quinta-feira, 16 de junho de 2016

O LADO PRÁTICO DO DESAPEGO

O DESAPEGO NOS AJUDA A ENCONTRAR O QUE É ESSENCIAL NA VIDA E NAS RELAÇÕES

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Encontrei uma imagem no Facebook que me fez parar para pensar. Era de um homem com seu cão, caminhando, vistos de costas, tendo à frente algumas árvores e o Sol no horizonte. Acima, uma pergunta: “Você sabe por que seu cão é mais feliz do que você?”. Para encontrar a resposta, bastava olhar para os balões de pensamento acima da cabeça de ambos. Na do homem, seus desejos: um carro, uma bebida, uma casa, entre outros. Na do cachorro aparecia ele próprio ao lado do dono, vistos de costas, tendo à frente algumas árvores e o Sol no horizonte. Em resumo, o cão era mais feliz porque desejava ter exatamente o que já tinha, enquanto o homem sempre projetava seus desejos para aquilo que ainda não possuía. Como jamais teria tudo o que desejava e, mesmo que tivesse, passaria a ter novos desejos, o homem estaria condenado a nunca conhecer a felicidade verdadeira. Dá o que pensar, né?   A metáfora tem a ver com o desapego das coisas e a valorização das experiências. Enquanto o homem se ocupava em pensar sobre as coisas e as conquistas que queria ter, o cão tratava de viver aquele momento e aproveitar a experiência de estar vivo. É exatamente isso que nós ocidentais contemporâneos, criados na sociedade de consumo, temos mais dificuldade: o desapego. Essa talvez seja a razão do nosso maior sofrimento: o apego, pois, enquanto formos apegados a coisas que pertencem ao mundo físico, estaremos ocupando nossa mente com coisas que não são tão essenciais assim, perdemos nossos anos nos distraindo com coisas que não nos faz sentir melhor. Nós, os apegados (quase todos nós, vamos concordar), sofremos porque somos reles mortais, estamos aqui de passagem, e isso não combina com apego, definitivamente. Essa lógica é irrefutável. Qual o sentido de passar a vida apegado a coisas que, com certeza, só serão suas durante o tempo que dure sua vida? Repare quanta energia você gasta para manter o que, no fundo, nunca lhe pertenceu e nunca pertencerá de verdade. Daí relacionar desapego com leveza. 
Pessoalmente, acredito que não temos como assumir um desapego absoluto dos bens materiais e das relações afetivas, mesmo sabendo que podemos perder tudo isso a qualquer momento, e que um dia iremos embora sem levar nada do que consideramos ser nossa posse. É que esse negócio de desapego não faz parte de nossa cultura, de nossa educação, de nosso modelo mental. Entretanto, não foram poucas as vezes em que me percebi refletindo sobre o quanto o modelo do apego me fazia mal. Quantas vezes não fiz novas conquistas, não experimentei novas alegrias, não atingi novos patamares de sabedoria, pelo simples fato de estar profundamente apegado ao que tinha conquistado até então. 
Realmente não é um exercício simples, mas tenho simpatia pelo conceito do desapego, uma vez compreendido, passa a ser muito útil. Para mim, exercer algum desapego pode ser um sinal de inteligência prática, pois o apego pode ser inimigo do progresso. Estar apegado a velhos pertences não abre espaço para os novos. Não conseguir fechar o ciclo de uma relação afetiva impede que se abra outro, talvez bem mais rico e prazeroso. O desapego tem seu lado pragmático, sim. Não somos poços sem fundo onde cabe tudo o que acumulamos. Na verdade somos pequenas caixas de joias onde só cabem aquelas que usamos, que amamos e nos fazem bem. Não podemos ser como o padre Rodrigo Mendoza, interpretado pelo ator Robert de Niro no filme A Missão, que caminha pela floresta e até sobe cachoeiras carregando uma rede cheia de velhas pratarias, que prejudicam seu avanço. Pois tem muita gente assim, que avança pela vida carregando pesos mortos, de coisas ou de culpas. Falta-lhes desapego. E é impressionante como o apego é confundido com amor. Costumamos nos apegar àquilo ou àqueles que amamos. Ao querer manter ao lado alguém que você ama, mesmo contrariando a vontade do outro, você não estará infelicitando o objeto de seu amor? Talvez fosse bom ouvir uma reflexão da monja Palmo. Segundo ela, o apego é o oposto do amor. Enquanto o apego diz: “Eu quero que você me faça feliz”, o amor declara: “Eu quero que você seja feliz”.


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