ELIXIR EXISTENCIAL
A sociedade moderna, é voltada para nos distrair, o tempo todo, da existência da morte. Os publicitários criam anúncios em que todos são eternamente jovens. Deixamos os velhos isolados em asilos, fora da nossa visão e dos nossos pensamentos. Morrer em hospitais, cobertos por tubos e fios, fez com que esquecêssemos o antigo costume de falecer em casa – um dos motivos pelos quais as crianças raramente são colocadas diante do tema da finitude. A pergunta “você tem medo de morrer?” pouco aparece nos programas de tevê. Sim, eu sei que o tema da morte não está totalmente fora da pauta: o dilema da eutanásia e os cuidados paliativos são trazidos à tona em alguns noticiários mas, em geral, a morte é atualmente um tabu.
Os jornais estão lotados de suplementos sobre estilo de vida, mas onde estão os suplementos sobre “estilo de morte”? Em um nível mais sutil, grande parte da nossa vida social pode ser interpretada como um meio elaborado para nos proteger da ansiedade inerente sobre a morte: a forma como muitos de nós procuram desesperadamente uma carreira de sucesso ou fama duradoura; a tendência de acumularmos cada vez mais coisas para termos a sensação de permanência eterna; nosso desejo de ter filhos como uma forma de deixar um legado; a maneira como passamos boa parte do tempo nos ocupando com algo (porque precisamos estar fazendo alguma coisa sempre). Tudo isso, de alguma forma, são estratégias para não lidar com a realidade de que um dia, mais cedo ou mais tarde, vamos deixar de existir. Nos dias atuais, pensar sobre a finitude é demais para a nossa psique suportar. Então abafamos esses pensamentos, nos distraímos com as alegrias e os desafios diários ou buscamos consolo na religião. No entanto, ao fazer isso, nos privamos do nosso elixir existencial: quando encaramos a existência da morte e a certeza de que não somos eternos, valorizamos mais os dias e conseguimos aproveitar um pouquinho mais. Isso nos deixa uma tarefa delicada, que é trazer a realidade da morte perto o suficiente, encarando de frente e com os olhos bem abertos, sem deixar que isso a perturbe. Dançarmos com ela!
Sei que ninguém quer falar sobre isso. Mas, como se sabe ela, a dita cuja, é provavelmente, nossa única grande certeza. Mesmo assim, teimamos em fugir dessa conversa a qualquer custo. Precisamos entender por que fazemos isso e perceber que, ao trazê-la para perto, estamos na verdade mergulhando em nós mesmos e na maneira como olhamos para a vida.
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