sexta-feira, 29 de abril de 2016

A MÁGUA É UM CICLO VICIOSO E CORRÓI A RELAÇÃO

NA MÁGOA CADA UM OLHA PRA SI MESMO



A maior parte dos relacionamentos naufraga por conta de um elemento simples e altamente destrutivo: a mágoa.
Cada um olhando para si mesmo!
Fico pensando em como a mágoa surge numa relação. Então, vamos seguir no princípio do relacionamento e dos sonhos que alimentam uma união.
No início predomina o sonho encantado da união feliz e eterna. Os votos matrimonias simbolizam o desejo de que a pessoa amada complete um buraco em meu coração.
Está selada a promessa de que o amor irá suprir e curar qualquer dor do passado (fantasmas que trazíamos da infância, provavelmente da relação com nossos pais)
Pense na situação de uma criança, frágil, carente e vulnerável nas mãos de adultos ocupados, ansiosos e muitas vezes inseguros de seu poder de educar um filho. Esse conjunto de situações só produz um cenário propício a sentimentos negativos em relação ao amor.
É desse fantasma que estamos falando, pior que é o cara com quem casou que terá de dar conta dessas travas antigas.
A expectativa de um amor doador, intenso e romântico vai se deparando com uma realidade cansada, rotineira, exigente, inflexível e carente.
No meio de uma briga onde ele atrasa sem avisar e chega em casa levemente alcoolizado ela está dizendo nas entrelinhas “eu nunca pensei que me deixaria sozinha ou me faria de boba e agora chega se sentindo o homem mais esperto do mundo enquanto eu ficava aqui igual a uma palhaça fazendo o jantar?”
Depois de uma investida fracassada por carinho ele diz no subtexto “você me pareceu sempre tão amorosa e à vontade comigo e agora fica me punindo quando está de mau humor!”.
Essa guerra silenciosa se perpetua dia-a-dia. Quando menos ela sente que ele dá de si, menos ela dá de si também. Passam a se nivelar por baixo e expressar o pior de si mesmos. Agridem, recuam, ofendem, se afastam e deixam rastros de peso morto.
Cada atitude passa a ser cínica e automática, as palavras são dotadas de incredulidade e arrogância. Cada vez mais fechados um acaba condicionando o comportamento do outro. “Já que ele(a) não me dá o que preciso também não dou!”
O grande problema dessa estratégia é que ela não leva a lugar nenhum, porque para punir a outra pessoa eu arranco um pedaço de minhas coisas boas...
Esse ciclo vicioso só conseguirá acabar quando cada um se sentir liberado numa base mais generosa e desprendida de vontade de poder.
Esse é o resultado quando deixamos a mágoa corroer a relação. 
Mágoa é raiva, mágoa e raiva são a mesma coisa, dizer que tem magoa de alguém é o mesmo que dizer que tem  raiva desse alguém, pra quem não sabe!


quinta-feira, 28 de abril de 2016

NOSSA LIBERDADE NÃO É TÃO LIVRE ASSIM.

ESSE É MEU JEITO...


Temos todos liberdade, desde que respeitemos os outros, desta forma, nossa liberdade não é tão livre assim, mesmo sendo a mesminha pessoa.  
Quero dizer que é importante ser você mesmo, ainda mais num mundo em que tantas pessoas e coisas vão tentar te dizer como você deve ser, o que você deve fazer, como você deve pensar. É bacana ter uma ideia verdadeira de quem você é e se manter fiel a ela, não deixando de lado o que você quer por pressão alheia, não deixando de lado o que você acredita para agradar os outros.
Mas ao mesmo tempo que ser você mesmo e valorizar a personalidade que você tem é importante e saudável, querer ser você mesmo demais (passar do ponto) e valorizar em excesso a personalidade que você tem não apenas é um pouco perturbador como pode atrapalhar bastante a convivência com as pessoas - além de ser uma justificativa bem infantil quando você faz algo errado.
Isso porque a vida é um eterno processo de conciliação em que quase nunca a gente tem exatamente o que a gente quer, basicamente porque não daria pra todo mundo ter exatamente tudo o que quer o tempo todo - ainda que eu vá ser o primeiro a admitir que algumas pessoas tem o que quer com muito mais frequência do que outras. Você pode achar terrível ouvir música com fone de ouvido, mas num ambiente com outras pessoas, vai ter que aceitar isso. Você pode achar péssimo esperar meia hora pra sacar dinheiro no caixa, mas se tem uma fila você vai ter que ir pro fim e pronto. Você pode achar que o tempo é apenas uma construção aleatória do homem que relevância pro cosmo, mas se marcou com a galera seis e dez, seria bacana chegar mais ou menos nessa hora.
E é nesse ponto que as coisas complicam, porque existe um grande volume de pessoas - cada vez maior, na verdade - que confunde “ser ele mesmo” ou “ser fiel a sua personalidade” a não estar nem aí pra ninguém. 
Então é bacana, por mais que a gente deva sempre fazer o esforço válido de agir diante de nossas vontades, princípios, interesses, lembrar que existe aí, na família, no trabalho, no relacionamento, outras pessoas que também tem suas vontades, seus princípios, seus interesses, também tentando lidar com eles. E que tentar atropelar essas pessoas com as nossos desejos e necessidades não é ter personalidade forte, não é ser fiel a si mesmo, é apenas ser mané, nos mais variados níveis que a manezice pode ter. E sua mãe nunca te disse, antes do seu primeiro dia de colégio, a frase “vai lá e seja um tremendo manezinho”, eu posso apostar.
`Portanto, ... "é meu jeito", "tenho gênio/personalidade forte", "sou assim e pronto", "os incomodados que se mudem", "sou louco/a mesmo, e daí?", "não levo desaforo pra casa", de modo que os outros devam se adaptar ao seu jeito imprevisível e caótico, é confundir alhos com bugalhos. As pessoas vendem uma ideia errada de auto estima. Auto estima não é expandir sua arrogância na crença de que IMPULSOS são uma característica de autenticidade, porque IMPULSO tá mais pra falta de controle dos nossos atos. 
Sempre falo que temos que buscar a felicidade plena, desde que isso não atrapalhe a busca dos outros que estão ao nosso redor. Acho que é esse o ponto do texto >> > Seja você mesmo mas, por favor, não seja tão você mesmo assim, a ponto de confundir “ser você mesmo” ou “ser fiel a sua personalidade” com não se importar com os outros.


