A CRÍTICA PODE SER VISTA COMO UM CONVITE À REFLEXÃO
Existem três lados de observação de nós mesmos: quem pensamos ser; quem os outros pensam que somos; e por fim, quem realmente somos. Este último imagino como sendo um enigma a ser desvendado do tipo "Decifra- me ou devoro-te"
Quando ocorre uma crítica direcionada a nós, acaba sendo uma proposta de desconstrução de quem pensamos ser. A partir daí, temos duas opções - nos reavaliar ou não.
Em geral, tentamos manter certa coerência interna, um alinhamento com uma narrativa que viemos construindo ao longo da vida. Por exemplo, se fomos bebês saudáveis e fortes, queremos seguir contando essa historinha a vida inteira,
Quando surge uma crítica a reação automática é se voltar contra quem chamou atenção nessa direção.
Mas não precisa ser assim.
Críticas podem ser vistas como um convite à reflexão, com o potencial de implodir um comportamento que lá no fundo nós mesmos já notamos ser danoso - mas que desistimos de transformar.
Quando vemos um filme do 007 vemos ele dirigir alucinadamente por uma cidade inteira, achamos lindo, mas quando é preciso ter a mesma agilidade para mudar de rota em nossas vida, estacionamos o carro sem arredar o pé.
A mudança parece nos aborrecer como se denunciasse alguma fraqueza, incoerência ou comportamento volúvel.
Há uma confusão gigantesca que fazemos ao longo da vida que é misturar nossas opiniões e gostos com aquilo que somos.
Na prateleira de nossas predileções já tivemos coisas das quais hoje até nos envergonharíamos, mas à época eram tão nossas e tão certas que mostrávamos com orgulho.
Gosto de checar meus antigos textos ou comentários espalhados pela internet e ver como a minha forma de enxergar o mundo foi se tornando mais acolhedora, menos certa de si e nem por isso menos efetiva.
Assim como meu "eu" passado foi diluído no atual, meu "eu" atual tem seus dias contados. Perder algo no que se acredita não é perder a si mesmo.
Na prática, isso quer dizer que frases imperativas poderiam dar lugar a outras como "me parece que", "o que eu consigo alcançar por enquanto é isso", "tudo indica agora esse caminho", simplesmente para nos fazer lembrar que não há nenhum jogo ganho.
Em última instância, podemos mudar sem nos sentir contraditórios, hipócritas ou traidores das nossas convicções.
Quanto mais realistas e compassivos formos com a nossa mortalidade e falibilidade, mais flexíveis seremos. Afinal, nas raias da insanidade até um abraço apertado pode soar como crítica.
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