segunda-feira, 25 de abril de 2016

PARA DIVORCIADOS, SEPARADOS, DISTANCIADOS AMOROSOS

RESPEITE AS SUAS PERNAS CANSADAS E SEU CORAÇÃO EXAUSTO

A chance de um relacionamento que começa imediatamente depois ou concomitante a uma separação tem grandes chances de ser fruto de desespero do que amor real.
O ponto é quando a pessoa recém separada não respeita os sinais óbvios dessa fase difícil e logo se atira em histórias que parecem ser a resposta para sua aflição. Na maior parte das vezes não é.
Diria que a pessoa que se presta a se relacionar com alguém que está recém-separado corre um risco altíssimo de ser confundida com uma miragem do passado. Ela se vale de uma vulnerabilidade de momento e se coloca como enfermeira emocional do enlutado, sem perceber entra num jogo vencido. Do outro lado a pessoa fragilizada aceita qualquer ajuda e expressão de amor e cede imaginando que aquilo vá tornar os dias menos amargos. Mas no fundo sabe que tem muito pouco a oferecer, pois ainda está digerindo uma série de mágoas, decepções e sentimentos de impotência. Ainda não conseguiu fazer uma reavaliação da própria vida com imparcialidade e já tenta sair de uma ressaca enchendo a cara de novo com o amor fresquinho de alguém.
Não é justo com ninguém, pois a pessoa nova que chega vai ter que engolir comparações desnecessárias e lidar com sequelas sem sentido. Do lado de fora veremos o sorriso complacente e generoso da pessoa esperançosa aguardando que os piores momentos passem. Começa a entrar em histórias que não a pertencem na tentativa de ajudar na cura emocional do outro, mas tudo em vão. Aquela hora precisa é tempo de ficar só.
A solidão pós-separação é um ritual muito pouco respeitado, em especial pelos homens que tem uma dificuldade em lidar com o buraco e o fracasso do casamento, o fracasso de múltiplas tentativas de reerguer um gigante falido que exauriram todas as forças físicas, psicológicas, financeiras onde não se consegue caminhar adequadamente, cambaleando na vida e extremamente carente de apoio, acolhimento e proteção.
Imediatamente após (ou até antes) do divórcio já costumam colocar uma nova dama em sua cama para apaziguar uma dor silenciosa que corroi seus dias ruins. As mulheres, educadas a experimentar a sua dor com honestidade, costumam respeitar mais o seu tempo de recuperação (nem todas). De modo geral é possível reconhecer a pessoa recém-separada pelo olhar aparentemente vivo e elétrico, mas no fundo vazio e prestes a explodir em raiva e choro.
Óbvio que não sou um idealista que acredita que todas as relações deveriam iniciar com todas as pendências plenamente bem resolvidas. O que estou reforçando é que engatar uma relacionamento no outro interminavelmente costuma ser uma estratégia de pessoas desesperadas. Alguns conseguem um tempo de cicatrização mais rápida, mas a maioria apenas transfere o saldo devedor de uma conta para outra. Os problemas emocionais não foram evidenciadas, a possibilidade da pessoa simplesmente culpar o ex é alta e o conflito que deveria ser olhado de perto se perde no meio de declarações precipitadas de amor a outra pessoa. O problema real continua ali aguardando a ressurreição e em momento propício vem à tona em forma de um novo ciclo de dor. A pessoa que aguardou pacientemente o outro se recuperar do luto começa a reivindicar seu trono e aí a coisa vai complicando a tal ponto que o inferno volta a se instaurar, também no novo relacionamento.
Se eu pudesse dizer alguma coisa para alguém que está recém-separado seria, siga em frente, mas respeite suas pernas cansadas e seu coração exausto.


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