quarta-feira, 27 de abril de 2016

NOSSOS PAIS ESTÃO DENTRO DO NOSSO CÉREBRO

NÃO IMPORTA PARA ONDE VOCÊ FUJA

                              
As pessoas costumam ter uma relação estranha com seus pais. É uma luta constante entre liberdade e dependência.
Nascemos completamente dependentes de nossos pais, absolutamente reféns de sua ajuda, seu toque e seu amor. Lentamente nossas forças físicas e psicológicas vão crescendo e concedendo autonomia aos nossas vontades e ações.
Na adolescência entramos num embate de ideias, conhecemos outros cenários, outras famílias e questionamos fortemente o que nossos pais nos ensinaram. A rebeldia e revolta é quase certa e sempre ficamos com a sensação de que recebemos pouco.
As reivindicações de amor surgem em forma de revolta, agressividade e gritos. Em essência o adolescente percebe que o paraíso da infância acabou e pressente que já não poderá culpar os pais mesmo que quisesse.
O rolo compressor do tempo esmaga lentamente nossas ilusões de onipotentência. Não somos mais, o mais bonito, o mais simpático, o mais inteligente e o mais querido da mamãe e do papai. As nossas brigas com nossos pais na realidade são frustrações pessoais colocadas sobre aqueles que nos deram tudo o que lhes foi possível dar. E diga-se de passagem que em essência, já bastaria terem nos dado a vida.
Mas os jovens querem mais, nada é o suficiente para sua insatisfação crônica. Ele se depara com os dilemas naturais da vida, mas como não tem a quem culpar elege os pais. Quem de fato podemos culpar por não sermos perfeitos e completos?
Alguns pensam que a saída da casa dos pais definem outros rumos para a própria personalidade. Sem sombra de dúvida essa saída é valiosa, afinal quem melhor para conhecer quem nós NÃO somos do que os nossos pais? O olhar deles inconscientemente nos condiciona naquela criança perfeita e encantada que já não somos, ainda que quiséssemos ser.
Mas, sempre me pergunto, com que pais realmente nós nos degladiamos ?
Conheço muitas pessoas que já saíram da casa do pais e se vangloriam de terem se libertado dos condicionamentos destes. No entanto, continuam com hábitos mentais muito parecidos e se relacionando com as demais pessoas reproduzindo modelos bem familiares.
Em essência não importa para onde você fuja, não é dos seus pais que você se distancia. Você os carrega dentro de sua mente por quanto tempo for.
De seus pais você pode ter registrado um pai autoritário que continua interditando seus movimentos ou um pai permissivo que não lhe avisa quando já passou dos limites.
Muitos fracassos que você enfrenta provavelmente não são frutos de problemas cotidianos, mas reflexos originados desse fantasma que você teima em alimentar.
Culpa dos pais? Não.
É provável que você ainda não consiga dar passos maduros para além das repressões que guarda dentro de si. Por isso precisa alimentar a raiva por tudo o que eles fizeram a mais ou a menos por você.
A liberdade definitiva talvez ainda seja uma sobrecarga para a mente infantil que você alimentou esses anos.
A liberação real desse pai que habita sua mente (esse que pune ou recompensa você pelos seus atos) vem em conjunto com a responsabilidade de suas ações presentes.
E se em última hipótese você ainda culpá-los lembre-se que é capaz que você seja uma cópia fiel daquilo que teima condenar em “papai e mamãe”!

terça-feira, 26 de abril de 2016

APEGO ILUSÓRIO NAS RELAÇÕES

"O MUNDO NÃO É UM BERÇÁRIO"  Freud



Viver e conviver me fez concluir que eu preferia as pessoas que estavam na minha cabeça do que as pessoas de verdade.
Formulando melhor esse pensamento: no final das contas sempre preferimos a pessoa que está na nossa cabeça. Raramente a pessoa real!
Na questão casamento, isso me faz pensar que essa é a origem para as maiores mágoas, decepções e brigas que um casal enfrenta. Não brigamos com a pessoa real, mas com a imagem ideal que guardamos dela versus a imagem real.
Fantasiamos que a pessoa deva reagir de um jeito e ela reage de outro. Não aceitamos essa incoerência e brigamos com o outro sem muitas explicações.
A pessoa, tal como é, sempre contraria nossas fantasias mais secretas.
Nossos sonhos platônicos nunca incluem dinheiro, mau humor e contratempos. Tudo é um encaixe perfeito.
Quando começamos a nos relacionar nosso  controle acaba e já não podemos manipular a imagem do outro como queremos.  Olhamos nela o que há em nós. Isso se chama projeção, pois os óculos que usamos delimita aquilo que conseguimos enxergar. Podemos nos sentir perseguidos com um simples “Bom dia!” e amados com um “me deixa em paz!”. Nossos ouvidos emocionais só captam aquilo que queremos.
“Isso quer dizer que não ama seu marido ou namorado de verdade?”
Sim, ama, mas o namorado ou marido que você inventou na sua cabeça. Se você amasse seu namorado ou marido real, dificilmente iria se decepcionar, magoar ou surpreender com alguma atitude dele. No seu mundo ideal tudo está sob o controle de seus desejos e toda as carências são atendidas sem hesitação. Porque é natural que tudo mude, no entanto queremos que elas fiquem iguais e inabaláveis.
Quando deixamos uma pessoa e entramos em outro relacionamento apenas transferimos as expectativas de um corpo para outro na esperança que aquela pessoa se encaixe em nosso amor platônico ideal.
Então, não importa se você fica ou vai com aquela pessoa ou a outra, é a sua fôrma emocional que está com problemas.
Freud tem uma frase que resume esse pensamento: “o mundo não é um berçário”
Portanto, se você quer viver uma experiência real de amor saia de sua cabeça e se apaixone por uma pessoa que não seja você mesmo. Isso se aplica a todas as relações, diga-se de passagem!


