Os que correm desde 1970
Nunca ouviram falar de suplemento, e de manhã caem de boca num pão com manteiga, café com leite. Acordam cedo para treinar há pelo menos 30 anos.
Tênis caro desconhecem. Não parece ter dor, nem está ali por meta alguma.
Ele corre porque gosta e faz isso há milhares de anos. Ele não ouve música, nem tem tênis da moda.
Também tem as senhoras corredoras. Elas têm mais de 70 anos e correm… sorrindo!!! São fora da curva. Fazem a coisa toda parecer fácil.
Pode ter certeza: os senhorezinhos e as senhorinhas nunca vão te atropelar, ou te perguntar em quantos segundos você baixou seu tempo. Sabe por quê? Não estão preocupados com nada disso, eles só vão em frente. E, como o em frente deles é curto, não têm tempo a perder com bobagens.
Os que vão para tempo
São aqueles que voam nas provas. Eu confesso: tenho medo deles. Eles são sérios, não brincam em serviço. Sabem o que dizem as pesquisas. Leem livros importantes. Falam com pessoas que conhecem a corrida em riqueza de detalhes. Para eles, o treino é quase uma religião, no sentido de que, pelo treino, eles se ligam novamente a algo superior. Então, ali não é lugar de brincadeira. Conversar e correr ao mesmo tempo? Nem pensar. Escutar música e correr? Raro! Correr e pensar no próximo treino enquanto corre? Sempre!
Eles são diferentes. A comida é completada com os suplementos mais variados, modernos e tecnológicos. Eles conhecem as principais provas com profundidade e sabem diferenciar um treinador de outro pelo estilo de planilha. Tênis, eles conhecem todos.
Quanto ao tempo: eles fazem cálculos, sabem que no minuto X têm que estar no km Y e, se isso não acontecer, vão ter que optar por outra estratégia. Pular treino até podem em casos de chuva intensa, frio indecente ou algum compromisso que não pode ser transferido. E, nas raras vezes em que isso acontece, o demônio da culpa os domina e eles não sossegam enquanto não colocam a planilha em dia.
É bonito de ver, mas é difícil de copiar.
Porque, ó, é praticamente como ter uma vida dedicada à corrida sem ser corredor profissional. O que quer dizer que, além do tênis, dos suplementos, do relógio e dos treinos, a pessoa ainda tem que trabalhar, cuidar de filho, deixar o IPVA em dia. Meus queridos e minhas amadas, vocês estão de parabéns.
Os avoados
Os avoados correm distraidos, conversam enquanto treinam, dão bom-dia para morador de rua. O que você aprende com eles? Que distrair a cabeça numa prova longa é tão importante quanto treinar meses a fio.
Porque, tirando algum fator extra como lesão ou cansaço físico, a cabeça tem um papel muito importante para um corredor. É ela, junto com os treinos, que vai determinar se você vai mais um quilômetro ou se para por ali. A cabeça tem o poder de te animar numa prova. Agora, se ela te diz: “Hoje não dá”, você está lascado. Suas pernas terão que fazer o dobro de esforço para que você siga até o final do seu destino. Se é que elas irão obedecer a uma vontade que você está tirando da alma.
por isso que os avoados têm o seu valor porque sabem dá leveza às provas — trazem uma alegria contagiante também.
Normalmente, os avoados são os mais animados nas corridas. São eles que gritam, têm ânimo para combinar óculos com viseira e a camisa.
Há quem ache que eles não corram nada. Eu discordo, até porque, para mim, sujeito correu um pouco mais forte do que uma caminhada já está valendo.
Não pense você que um corredor avoado não treine. Eles fazem tudo o que qualquer outro corredor faz. Com a diferença de que fazem sem muito foco na corrida. Algum problema nisso? Para eles, nenhum. Para todos os outros, menos ainda. E sigamos, pois, para o quilômetro seguinte.
Os que chegam por último
A gente sempre vê o último colocado, fazendo um esforço descomunal, passos curtos e lentos. Quando finalmente cruza a linha de chegada, sempre os corredores que ainda estão por ali vem pra abraçar o danado.
Eles sorriem, juro. Estăo cansados, um pouco ofegante, mas felizes demais. Da próxima vez que você souber de uma prova, vá assistir e, se puder, fique até o último passar — ele normalmente vem seguido por uma ambulância e alguns motoqueiros da polícia. Ofereça seu abraço e você vai receber muito mais, e ainda vai se perguntar: “Por que eu também não estou correndo?”.
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