terça-feira, 14 de julho de 2015

ACORRENTADOS AOS OUTROS

QUAIS OUTROS TE IMPORTAM?
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O inferno são os outros, eu já disse isso aqui nesse blog em http://aautoimagem.blogspot.com.br/2015/02/nova-postagem_21.html, mas raramente acrescentam que os outros são também o paraíso e o purgatório, tudo ao mesmo tempo.
São os outros que compram a última peça imperdível da promoção, que nos cortam no trânsito, que nos roubam aqui e ali, que nos tiram a paz.
Mas também são os outros que nos amam, que acham que somos lindas, que nos estendem a mão, que validam nosso diploma, que pagam nossos salários, que operam nosso coração.
Não há como fugir dos suplícios e delícias de compartilhar a loteria com sete bilhões de outras pessoas tão únicas e tão egocêntricas quanto nós — egoístas ao ponto de se importarem mais com elas mesmas do que conosco!
Estamos acorrentadas à Prisão Os Outros não quando nos importamos com as opiniões de quem nos rodeia, mas quando não percebemos que podemos escolher quem nos rodeia.
Talvez o pior dos elogios que eu possa receber é: 
"Ai, Rosane, um dia quero ser assim que nem você, não ligar para a opinião de ninguém!"
Mas uma pessoa que não liga para a opinião de ninguém é uma sociopata, imersa em seus próprios problemas e necessidades, cega e surda a todas as pessoas à sua volta.
Eu não sou assim (espero!) e não acho desejável que ninguém seja.
Não temos a escolha de não nos importarmos com a opinião das outras pessoas.
Mas temos a escolha de nos importarmos com a opinião de quais pessoas.
Somos seres gregários.
Se havia de fato pessoas que não ligavam para a opinião de ninguém, elas ou foram expulsas de suas tribos ou saíram por vontade própria, e morreram sozinhas, no meio do mato, sem deixar descendentes — provavelmente muito felizes.
Somos todas descendentes das pessoas que ficaram na tribo, que seguiam suas regras, que ajudavam umas às outras mesmo quando não tinham vontade, que morriam de medo de não estar adequadas à normalidade vigente, que faziam de tudo para pertencer ao grupo.
Por isso, uma das tarefas mais difíceis na vida de qualquer pessoa é ir contra as expectativas do nosso grupo.
Nunca será fácil anunciar para nossa família "normal" que somos "diferente", ou para nossa família de médicos que vamos cursar Geografia. Se já é difícil sair publicamente de um grupo de amigas de infância no WhatsApp, o que dirá então de sair publicamente de uma igreja, abandonar uma graduação, terminar um relacionamento, ou coisas do gênero!
Dizer “não” às pessoas que nos cercam, às pessoas que nos viram crescer, às pessoas que rezam, estudam, casaram conosco, vai contra os nossos mais profundos e arraigados instintos gregários, instintos selecionados por um milhão de anos de evolução, instintos responsáveis por nos tornar a espécie dominante desse planeta.
Não é fácil negar esses instintos, mas é possível.
E, se não quisermos ser escravas das expectativas do nosso grupo, é necessário.
Hoje em dia, a opção não é mais ou aceitarmos as regras da nossa tribo ou morrermos sozinhas no mato.
Existem outras tribos, podemos escolher qual outras, é escolha livre da prisão. 
A prisão não é se importar com Os Outros, mas não perceber que podemos escolher quais Outros nos importam.


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