segunda-feira, 25 de abril de 2016

PARA DIVORCIADOS, SEPARADOS, DISTANCIADOS AMOROSOS

RESPEITE AS SUAS PERNAS CANSADAS E SEU CORAÇÃO EXAUSTO

A chance de um relacionamento que começa imediatamente depois ou concomitante a uma separação tem grandes chances de ser fruto de desespero do que amor real.
O ponto é quando a pessoa recém separada não respeita os sinais óbvios dessa fase difícil e logo se atira em histórias que parecem ser a resposta para sua aflição. Na maior parte das vezes não é.
Diria que a pessoa que se presta a se relacionar com alguém que está recém-separado corre um risco altíssimo de ser confundida com uma miragem do passado. Ela se vale de uma vulnerabilidade de momento e se coloca como enfermeira emocional do enlutado, sem perceber entra num jogo vencido. Do outro lado a pessoa fragilizada aceita qualquer ajuda e expressão de amor e cede imaginando que aquilo vá tornar os dias menos amargos. Mas no fundo sabe que tem muito pouco a oferecer, pois ainda está digerindo uma série de mágoas, decepções e sentimentos de impotência. Ainda não conseguiu fazer uma reavaliação da própria vida com imparcialidade e já tenta sair de uma ressaca enchendo a cara de novo com o amor fresquinho de alguém.
Não é justo com ninguém, pois a pessoa nova que chega vai ter que engolir comparações desnecessárias e lidar com sequelas sem sentido. Do lado de fora veremos o sorriso complacente e generoso da pessoa esperançosa aguardando que os piores momentos passem. Começa a entrar em histórias que não a pertencem na tentativa de ajudar na cura emocional do outro, mas tudo em vão. Aquela hora precisa é tempo de ficar só.
A solidão pós-separação é um ritual muito pouco respeitado, em especial pelos homens que tem uma dificuldade em lidar com o buraco e o fracasso do casamento, o fracasso de múltiplas tentativas de reerguer um gigante falido que exauriram todas as forças físicas, psicológicas, financeiras onde não se consegue caminhar adequadamente, cambaleando na vida e extremamente carente de apoio, acolhimento e proteção.
Imediatamente após (ou até antes) do divórcio já costumam colocar uma nova dama em sua cama para apaziguar uma dor silenciosa que corroi seus dias ruins. As mulheres, educadas a experimentar a sua dor com honestidade, costumam respeitar mais o seu tempo de recuperação (nem todas). De modo geral é possível reconhecer a pessoa recém-separada pelo olhar aparentemente vivo e elétrico, mas no fundo vazio e prestes a explodir em raiva e choro.
Óbvio que não sou um idealista que acredita que todas as relações deveriam iniciar com todas as pendências plenamente bem resolvidas. O que estou reforçando é que engatar uma relacionamento no outro interminavelmente costuma ser uma estratégia de pessoas desesperadas. Alguns conseguem um tempo de cicatrização mais rápida, mas a maioria apenas transfere o saldo devedor de uma conta para outra. Os problemas emocionais não foram evidenciadas, a possibilidade da pessoa simplesmente culpar o ex é alta e o conflito que deveria ser olhado de perto se perde no meio de declarações precipitadas de amor a outra pessoa. O problema real continua ali aguardando a ressurreição e em momento propício vem à tona em forma de um novo ciclo de dor. A pessoa que aguardou pacientemente o outro se recuperar do luto começa a reivindicar seu trono e aí a coisa vai complicando a tal ponto que o inferno volta a se instaurar, também no novo relacionamento.
Se eu pudesse dizer alguma coisa para alguém que está recém-separado seria, siga em frente, mas respeite suas pernas cansadas e seu coração exausto.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

MUDANÇAS NECESSÁRIAS

EM ALGUNS MOMENTOS PRECISAMOS REALIZAR MUDANÇAS # SER FÊNIX


Tudo na natureza são ciclos. Estamos passando por transformações o tempo inteiro, embora existam alguns momentos em que elas acontecem de forma profunda e nos fazem rever muitas coisas do passado que não nos serve mais. Guardamos muitas coisas desnecessárias em nossos registros e somente nos permitindo fazer essa viagem em nossas casas interiores e externas poderemos entender o valor de praticar o desapego. Sugiro que você faça uma grande arrumação na sua vida - uma grande transformação! Mas não se iluda! Transformação dói! É necessário largar o orgulho! Necessita-se aprender com coisas que você estudou há muito tempo e que nunca utilizou... Necessita-se parar de lutar.... Aceitar que os outros estiveram certos grande parte das vezes em que você discordava... Necessita-se entender que muitas coisas que você fez foi em vão... Que as palavras nem sempre valeram a pena... E que em outras ocasiões elas fizeram total diferença! 
Só compreendendo uma situação podemos transmutá-la! 
Necessitamos arrepender-nos por vezes... Temos na mão um volante e podemos guiar por onde quisermos... para a cura ou para o conflito, a partir do entendimento de como vamos conduzindo a nossa existência por tanto e tanto tempo... Por vezes perdemos a direção. Não temos firmeza, não sabemos nem para onde estamos indo... e é nesses momentos que precisamos realizar mudanças, mergulhar nas cinzas, entregar nosso espírito ao fogo, como uma Fênix!
Pergunte-se o que você anda guardando. Muitas vezes quando achamos que estamos resolvidos em determinadas situações, elas ressurgem. Mágoas, agressividade, tristeza... O que você anda guardando? Guardamos, guardamos e continuamos apegados a todos esses registros. 
Não liberamos as pessoas e elas não se liberam de nós. Mudamos de relacionamento, mas continuamos repetindo as mesmas coisas... Mudamos de casa, mas continuamos com os mesmos hábitos... Mudamos de cidade, mas continuamos não vendo beleza ao redor de nós... 
Porque, na verdade, dentro de nós nada mudou. Continuamos presos a valores antigos. Temos a tendência de sermos colecionadores. Colecionamos ferimentos e depois reclamamos que a vida não vai bem. Colecionamos as palavras das pessoas (e-mails, cartas), colecionamos imagens das pessoas (fotos e recordações)... mas isso não faz e nunca fará com que as tenhamos por perto. É desapegando que nos aproximamos. É dessa forma que aprendemos a amar e, não, a colecionar... E dessa forma soltamos as pessoas... para que livres - e apenas por amor - caminhem lado a lado. 
Observe a que você anda apegado... Onde deve ser realizada sua transformação, em que parte de você... 
Algumas pessoas dizem apenas que guardam coisas boas... Na verdade, são colecionadoras também! Não aceitam a morte (processo natural da vida), não aceitam o distanciamento de pessoas amadas... Não aceitam perder! 
Aceitar passar por um processo de renascimento é largar tudo com a consciência de que nada se perde! É passar pelo fogo como a fênix e ressurgir com o corpo diferente! 
Vá fundo dentro de si mesmo e se faça as perguntas necessárias... Pergunte-se sobre sua direção... se seu volante está firme nas mãos... Pergunte-se quem você anda levando de carona nos seus desacertos... Reflita que seus atos são espelhos pra muita gente... Faça uma lenta observação sobre aquilo que você insiste em repetir... sobre aquilo que mais gera confusão para você e para os outros com quem convive... 
Mudar um hábito necessita de uma grande atitude. Persistir nessa mudança é treino. Treino diário. É a certeza de que o mundo só tem a ganhar com seu trabalho. É a certeza de que você confia nas Leis da Vida. É a certeza de que você não perde nunca. De que tudo pode ser presente se assim você o fizer. É a certeza de que se pode aprender com o melhor dos momentos: O AGORA. É a certeza de que você pode efetuar transformações profundas, de que você tem todos os recursos pra isso - basta apenas aprender a utilizá-los ao seu favor! 
Desejo que todos possam fazer as mesmas coisas de forma diferente a partir de hoje. Que possamos reconhecer as mesmas pessoas com quem convivemos com uma nova luz. Que possamos amá-las como jamais amamos: incondicionalmente!
Que possamos transpassar nosso orgulho, reconhecendo nossas precipitações, nossos instintos e nossos desacertos. Que possamos pedir perdão e desamarrar as pessoas. Que possamos desapegar o que achamos que temos ou controlamos. Que possamos ser natureza, apenas, como uma árvore ou um pequeno grão de areia. Que possamos aceitar as coisas como são, para que sem agressividade entremos nas mudanças. Que possamos nos arrepender, mas não nos culpar. Que possamos curar nossos ferimentos, reconhecer em cada um de nós grandes médicos da alma. E que possamos espalhar nossa paz para os outros, através de um sorriso verdadeiro: não só da face, mas do fundo de nosso espírito.

