TODOS OS MOMENTOS ESTÃO SENDO-TEMPO
Nossa vida parece estar sempre para chegar ou já ter passado.
Nossa relação com o tempo é de desconexão. Alternamos entre correr atrás do tempo (estresse, ansiedade, correria, distração, "quase lá") e esperar o tempo chegar (tédio, torpor, embotamento, depressão, "quando tal coisa acontecer, aí sim...").
O tempo das coisas, os ciclos da natureza, os ritmos das pessoas parecem diferentes do nosso ritmo. Não nos sentimos no tempo certo. É como assistir a um filme com o áudio fora de sincronia. Ou, numa metáfora espacial, estarmos sentados meio tortos em uma cadeira: não é gostoso.
Nós nunca vamos relaxar de verdade dentro de uma sensação de ter um minuto, uma hora, uma tarde, um dia, uma semana, um mês, um ano, uma década, uma vida. Pense: se tirarmos férias de um mês, teremos um mês de tempo, ou seja, vamos relaxar só um pouco, restritos ao relaxamento de um mês. É igual tentar boiar no mar logo depois de ver uma onda bem grande despontando no horizonte. Você deita com prazo de validade. Mesmo enquanto dura, há um pano de fundo de inquietação. Estamos mais deitados sobre nossa própria tensão do que no oceano.
Quando nossa mente começa a não se restringir a alguma duração de tempo, pode surgir aquela famosa sensação de ter passado uma hora em um minuto ou um minuto em uma hora. E então, mesmo se temos apenas 9 minutos de conversa com alguém, nossa mente repousa com todo o tempo do mundo. Diz-se que o único tempo infinito se encontra além da sensação de temporalidade, além do tempo — senão é sempre algum lugar no tempo, antes ou depois de algo, limitado, mesmo que estejamos falando da maior sub-divisão de tempo na escala de tempo.
Nesse sentido, os vários tempos são inseparáveis das realidades onde aparecem. É ok esperar uma hora entre chegar no aeroporto e embarcar, mas uma hora é demais para esperar o feirante arranjar o seu troco. Dez minutos são uma eternidade quando estamos com dor, mas passam rápido quando estamos com prazer, e assim por diante. É por isso que o tempo é relativo e sua percepção depende da mente, inseparável de toda a nossa experiência de realidade. A sensação de urgência, a sensação de ter passado muito ou pouco tempo, a sensação de estarmos no começo ou no fim de algum ciclo, a própria sensação de existirem momentos diferentes ou de estarmos em um mesmo momento... Tudo inseparável da mente.
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