LEVE EM CONSIDERAÇÃO QUE SEU CORPO É A COISA MAIS IMPORTANTE QUE VOCÊ TEM
Comecei a correr como jeito mais eficaz de perder peso depois de 2 filhos e 5 anos cuidando de criança, casa, comendo indiscriminadamente e vendo o mundo passar lá fora. Nessa vibe me foram acrescentados cerca de 15 kg a mais do que peso hoje em dia, estava ficando difícil colocar outra roupa que não fosse o conjunto: calça legging com camisão ou parca. Já estava me sentindo bem mal quando resolvi dá um basta naquilo, foi aí que acabei pegando gosto pelas passadas.
Comecei correndo um pouco e aos poucos fui me condicionado e aumentando as distâncias percorridas, hoje sei que conquistei um excelente condicionamento físico. Já corri meias maratonas – 21 intermináveis quilômetros, amigos – inclusive em corrida de aventura. Já cheguei a correr 30 kms, e sempre sem parar, num ritmo honesto. Fiz biathlon, triathlon e até um ciclismo de longa distância de 120km, conhecido como desafio Audax. Eu tiraria uma selfie no final, mas me esqueço de me preocupar com isso.
Honestamente durante todos esses anos correndo, como prática de vida saudável, nunca acreditei que poderia chegar aos incríveis 42,195km de uma maratona, mas confesso que depois que corri pela 2a vez os 30 kms comecei a pensar que posso. Na primeira vez, apenas deu pra entender como as pessoas conseguiam correr tantos kms, porque antes dessa primeira experiência dos 30 não conseguia entender como os maratonistas superavam o cansaço físico de correr por mais de 4hs (pensado nos amadores como eu e a maioria dos participantes de uma maratona).
Sempre quis escrever um textão sobre corrida, analisando mil fatores, aconselhando, mas a verdade é que eu não tenho muito para falar.
Pensar qual a próxima corrida assim que termino de correr? Se aproveitar de qualquer lapso de vontade e sair correndo por aí? Focar na continuidade ao invés da distância? Encontrar uma boa motivação? Nada muito inovador. Vou deixar isso para quem entende.
Um dia desses eu dei de cara com esse texto, escrito pelo Dráuzio Varela e publicado pela Exame.
Ele tem 73 anos, corre maratonas e fala sobre isso com a maior simplicidade do mundo. Sem grandes fórmulas, sem chatice, sem extremismo.
Vale escutar o cara >
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"Quando eu estava prestes a completar 50 anos, um amigo me disse que naquela idade começava a decadência. Então resolvi fazer alguma coisa legal para comemorar a data e tive a ideia de fazer uma maratona. Já comecei a correr pensando nos 42 km.
Pouco tempo depois, outro amigo me passou um programa de treinos e fui seguindo como podia. No fim daquele ano, corri a Maratona de Nova York em 4h01. Isso foi em 1993, e desde então já participei dessa prova mais umas sete ou oito vezes. Também já corri em Chicago, Berlim e Joinville — meu melhor tempo é de 3h38, em 1994, em Nova York.
A maratona é minha distância preferida. Ninguém corre 42 km sem estar preparado, todo mundo ali sabe o que está fazendo, então existe muito mais respeito. Já participei de alguns revezamentos e provas menores, mas não gostei. Também fiz a São Silvestre e detestei, achei uma bagunça.
Treino duas vezes por semana no Parque do Ibirapuera e nos fins de semana procuro correr no Minhocão ou no centro da cidade. Aí vario os trajetos: passeio pela praça da Sé, largo de São Bento, Mercado Municipal. Cada treino varia entre 15 e 25 km, depende de quanto tempo tenho.
Também subo os 16 andares do meu prédio duas vezes por semana. Vou pelas escadas e desço pelo elevador, onde aproveito para ir me alongando. Repito isso entre oito e dez vezes. É puxado, mas me dá um fôlego danado e com certeza me ajuda a correr melhor.
Se as pessoas fizessem mais exercício, ficar parado seria menos penoso para o corpo. Quando você é sedentário, você se levanta e logo tem que se sentar de novo — e aquilo não te descansa. Quando você corre bastante e senta, é uma sensação muito boa.
Sempre levo meu tênis quando vou viajar. Tem coisa mais gostosa do em um dia de congresso você se levantar cedinho para treinar? Corro 2 horas e depois passo o resto do dia sentado, sem culpa, ouvindo as pessoas falarem sobre os assuntos de que eu mais gosto. É uma delícia.
Para mim, a corrida é um antidepressivo maravilhoso. Sou muito agitado, faço muitas coisas e a corrida também me ajuda a relaxar. É o momento em que fico em contato comigo mesmo, vejo minhas limitações, e isso me deixa mais com o pé no chão. Por isso não corro ouvindo música e prefiro treinar sozinho.