 Se inspirem em fênix

"A fênix - ou fénix - é um pássaro da mitologia grega que quando morria entrava em autocombustão e passado algum tempo renascia das próprias cinzas. Outra característica é sua força, que a faz transportar em vôo cargas muito pesadas, havendo lendas nas quais chega a carregar elefantes. Seria do mesmo tamanho ou maior do que uma águia. 
A vida longa da fênix e o seu dramático renascimento das próprias cinzas transformaram-na em símbolo da superação e do renascimento espiritual.


Nesse sentido, é preciso aceitar o desafio de ressignificar as perdas, compreender que somos capazes de morrer várias vezes em vida e renascer num processo de se re-inventar sempre que a vida nos exige.


terça-feira, 19 de abril de 2016

ALÉM DA VERDADE

NÃO HÁ COMO APAGAR A FIGURA DO PAI



Me debruçando um pouco mais sobre o assunto do texto anterior, a fim de complementar a ideia exposta, gostaria de explicitar melhor, ainda que brevemente, sobre o impacto da ausência paterna no desenvolvimento psicológico, intelectual e comportamental de uma criança e ou adolescente, independente dos diversos fatores individuais de cada caso.
Este tema desperta especial interesse nos dias de hoje, por conta da modificação da estrutura familiar atual em que se observa a crescente ausência do pai. As principais teorias do desenvolvimento se baseiam no modelo de família convencional, e, possivelmente, as novas configurações familiares repercutem nas relações de um modo geral, tanto com relação ao mundo externo quanto em relação ao mundo interno da pessoa, tornando o assunto relevante.
Como já havia mencionado em VERDADE BIOLOGICA, "parece haver uma necessidade inata de filiação nos seres humanos" e as percepções e emoções associadas a essa ausência repercuti consequentemente na vida das pessoas.
São muitas as circunstâncias que levam uma mulher a enfrentar sozinha a criação de seus filhos. As que ficaram viúvas se encontram frente à tarefa de assumir, além de suas responsabilidades de mãe, o papel de pai. Aquelas que depois de um bom tempo de vida matrimonial se separam, também sentem a obrigação de virar rapidamente a página e voltar a funcionar como família, apesar da perda do companheiro e da ausência do pai. No caso das mães solteiras, o fato de não poder compartilhar cotidianamente as penas e as alegrias da paternidade, porém logo se transforma em uma carga com a qual é preciso aprender a conviver. Fora, à parte (essas por opção), as mães dos bebês gerados por inseminação artificial em que o nome do pai é "Doador", aqueles milimetricamente projetados para nunca conhecerem seu pai. 
É importante entender que não há como apagar a figura do pai do contexto da vida de uma pessoa.
Se o pai é ausente, o filho têm a necessidade de saber o porquê disso, e se possível, escutar isso da boca do próprio pai, somente se não tiver mesmo outro jeito, através da interpretação da mãe.
Abordando a questão dos pais substitutos, devemos pensar que estes também podem faltar, deixando a criança novamente com a sensação de abandono. A situação se torna mais complicada ainda, quando a mãe é dada a relacionamentos instáveis e rápidos e a cada tempo se tem uma pessoa diferente exercendo esse suposto papel. Além disso, há certo conflito interno da criança em aceitar um substituto para o pai biológico. 
Ainda tem  a questão de que a busca do filho pelo pai pode parecer para o filho como uma traição à mãe, e também que momentos críticos da vida do filho (casamento ou nascimento de um filho, por exemplo) tornam mais forte o desejo de conhecer o genitor ausente, como "uma necessidade de fechar sua história", por mais que as pessoas não digam nada, o vazio está presente e trabalha.
Pelo não dito, este vazio, segundo alguns estudos, é formado pela noção das crianças de não serem amadas pelo genitor que está ausente, com uma grande desvalorização de si mesmas em conseqüência disso. Além dessa auto desvalorização, ocorrem os sentimentos de culpa "por ser uma criança má, por haver provocado a separação, por ter nascido". A criança pensa ser má por ter sido deixada e isso pode gerar reações variadas, desde tristeza e melancolia até agressividade e violência. Desse modo os tímidos e temerosos do exterior se fecham em si mesmos, e os extrovertidos e temerosos do interior de sua história se vingam no mundo com condutas agressivas.
Em síntese, quero evidenciar no texto os efeitos negativos da ausência do pai e as repercussões decorrentes dessa ausência que podem aparecer tanto nos aspectos comportamentais quanto nas vivências emocionais produzindo variadas expressões de conflitos, defesas e sentimentos de culpa nos filhos com pais ausentes, portanto devemos estar conscientes a respeito dessas coisas.
Por tudo isso não é bobagem e nem brincadeira quando ressalto aqui a importância da verdade biológica, porque além da verdade, a única coisa que um filho quer é ter um pai e ter o direito de pensar que ele existe, ainda que esteja longe, porém que existe, de fato e direito.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

