscam a cometerem na vida, mas se você chega ao ponto de defender os erros de seu filho, aí sim, a coisa também é com você, e merece ser realmente considerada.
É um mecanismo quase psicótico, no caso do atentado, a mãe do rapaz parece estar quase tanto ou pior que o filho que surtou: a pessoa bloqueia e quando coloca a culpa no exterior sente uma enorme satisfação, um alívio. Assim continua a alimentar a ilusão de ser bacana, justa, correta, uma pessoa sem motivos para críticas. Eles produzem uma imagem idealizada, criada para mentirem para si mesmas e para os outros.
Os resultados desastrosos desse comportamento parental acompanham a criança ao longo da vida, transformando-a em um adulto arrogante, egoísta, com dificuldade de compreender limites e desenvolver relações interpessoais.
Os pais que arrumam desculpas pelo filho, argumentando que ele não sabe o que faz, não o corrige nem ensina regras de boa convivência em sociedade. Já o filho daquela que costuma culpar terceiros acaba aprendendo que alguém sempre poderá pagar por seus erros. Então passa a ter atitudes cada vez mais abusivas, pois sabe que, dificilmente, vai arcar com as consequências.
De modo geral, a criança que é criada por pais permissivos se acostuma a ser o centro das atenções e a ter tudo o quer, mesmo que para isso seja preciso passar por cima de outras pessoas.
Na vida adulta, pode apresentar problemas de socialização e não conseguir estabelecer relacionamentos afetivos nem construir uma carreira de forma estável. Quando o chefe, por exemplo, questiona sobre determinado trabalho ou cooperação em equipe, é comum a pessoa ficar furiosa e abandonar o cargo (ou ser demitida).
O pior pode acontecer nos momentos em que as frustrações são inevitáveis, pois quem chega à vida adulta sem ter de enfrentá-las tem menos preparo para lidar com elas. O sofrimento até então evitado pode surgir com carga total e causar prejuízos sem limite. 


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