No ano passado, fiz a Maratona de Berlim em 4h12. Depois pensei que se tivesse feito 2 minutos a menos teria me qualificado para Boston. Não quero estabelecer essa meta porque tenho medo de me frustrar, mas, se este ano eu conseguir fazer uma maratona em menos de 4h10, posso comemorar os 70 anos correndo em Boston.
Não tenho nenhum cuidado especial com alimentação. Antes do treino, bebo uma água de coco ou como uma fruta. Depois tomo café com leite e como pão, azeite e tomate. Não estou convencido de que existe um benefício real nesses géis e vitaminas, aminoácidos. Durante a maratona só bebo água, não tomo nem isotônico. Como cortei açúcar da minha alimentação há 34 anos, tenho medo de ficar enjoado e passar mal.
O exercício só é bom quando ele termina. Durante, é sofrimento. Às vezes você até libera uma endorfina no meio e dá uma sensação boa, mas o prazer mesmo vem quando você acaba.
Quem faz atividade física tem um envelhecimento muito mais saudável. Tenho quase 70 e não tomo nenhum remédio, peso 3 kg a mais do que na época da faculdade. As pessoas dizem: “Você é magro, hein? Que sorte!” Não é sorte, tenho que suar a camisa todos os dias.
Eu corro porque estou convencido de que o exercício físico é contra a natureza humana. Precisamos combater essa inércia. Nenhum animal desperdiça energia, ele gasta sua força para ir atrás de comida e de sexo ou para fugir de um predador. Com essas três necessidades satisfeitas, ele deita e fica quieto. Vá a um zoológico para ver se você encontra uma onça correndo à toa. Ou um gorila se exercitando na barra. Por isso é tão difícil para a maioria das pessoas fazer atividades físicas.
Um exemplo disso são meus pacientes. A grande maioria são mulheres com câncer de mama. Muitas passam por quimioterapia, perdem o cabelo, têm enjoos, fazem cirurgia para retirar parte do seio. E enfrentam esse processo com tanta coragem que fico até emocionado. Depois disso tudo, falo para elas que, se caminharem 40 minutos por dia, cortam pela metade a chance de morrer de câncer de mama. Esse índice é maior do que o da quimio, mas menos de 1% das minhas pacientes começam a fazer exercício. Vai contra a natureza humana.
Muita gente fala que não tem tempo de fazer exercícios. Dizem que acordam muito cedo para levar os filhos à escola, que trabalham demais, que têm que cuidar da casa. Antes eu até ficava com compaixão, mas hoje eu digo: isso é problema seu. Ninguém vai resolver esse problema para você.
Você acha que eu tenho vontade de levantar cedo para correr? Não tenho, mas encaro como um trabalho. Se seu chefe disser que a empresa vai começar um projeto novo e precisa que você esteja lá às 5h30, você vai estar lá. Você vai se virar, mudar sua rotina e dar um jeito. Por que com exercício não pode ser assim?
Nós temos a tendência de jogar a responsabilidade sobre a nossa saúde nos outros. Em Deus, na cidade, na poluição, no trânsito, no estresse. Cada um de nós tem que se responsabilizar pelo próprio bem-estar e encontrar tempo para cuidar do corpo. É uma questão de prioridades.
Se você não consegue fazer exercício de jeito nenhum, pelo menos tem que ter consciência de que está vivendo errado, que não está levando em consideração a coisa mais importante que você tem, que é o seu corpo."
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Pra finalizar, penso que as pessoas tem uma ideia distorcida da riqueza. Para alguns, é ter um milhão na conta, para outros ter um bom salário, mas muita gente esquece que riqueza está atrelada à qualidade de vida.
Voce é tão mais rico quanto maior a sua qualidade de vida e saúde. De nada adianta se você ganha 100 mil por ano, mas gasta com coisas que acabam com tua saúde. Por outro lado, se uma pessoa receber menos, mas gozar de higiene mental, ter seus hobbies, no final das contas é muito mais 'rico' do que quem tem vários dígitos na conta.
Geralmente, os primeiros levam anos para acumular patrimônio enquanto ferram a saúde e quando se aposentam são obrigados a gastar pra tentar cuidar das doenças acumuladas ao longo dos anos.
Eu não sei que tipo de atividade física você gosta mas creio que, em meio a tantas possíveis, alguma você consegue eleger como sua.
O fato é que quando o ser humano quer fazer alguma coisa ele dá um jeito, busca forças até onde não tem, mas quando não quer...ele faz os maiores malabarismos, dá as maiores voltas, inventa toda desculpa possível para não fazer e se livrar da culpa.
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...
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