VERDADE BIOLÓGICA

DIREITO DA PESSOA  #  OPINIÃO



Há 30 anos, quando os avanços na reprodução assistida começaram a permitir a realização de procedimentos sofisticados, parecia tranquilo imaginar o uso de óvulos ou esperma doados de forma anônima em nome do sonho de ter um filho. E era. Para os pais, representava a solução do problema. No entanto, à época não se imaginou que as crianças geradas dessa forma pudessem manifestar o desejo de conhecer seus outros pais biológicos, o que hoje acontece com muitos filhos da reprodução assistida.
À primeira vista pode parecer estranho ir atrás de quem doou o óvulo ou o esperma. A motivação para fazê-lo, porém, não se resume a mera curiosidade. As crianças geradas através de doação de óvulo ou esperma não sabem qual a influência do pai biológico sobre quem ela é, mas não poder conhecê-lo significa nunca responder a essa dúvida. Mesmo que o jovem sempre tenha tido ciência que foi gerado com esperma doado sofre o dilema que a paternidade desconhecida provoca. A mesma inquietação também costuma acometer filhos de pais que não foram gerados artificialmente mas que da mesma forma têm seus pais no anonimato. O fato é que todos nós um dia paramos para nos fazer perguntas difíceis tipo “Para onde vamos?", e também tem os dias em que nos olhamos no espelho e vem o questionamento “De onde viemos?". E quando nossas origens são complicadas, atormentadas e tristes, geralmente evitamos pensar no assunto. 
Há pessoas que passam boa parte da vida tentando entender, até o dia em que, já cansadas, tomam a decisão de deletar essa busca por entendimento e aceitar o fato de que não têm o poder para mudar nada. 
Para essas pessoas Dia dos Pais, é um dia que não faz muito sentido. Comemorar ser órfão de pai supostamente vivo é meio macabro, não? O jeito fica sendo deletar esse detalhe e fazer de conta que tá tudo certo.
Filhos de pais invisíveis devem pensar que crianças deveriam ser geradas única e exclusivamente quando duas pessoas estão dispostas a "correr esse risco". Não por "insanidade total ou parcial" ou quando alguém quer ser mãe ou pai independente de qualquer coisa (à moda produção independente). No entanto é o que mais acontece por aí em todos os lugares, por todo o mundo, nas melhores famílias.
Como resultado dessa brincadeira sem graça, filhos órfãos de pais supostamente vivos não conseguem confiar plenamente em ninguém, são predispostos a um desconforto que parece os rodear.
No decorrer dessa trajetória, depois de muitos anos de inquietação, acabam parando de esperar por uma visita surpresa, quem sabe um telefonema ou um milagre desse tipo. Um dia para de doer quando perguntam de quem ele é filho, ou se ele é filho de fulano. Um dia para de fantasiar com uma pessoa que só existe na sua imaginação. Um dia para de procurar o rosto do pai perdido em rostos de desconhecidos pelos quais passa na rua. Um dia aprende a gostar dos traços que herdou de um total estranho. Um dia entende que talvez não haja motivo para querer contato com nada que venha dessa pessoa. E que é melhor não aceitar e nem querer nada que lhe faça relembrar nada disso.
Não tendo remédio, um dia aprendem a compensar de alguma forma a lacuna deixada. Porque o que não tem remédio, remediado está. E a vida segue.
Penso que os pais são como asas. Nascemos com duas asas que devem crescer e nos permitir voar. Quando uma delas não cresce, a tendência é aprender a manter os pés sempre fincados no chão. A parte triste é que muita coisa bonita da vida se perde em meio a todos esses sentimentos, e a parte não triste é a superação que acaba acontecendo, muitas vezes, no decorrer da vida quando buscamos resgatar de alguma maneira nossas perdas, sejam elas quais forem.
Sabemos que ausência paterna durante o desenvolvimento da criança e do adolescente é um tema complexo, e que ela não depende só da presença de um pai que exista apenas fisicamente ou da autenticidade de um exame que atesta uma paternidade, mas parece haver uma necessidade inata de filiação nos seres humanos que ao menos precisa ser esclarecida.
Acho que por tudo isso é DIREITO da pessoa conhecer sua verdade biológica, ou seja, não deveria ser uma escolha da mãe, mas um direito da criança.
Pode parecer irrelevante a figura do pai biológico, mas querendo ou não tem valor afetivo importante. Não mais que o valor do pai socioafetivo, aquele que exerce a função ou papel de pai (pai é quem cria), mas para além dele.

O video a seguir dimensiona essa questão ausência/presença dos pais na vida dos filhos. Veja:


sexta-feira, 8 de abril de 2016

AMOR É CONVIVÊNCIA E TUDO O QUE DERIVA DELA

O AMOR MESMO, É O CUIDADO DESINTERESSADO

Colocamos o sentimento e nossos relacionamentos amorosos num pedestal, deixando tudo mais complicado.
O amor, esse café da manhã de novela com bolo , suco de laranja e três horas sobrando pra comer e ler o jornal. Além de férias de três meses em Bora Bora e todo dia faz sol.
Como o amor é chato!
 Existem pesssoas que, por medo de se dar mal no amor, desistem da relação antes mesmo de ela amadurecer, de existir. Mas porque diabos a gente tem medo de algo tão incrível como amor? Porque superestimamos esse tipo de relacionamento específico. Vi por esses dias, por exemplo, um vídeo desses sites de casal sobre a necessidade de fazer de todos os dias, no casamento, um dia especial. Coisas como jantarzinho surpresa, uma noite de pipoquinha ou presentinhos fora de época (diminutivo não depreciativo, só copiado da expressão usava no vídeo mesmo) para a coisa não cair na mesmice, para que a relação não seja acomodada, mas interessante "o resto da vida". Imagine só a maluquice e trabalheira viver sob essa pressão de fazer o especial todos os dias e pro resto inteirinho da vida.
Não é fugir da raia, mas tirar essa importância exacerbada de que um relacionamento amoroso precisa ser especial e muito mais importante que qualquer outra convivência que temos. Nossos envolvimentos profissionais ou de amizade, por exemplo, costumam ser bem mais saudáveis, entendemos melhor os motivos para cancelamento de encontros, necessidades de mudança, tempo para aproximação ou distanciamento, a afetividade equilibrada entre as pessoas envolvidas. 
Mas no relacionamento amoroso há a necessidade de elevar tudo à enésima potência, como se a gente enriquecesse urânio e precisasse ficar aí, cheio de dedos e procedimentos especiais e desgastantes evitando o acidente. Daí, amigo, vai explodir. Porque é no oposto que a relação acontece. 
A felicidade da sua vida vai ser definida nos dias de tédio. Porque eles vão definitivamente acontecer e suas fugas com mimos especiaizinhos não vão se sustentar até que a morte os separe. Que triste isso, achar seu casamento um saco a ponto de preparar algo "diferente", "para apimentar", mais por você não conseguir ficar consigo mesmo por umas horas sem se achar enfadonho e nem ficar com seu companheiro sem achar tudo a coisa mais chata desse mundo do que por alguma busca por interesses pra essa conexão. E daí resolve fazer algo de diferente. Vocês não precisam de algo diferente, só precisam deixar de ter expectativas mimadas e fazer a relação avançar sozinha e com ele ou ela do seu lado.
Esse rolê de namorar, casar, se envolver com alguém, é das melhores coisas que a gente tem como meta ou desafio. Estragar a brincadeira toda com necessidades bobas é jogar sal no café. Os dias de bad vão inevitavelmente aparecer e nessa hora é de supra importância a ajuda um do outro, o auxílio, o companheirismo. Mas isso tudo não precisa ser "algo especial", mas só a ajuda que damos às pessoas quando estão precisando. Nada de especial, nada mesmo.
O bom de viver de forma madura um relacionamento duradouro é descobrir o valor de vivenciar não apenas o amor romântico, mas o companheirismo, o prazer de simplesmente estar ao lado da outra pessoa, enfim, as coisas comuns que esquecemos de valorizar porque a oferta costuma ser farta em um relacionamento saudável.


