quarta-feira, 16 de novembro de 2016

NÃO EXISTE PAZ SEM CONFRONTAÇÃO

ÀS VEZES, SER SENSÍVEL E COMPREENSIVO É SER NEGLIGENTE -- FAZ MAL, DEIXA O OUTRO ESTAGNADO


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As pessoas se ouvem demais, se respeitam, se aceitam, se entendem demais. Ficamos tão preocupados em amar, interpretar, tolerar, negociar, acertar, melhorar, que esquecemos de apenas nos relacionar diretamente. “Por favor”, “licença”, “obrigado”, “desculpe-me” são gestos essenciais de educação, mas não podemos nos restringir a eles se quisermos nos tocar de verdade. Ironicamente, talvez seja essa atitude polida a causa de boa parte da violência. Como nunca nos confrontamos de modo saudável, quando enfim nos encostamos, agredimos e machucamos.
Em discordâncias queremos chegar logo em “concordo”, a palavra que mais mata diálogos. Para reduzir diferenças, desperdiçamos riquezas em vez de descobrir como visões quase opostas podem seguir juntas. 
Distância externa e interna: fugimos do contato direto com os outros para não encararmos nossa confusão. Ninguém se admite racista, machista, ansioso, malvado... Viramos seres bonzinhos. Qualquer cutucão criado por nossas diferenças pode abrir caminhos difíceis de transformação, então respeitamos para sermos deixados em paz.
Afinal, amar é apenas acolher sem exigências ou também desafiar o outro a desenvolver suas qualidades e ser mais feliz, aberto, livre, sábio? Às vezes, ser sensível e compreensivo é ser negligente -- faz mal, deixa o outro estagnado. O melhor modo de cuidar dos outros é não abaixar a cabeça para seus monstros, não deixar que o ciúme, a raiva, a insegurança controlem suas relações.
Privacidade não educa. Só crescemos quando vemos nosso mundo invadido e expandido. Com tanto respeito, estamos perdendo a qualidade mais impetuosa e destemida do encontro, que nos faz diminuir a distância, arriscar,  brincar, avançar sobre os outros.
Se não respeitamos quando as pessoas chegam com suas coerências e certezas, podemos ganhar seu respeito verdadeiro: “De todos, ele foi o único que não comprou minha confusão, não me deixou enganá-lo, não deixou que eu me enganasse... Ele me viu.”
Se sentimos como violência tudo aquilo que não entra em nosso mundo, e vice-versa, então é o fim do encontro. Mas no fundo o que permite crescer, aprender? É o fato de ser empurrado, desencaminhado, puxado para fora de si mesmo, ser seduzido pelo que não se é.
Nos tornamos frios, tomados pela lógica da segurança. Mas não existe vida sem risco, vida sem morte, não existe si mesmo sem o outro, não existe paz sem confrontação.



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