DEVEMOS EQUILIBRAR AS EXPECTATIVAS POSITIVAS E NEGATIVAS A RESPEITO DA VIDA
Há um lado bom de ser só um pouquinho pessimista, mas só um pouquinho, ajuda a evitar decepções desnecessárias.
Expectativas estão presentes em quase todas as formas de relações, sendo um dos principais motivos para nossas chateações. Esperamos algo de prestadores de serviço, dos produtos que compramos e das pessoas que nos relacionamos. Esperamos algo do nosso chefe - nem que seja reconhecimento pelo esforço -, dos nossos amigos e até da comida que comemos.
Quando o fantasiado não bate com a realidade, o que sobra é sofrimento.
Infelizmente, somos ruins em controlar as fatores externos. Adoramos sentir que tudo está sob controle, mas a quantidade de variáveis torna as situações incontroláveis.
Quando essas coisas nos chateiam, não foram elas ativamente que fizeram isso. Foi nossa expectativa em cima delas que fez.
Não temos como interferir diretamente nos eventos externos, por isso é ruim depositar tanta esperança neles. O que podemos, no entanto, é alinhar a forma como enxergamos as possibilidades.
Os filósofos nos dão uma boa dica de como lidar com as expectativas da vida. A forma mais simples de definir a ideia dessa linha filosófica é basicamente a de ser indiferente ao destino.
Sabemos que coisas ruins acontecem o tempo todo, por isso não deveríamos nos surpreender quando nos deparamos com elas. O reconhecimento de que o pior cenário também é possível nos ajuda a não ser pego de surpresa.
Quando chove e nossos planos são estragados, mesmo que fiquemos tristes, não é o fim do mundo. Sabemos que não é possível decidir como a natureza vai se comportar. Por que então achamos que todo resto das coisas será diferente? Então por que, quando somos traídos por alguém, por mais chato que seja, nossa reação é diferente? Desde que relações humanas existem, traições acontecem. Não deveria ser surpresa que um amigo vá nos sacanear, que um namorado pode acabar ficando com outra garota ou que aquele sócio vai te passar a perna.
Para quem não está acostumado, tal dose de pessimismo pode soar prejudicial, como se nos impedisse de viver a possibilidade positiva das coisas. Mas vamos voltar ao exemplo da chuva: Não deixamos de fazer planos, organizar festas e feriados na praia porque existe a chance de chover. A única coisa que muda nisso tudo é como vamos reagir caso aconteça.
Parafraseando Lívio (56 AC - 17 DC): homens sentem o bem menos intensamente que o mal. É normal que a esperança e a ilusão do positivo sirvam como alimento das possibilidades, mas uma dose de realismo na hora de fazer planos evita bastante dor futura.
Como toda forma de filosofia aplicada a vida real, é necessário observar até onde suas aplicações são válida. A ideia não é abandonar todo otimismo e felicidade da vida, apenas respirar fundo e considerar sempre a parte ruim.
Entender que somos humanos e que alimentar expectativas ilusórias é algo que fazemos automaticamente nos deixa mais consciente de nós mesmos. Ao aceitar esta condição como verdadeira, podemos inclusive alinhar expectativas que outras pessoas possuem da gente, evitando que sofram sem necessidade.
Não é que todo nosso sofrimento venha das ideias que criamos em nossa mente, mas muitos deles certamente vem. Ou como diria Seneca: “Sofremos mais frequentemente na imaginação do que na realidade.”