quinta-feira, 7 de abril de 2016

TEMOS MIL REALIDADES NÃO DITAS

O QUE CHAMAMOS DE MENTE SAUDÁVEL PODE ESTÁ LONGE DE SER COMPLETAMENTE Sà



Pare de comprar a solidez dos sorrisos e experimente perguntar, um a um, "E aí, como você tá?". Com curiosidade e interesse. Não demora: vai descobrir que estamos todos mals. Todos com a mesma mente ansiosa, inquieta, carente, desconfiada, orgulhosa, preguiçosa, fofoqueira. Todos com o mesmo corpo entortado, de ânimo oscilante, cheio de tiques. 
Boa parte de nossa vida é feita de experiências internas, porém a maioria de nossas conversas gira em torno de fatos externos – é como se 90% do que somos passasse batido, sem ser visto nem comunicado.
Por não acessar muitas de nossas áreas internas, acabamos não nos relacionando a partir delas. Desses becos que não reconhecemos nem abrimos aos outros, surgem mil problemas que tentamos atacar superficialmente, sem alcance. Dá para transformar aquilo que não conseguimos sequer chamar?
Tente dar orientações para uma pessoa no trânsito sem usar "direita" ou "esquerda". Estamos nessa condição em relação aos fenômenos mentais e emocionais. Há um abismo gigantesco entre artigos acadêmicos de psicologia ou neurociência e nossa experiência vivida em primeira pessoa, o que encontramos ao olhar para dentro. 
Para refinar nossa linguagem, é necessário desenvolver a atenção, se familiarizar com a própria mente e com o próprio corpo. Como a gente funciona por dentro? Como as emoções regulam nossa energia? Como podemos detectar os micro mecanismos que nos fisgam? 
Não duvido que dessa exploração surjam novas palavras para falarmos do que importa.



quarta-feira, 6 de abril de 2016

SOBRE OS DILEMAS DA VIDA

AO ESCOLHER UMA ROTA TEREMOS QUE DISPENSAR OUTRAS


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Muita gente parece preferir ignorar os difíceis dilemas existenciais. Ao longo da vida enfrentamos situações difíceis, dilemas que nos colocam diante de confrontos quase impossíveis de resolver usando uma lógica simplista a respeito do que é certo e errado. Certas condições humanas podem ser certas e erradas simultaneamente e não existe uma resposta óbvia ou um caminho fácil.
A maioria das pessoas evita lidar com esses momentos à todo custo, pensando que ao evitar o que está debaixo dos pano faz com que elas simplesmente desapareçam. Deixar uma pessoa que um dia já amamos, permitir que um filho lide com um momento difícil sozinho, enfrentar uma doença crônica ou fatal sem autopiedade, enfim, são muitas escolhas duras pela vida.
Ao contrário do pensamento comum ignorar um fato não o torna menos doloroso ou amargo, falsamente o remedia e de forma geral coloca fermento na questão. Problemas humanos não desaparecem sem ação, eles crescem, mofam, se incrementam, criam garras e quando notamos ele ficou ainda mais impregnado em nós. O efeito colateral de evitar uma dor, uma perda ou um destino difícil, é que sem perceber, nos desfiguramos e moldamos para ajeitar aquela dor que tenta ser evitada.
Inconscientemente vamos criando uma casca de proteção para conviver com o espinho cravado no peito. Para proteger essa dor de mais dor criamos outros problemas, nos afastamos dos outros, recusamos possibilidades concretas de saída e até magoamos quem quer ajudar. Uma camada de dor vai se sobrepondo a outra, até que em dado momento da vida já não lembramos mais quem fomos originalmente. Aquela criança que tinha esperança, generosidade e doçura com o passar dos anos, para proteger um conflito moral antigo, acaba endurecendo, perdendo a confiança nas pessoas e agindo como se todos tivessem que pagar pelo mal secreto que carrega consigo.
Os resultados desse tipo de endurecimento podem ser vistos por todos os lados, é só procurar, repare. Pessoas incapazes de se relacionar intimamente com outras por que se fecharam numa mágoa quase irrevogável seja pelo pai que se ausentou ou a mãe que disse coisas terríveis. Quantas mães também carregam seus bloqueios e não conseguem se conectar com seus filhos por culpas secretas ou por lembrarem do namoradinho desaparecido que deixou um filho na rota de fuga.
Existem ainda os que fazem escolhas morais irreversíveis e, depois de cruzarem a linha do que consideravam certo ou legítimo, assume perpetuamente o papel de ovelha negra. Intimamente a pessoa não se sente merecedora de nenhum amor por ter prejudicado alguém. 
Quanto sofrimento causamos e ainda vamos causar por conta dessa inconsciência interior? Essa impulsividade associada à negação certamente criará outros ciclos de culpa, tentativa de expiação e problemas sobrepostos.
Ao ouvir as pessoas relatando os seus dilemas impossíveis, no fundo o que buscam é um tipo de cura para o que não tem cura. No fundo gostariam de apagar o fato de que seus desejos as levam para lugares prejudiciais e que na maioria das vezes, mesmo sabendo que caminham em direção ao precipício, não querem deter os próprios passos. Para alcançar o “prêmio” guardado no despenhadeiro moral machucam à si mesmas crédulas que salvariam seus corações da dor fundamental de existir.
O que ignoram é que mesmo obtendo o emprego dos sonhos, o amor de suas vidas, o dinheiro milionário ou todo conhecimento do mundo, ainda assim lidarão com escolhas difíceis. Não é possível seguir numa direção sem sacrificar algo no meio do caminho. O que desejam silenciar com buscas insaciáveis é que ao escolher uma rota a outra é dispensada e que não conseguimos incluir todos os nossos pertences prediletos.
Uma vez que o tempo passa os dilemas parecem não acabarem e se tornam mais complexos e sem trégua. A velhice se aproxima, a morte ronda com mais força e as dores emocionais se tornam físicas. A ampulheta revela que não somos invencíveis. Descobrimos que mesmo com todos os esforços (e tentamos freneticamente) aquilo tudo no que apostamos com todas as forças terá um fim. Até mesmo o consolo espiritual que muitos buscam não cicatriza com facilidade pelo fato de que a vida como a conhecemos em algum momento, nesse mundo, deixa de existir.
O que resta então, parece ser esse sentimento inconveniente de finitude em que todos estamos no mesmo barco tentando nos distrair colocando mimos no meio do caminho e criando pequenas aventuras e problemas. Tudo isso é muito bonito também, dá o colorido rotineiro, mas ainda parece insuficiente.
Em algum momento diante das perguntas essenciais (e ignoradas) da vida o que nos conforta é que podemos contar uns com os outros. Mesmo o mais miserável recorre ao seu cachorro de estimação para lidar com sua dor. Talvez o segredo da vida esteja nessa capacidade gregária de se proteger da dor. Nós já sabemos disso, principalmente quando pudemos contar com alguém e nos sentimos aliviados por compartilhar um segredo, uma maldade ou uma dor. Nesses tropeços emocionais é onde trombamos no amor daqueles que nos resgatam o que há de melhor. 
É no fundo dos olhos de outro ser vivo, que encontramos o colo perdido da mãe e nele que podemos nos proteger das tempestades áridas das questões humanas.


