quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

PARA SE AGRADAR DA VIDA SE AGRADE

COLHA DA VIDA O MÁXIMO QUE ELA PUDER TE DAR


Desde pequenos, aprendemos que, se formos bem comportados, ganharemos algum tipo de bônus. Se formos bons, mereceremos o Paraíso. Mas, em algum momento, descobrimos que a vida não é justa e nem sempre nos recompensa. Ela segue seu curso e aceita todo tipo de interferência: as outras pessoas, os acontecimentos no mundo, o clima, a resistência do corpo, as fraquezas da alma, as decisões individuais ou aquelas que o grupo decide por nós e fazendo muitas vezes, cumprirmos o plano de outra pessoa sem que sequer percebamos.
Nada na vida sinaliza que ganharemos o nosso prêmio. Isso é desejo mas não é garantia.
Amar não significa ser amado de volta. Investir não é garantia de lucro colhido. Computar o tempo, o dinheiro e o trabalho gastos resultará em vitórias. Ou não. E, nesse caso, os céus não poderão retroceder o tempo ou o destino em nosso favor.
Certo é que sem dedicação ou sem intenção não se sai do lugar nem se modificam os resultados da vida em prol da nossa felicidade. Mesmo quem acredita que o Universo conspira por nós sabe que sem trabalho não há recompensa. No entanto, a recíproca não é verdadeira. Às vezes, tudo fracassa e somos obrigados a iniciar do zero 
O amor da nossa vida pode apagar-se.  Enfrentarmos uma doença da qual fugimos a vida inteira. O amigo confidente nos descarta numa briga sem importância. Aquele em quem confiamos nos trai.
A vida se revela contraditória, então. E a constatação da incoerência da vida é dolorosa e aflitiva: como viver num mundo insensato, sem reações previsíveis a nossas ações, sem a certeza de poços de água no fim dos desertos?
Penso agora na existência de uma explicação mística para isso. Pessoalmente, acredito que haja. Mas, deixando de lado as questões espirituais e esotéricas, o que nos sobra, então, da concretude da vida? Vivermos como quisermos porque “o que vale da vida é a vida que se leva”?
Sim e não. Se, por um lado, é preciso vivermos em busca da nossa felicidade individual, por outro lado, não a alcançamos isolados e sozinhos. Precisamos de mais do que nós para sermos felizes. Afeta-nos o que afeta as pessoas que amamos. Perdemos referências quando se perdem os lugares que nos acolhem. Esvazia-nos vermos morrer os ideais em que acreditamos.
O outro terá que aproximar-se de nós por sermos quem somos ou apesar disso. Só assim receberemos com sinceridade os gestos de carinho.
Da mesma forma, ao colhermos as primeiras desilusões, não podemos fechar a porta aos outros nem ao mundo, aos riscos que corremos em amá-los ou às dificuldades que surgem da convivência.
Não só porque a felicidade dos outros também é sopro de alegria na nossa vida, como já disse. Mas porque, principalmente, precisamos estar no mundo simplesmente porque todas as coisas que desejamos estão no mundo também: satisfação pessoal e/ou profissional, reconhecimento, alegria,  etc.
Assim, não convém caminharmos por aí distraídos mas sempre de forma disponível e atenta, para colhermos da vida o máximo que ela puder ofertar-nos. Eventualmente, sim, teremos que recuperar-nos, usando da nossa resignação e da nossa inteligência, quando algum pedaço nos for tomado. E seguir em frente. Outra opção não há.
A vida é incoerente, eu disse. Mas é boa de viver. E é nesse percurso que moram as pequenas e grandes recompensas – não no fim, incerto e desconhecido, ainda  por nós.



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