quarta-feira, 29 de julho de 2015

APEGADOS # VICIADOS EM COMPANHIA

FELICIDADE NÃO É ALGO QUE SE BUSCA FORA


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Martha Medeiros é jornalista e escritora, e sabe como poucas expor com clareza, leveza e lucidez os assuntos que mais permeiam o nosso imaginário que é o amor e as relações. Admiro bastante o trabalho dela.
Nós nos movemos o tempo inteiro tateando por aí sem saber exatamente como agir em relação a felicidade e o amor,  tentando descobrir formas de diminuir a confusão e o sofrimento que causamos e aos quais somos submetidos. 
Sabemos que ninguém está livre de frustrações, ninguém. Quem não as aceita está condenado a passar a vida se queixando e se vitimizando. Felicidade não é algo que se busca fora, ela é construída internamente, é regida pelo estado de espírito. Envolve resiliência, humor e uma visão desestressada para o que acontece em volta. A maneira como se administra os prazeres e os revezes é que vai determinar se a pessoa viverá dramaticamente ou com leveza.   
Em outra ocasião escrevi um texto aqui  sobre como o romantismo nos faz confundir amor com apego — e como isso causa sofrimento nas relações. Esse mesmo contexto encontrei em um texto de Martha Medeiros (Viciados em Companhia). Achei interessante e resolvi compartilhar com vocês aqui. O texto não está na íntegra, mas  o exposto é o suficiente para refletirmos sobre apego, amor e autoestima. Em suma a ideia é: para nos livrarmos do apego, temos que aprender a nos amar sem necessitar do olhar do outro, porque é o nosso amor próprio que nos ajuda a ter compaixão pelo outro e a reconhecer como humana as suas fragilidades, falhas, ineficiência, tudo que também vamos encontrar em nós mesmos.  
  
 Segue texto...
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"Sozinho é uma coisa, solitário é outra. Não confio no amor de quem não consegue ficar sozinho. Nunca foi ao cinema sozinho, nunca viajou sozinho, perambula pela rua feito um cão que se perdeu do dono. Sentar na lanchonete de uma livraria para tomar um cafezinho assemelha-se a uma catástrofe. Ficar sozinho lhe parece vergonhoso, e isso é evitado com o mesmo afinco com que evitaria a morte.
Para ele, qualquer parceria é melhor que nenhuma. Uma conversa chata é melhor que o silêncio. Um chato é melhor que ninguém. É praticamente um viciado em companhia. E, como todo viciado, critério não é o seu forte. Não confio no amor de quem não se suporta. De quem telefona a fim de papo furado, de quem envia mensagens só para ouvir o sinal da chegada da resposta, de quem precisa se iludir de que não está só. Quem de nós não está só?
Uma manhã de frente para o mar, uma tarde com um livro, uma noite com um filme, três dias inteiros numa cidade estranha, uma cama vazia – para ele, simulacros do inferno. Não confio no amor de quem não se entretém. De quem se desespera em frente ao espelho, de quem não consegue se maravilhar num jardim, de quem não viaja ao ouvir uma música, de quem não gosta de andar de ônibus enquanto aprecia a paisagem pela janela, de quem não se sente inteiro. 
Eu sozinha sou muitas. Sozinha, tem mais foco o meu olhar, tem mais profundezas o meu ser. Sozinha tem mais espaço minha liberdade, tem mais imaginação a minha fantasia, tem mais beleza a minha individualidade. Sozinha tem mais força o meu pensamento, mais inteireza a minha vontade. Não confio no amor de quem negocia sua autenticidade.
Como amar de verdade outro alguém, se não sabe de onde esse amor vem? Onde foi gerado, por que é necessário, que atributos ele contém? Amar é doar, não vem do doer. Amar é saber que aquele que a gente ama, se faltar, vai deixar saudade, mas não nos transformará num cadáver a vagar. Não confio em quem ama para ser um par, não confio em quem quer apenas se enquadrar, não confio em quem ama por não se tolerar.
Amar tem que ser extraordinário. Além do que já se tem. Se sozinho você não se tem, amar vira tubo de oxigênio, ânsia, invenção e enredo barato, perde a dignidade, o amor vira muleta e trucagem. Confio no amor de quem não precisa amar por sobrevivência, de quem se basta e mesmo assim é impelido a se dar, porque dar-se é excelência, não é mendicância. Não confio no amor de quem não se ama em primeira instância."
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São proposições manejadas com muita lucidez pela autora!

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