terça-feira, 5 de abril de 2016

O JOGO NÃO PODE PARAR

JOGOS FINITOS x JOGOS INFINITOS



Há alguns dias ficamos sem conexão com a internet. Essa é uma versão moderna e um pouco mais cruel do antigo problema da falta de luz. Digo mais cruel porque os aparelhos continuam funcionando, mas sem internet são apenas caixas luminosas, sem muita utilidade.
A solução para esse problema foi desempoeirar a caixa do banco imobiliário que comprei para os meus filhos há muito tempo quando ainda eram adolescentes. As regras do jogo são simples, vence quem falir todos os outros jogadores, assumindo monopólio da cidade hipotética.
Em jogos de tabuleiro, é comum ver a seguinte dinâmica em ação.
Quando a partida começa, todos estão igualmente empolgados. Logo após as primeiras rodadas, os ânimos passam a se alterar. Quem está ganhando vai ficando mais excitado e elétrico. Quem está indo mal começa a desanimar e vai se retraindo, perdendo a vontade de continuar.
Para o propósito de ganhar, o competidor está disposto a ver as outras pessoas infelizes e até cometer alguns excessos no caminho, fazendo chacotas e se gabando ao longo da partida. Num jogo onde existem apenas duas possibilidades, a felicidade do vencedor tá na frustração daqueles que não conseguiram chegar lá. É assim que funcionam os “jogos finitos”, o objetivo é ser o vencedor.
Lendo assim, pode parecer estranho, mas essa é a mesma mentalidade que carregamos para nossas vidas.
Agora imagine um formato de jogo onde não conseguimos apontar um vencedor, onde as barreiras temporais são removidas, não sendo possível dizer quem ganhou ou por quanto tempo o jogo está rolando. Um modelo que transcende a vida e a morte, que vai além do que somos, ou que conseguimos imaginar para o futuro.
É assim que funcionam os chamados “Jogos Infinitos”.
Fomos criados por nossos pais com a crença de que precisamos vencer na vida. Se não passar de ano, é um perdedor. Mas se for aprovado em medicina, certamente é um vencedor. Raramente te lembram que, se acontecer algum problema no caminho e dessa vez não der certo, ano que vem está aí. Pode até representar um pequeno atraso, mas ninguém vai morrer por conta disso, a bola continua em campo.
Ter uma figura definitiva, seja o vencedor ou o perdedor, implica que o jogo termina naquele ponto, e como demoramos para descobrir, não é assim que a vida funciona. Depois de entrar na faculdade, uma nova rodada começa, novos problemas surgem. Um emprego ruim não significa ser um perdedor, além do mais, pode ser a porta de entrada para outras oportunidades melhores. Assumir que alguém se deu bem ou mal baseando-se num pequeno evento, num curto espaço de tempo, é simplificar demais algo muito mais complexo.
Quando mudamos a forma como enxergamos a realidade, muita coisa deixa de ter importância. Deixamos de lado a postura de competidores e assumimos um olhar contemplativo. Estamos aqui como parte de algo muito maior, apenas deixando nossa contribuição e, quando formos embora desse mundo, o jogo continuará sem nós.
Ouvimos o tempo todo pessoas questionando se são velhas demais para começar algo novo, mas quando não existem vencedores, pouco importa sua idade. O que importa é garantir que ainda está participando do jogo.
Precisamos deixar de acreditar nesse cenário falso onde um precisa perder para o outro ganhar.
Ao deixar de jogar o jogo finito e partir para o jogo infinito, nos tornamos mais humanos.
Nos encontramos como parte do universo, e aí a única coisa que importa é que o jogo não pode parar.
"Vencer na vida" não existe. Na vida, querder vencer é o pior jeito de jogar.


segunda-feira, 4 de abril de 2016

SER ADULTO É ESTRANHO

ADULTIVEZ



Quando nos damos conta, olhamos para trás e só o que vemos são lembranças da nossa infância. Quando fecho os olhos, ainda sou capaz de lembrar, com detalhes, do meu quarto na casa da minha mãe. Vejo as paredes com pintura que imitava papel de parede , a posição da cama, o cor do meu armário que era laranja e até um poster com minha fotografia junto com meu irmão na parede. 
Nem parece um passado tão distante assim, mas hoje tenho quase 50 anos e muita coisa mudou desde a época que eu contava os meses para dizer que, finalmente, era uma adolescente.
Quando somos mais jovens, criamos uma certa expectativa sobre a vida adulta. Não à toa as frases “quando eu for grande” ou “quando eu for adulto” são tão repetidas pelas crianças.
Ficamos esperando uma mudança brusca, aquele momento onde viramos adulto, aquela virada de chave, mas fazemos 18 anos e isso não acontece.
O processo, na verdade, é bem mais gradual, variando bastante para cada um de nós.
Apesar do estereótipo de adulto sério e responsável, a maioria de nós sustenta uma máscara, projetando essa seriedade por ser o que o mundo espera.
Mas lá dentro, pouco muda.
Você cresce e continua gostando de coisas bobas, sentar para falar bobagem com os amigos continua sendo divertido, sendo uma das melhores formas de distrações que existem.
Desenvolvemos um senso de responsabilidade, mas a bobeira da juventude tende a continuar por ali.
Por algum tempo, entramos na pilha da adulta séria super responsável, o que nos causa vários conflitos internos. Hoje, evito incorporar o personagem da velha chata. 
Como se sabe, a vida é essa instável corda bamba, que em algum momento as coisas podem - e vão - dar errado. Neste momento existem pouquíssimas pessoas que podem nos ajudar. Quando nos damos conta, estamos ali, sozinhos e perdidos no mundo.
Todas as vezes que me encontrei em situações como essa, por mais distante que eu estivesse, a família representou uma base de apoio, pessoas dispostas a se sacrificar em algum ponto para ajudar no que pudessem. Saber que nossa estrutura familiar possui esse importante papel é importante por dois motivos, o primeiro é a liberdade em se abrir e pedir ajuda quando for necessário, o outro é estar preparado para ser a pessoa que estende a mão para resgatar alguém que ficou pelo caminho.
Também concluimos que sabemos menos do que achava que saberia.
Lembro das perguntas que fazia para minha mãe quando era criança. Era como se ela fosse o grande oráculo da sabedoria, como se tivesse conhecimento para curar todas as doenças e resolver todos os problemas. Cresci esperando ser a pessoa que tem todas as respostas, mas hoje olho para trás e vejo que ela estava tão perdida quanto eu.
No inicio da fase adulta temos muitas certezas, parece que estamos próximos de reter todo conhecimento sobre praticamente tudo, mas o tempo vai passando e precisamos reconhecer que não sabemos muito bem o que está acontecendo, muito menos para onde estamos indo.
Por existir a pressão social em saber com toda firmeza o que queremos, muita gente ainda carrega essa postura, mas não demora muito para entender que tudo é confuso demais, que novas informações surgem o tempo todo e, no fim, não fazemos muita ideia de muita coisa.
Uma das minhas frustrações ao ficar um pouco mais velho foi reconhecer que os adultos não deixam transparecer os pequenos problemas e medos que sentem. Existe muito teatro, muita projeção de uma realidade que não é exatamente o que encontramos quando chegamos lá.
Minha preocupação agora é imaginar tudo o que aqueles, ainda mais velhos do que eu, não contam sobre sua fase da vida. Muita surpresa ainda deve surgir pelo caminho.
Poderíamos comparar a entrada na vida adulta como ir para creche quando criança: você chora no começo e com o passar do tempo vai se distraindo, só que a diferença é que ninguém vem te buscar depois kkkkkkk.
>> Ninguém pode te buscar da vida, cabe a você somente viver (e sobreviver) nela <<


sexta-feira, 1 de abril de 2016

AMOR FAST FOOD

SAPATO NA VITRINE



Tem gente que tá atrás do relacionamento perfeito, mas não se entrega a relacionamento algum.
Tem gente procurando algo perfeito. Talvez realmente encontre essa perfeição em alguém, mas isso certamente vai durar apenas alguns dias. De repente, ao acordar numa manhã se dê conta que aquele parceiro perfeito se transformou em uma pessoa real. Com quem: era preciso conciliar os horários de cada um; ele e ela possuíam gostos diferentes; ambos provavelmente tinham valores, sonhos e desejos distintos.
É uma questão de entender que encaixar uma pessoa dentro da sua realidade – é, ao mesmo tempo, descobrir como fazer parte da realidade dela – e isso não precisa ser necessariamente um problema. Na verdade, pode – e deve – ser bom.
O problema é que não se quer uma pessoa, mas uma esposa (ou namorada, ou noiva, chame do que quiser) que já venha pronta. Essa é a perfeição que se busca, um relacionamento que seja planejado, construído e formatado dentro dos moldes que você mesmo criou.
Percebo que o vazio existe no mundo moderno, assola os relacionamentos em que já começam errados. As pessoas tem 6.000 combinações em sites para conhecer pessoas e  não tem a mínima vontade de falar "oi" ou ligar  pra alguém, isso chega a ser complicado e até ser triste... Mas 'ficas' ou 'sexo sem compromisso' tem de montes por aí a fora, chega a ser até fácil de identificar uma relação assim que um dos lados só quer isso!  Por isso penso que estamos nos tempos de relacionamentos vazios do tipo  'fast foods'. 
E viva a tecnologia que nos trouxe os 'fast foods' da vida, ou não, para os que procuram realmente um envolvimento mais sério.
Acho o seguinte: tudo o que a gente espera do outro é apenas reflexo do que a gente não superou em nós mesmos.
Os aplicativos já nos coloca na situação de "estar na vitrine". Eu não participaria de nenhum. Não gostaria de ser escolhida pelo avatar. Prefiro alguém me olhando nos olhos e se encantando com meus tropeços diários. Porque é esse o alguém que vale a pena. Um ser cheio de alegrias e falhas. Compatível comigo é aquele disposto a aprender.  Disposto a reconhecer as próprias fraquezas.  Eu não quero alguém "similar" a mim. Eu quero que minha energia alcance alguém que se identifique com minha busca. E só assim, haverá um encontro real. Ninguém acha ninguém. A gente se reconhece nos caminhos da vida. 
Esses tempos líquidos... escapam por entre os dedos. E as pessoas ficam cada vez mais parecidos com um sapato na vitrine. E depois de alguns meses de uso, é necessário trocar. Não há mais conserto. 
Admiro aqueles que se reinventam, que ao invés de mudar de parceiro, mudam o próprio olhar buscando descobrir mais um pedacinho do companheiro. 
A sensação de variedade que esses aplicativos modernos trouxeram, vem justamente da sensação de que todo mundo é substituível e de que não vale muito a pena lidar com conflitos porque ali na frente, mais cedo ou mais tarde, acharemos outra pessoa interessante.
Quando analiso a vida de solteira, ela parece tão cômoda que dá preguiça de tentar conciliar a nossa bagunça com a bagunça de outra pessoa. Eu acho sim que tem que haver uma dose absurda de resiliência, que temos que ter paciência e mente aberta, mas ao mesmo tempo, tem que haver uma compatibilidade mínima, tem que haver algo no outro que a gente admire e deseje. 
Viramos entusiastas do individualismo (não da individualidade) e passamos a tratar as pessoas como descartáveis, eis o grande erro: As pessoas talvez sejam substituíveis, descartáveis não, e nessa ânsia por encontrarmos o melhor dos outros sempre, esquecemos de olhar pra nós mesmos e avaliarmos se realmente nós estamos à altura de receber tudo aquilo que queremos.
Esse é exatamente o grande vilão dos relacionamentos de hoje, o "amor fast food", pronto, utilizável, que visa apenas saciar o prazer que cada um de nós carrega. Ninguém tem mais tempo para buscar conhecer o outro, suas frustrações, medos, desesperos, defeitos e qualidades. O aplicativo fast food permite que você encontre quem possa te dar uns carinhos, trocar momentos bacanas, e aí quando passa o encanto, e a convivência passa a ser uma coisa comum entre os pares, recaímos em uma frase famosa de Millôr Fernandes: "Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos."