NOSSOS MICRO MOMENTOS VALEM OURO
Andei pensando bastante ultimamente no quanto a vida é imprevisível e estranha e o quanto é bom que ela seja assim. Tenho pensado sempre como posso fazer para aproveitar melhor meu tempo, minha vida, minha idade. Acontece que por mais que de vez em quando a gente chegue a algumas conclusões legais a respeito disso tudo, sempre acabamos voltando para questões práticas e imediatistas do tipo: preciso ser mais produtivo, preciso aproveitar melhor o meu tempo livre, preciso fazer algo de útil da vida.
Não me entenda mal. Pensar a respeito dessas questões é importante e útil. Eu gosto e costumo pensar assim também, mas as vezes devemos dar uma trégua e analisar um pouco o que temos feito nessa nossa caminhada pela Terra, reparar nos detalhes, nas coisas simples, nas tarefas repetitivas e o quanto existe de beleza nisso tudo.
Imaginem se na vida após a morte a gente pudesse reviver todas as nossas experiências, mas dessa vez com os eventos reorganizados segundo uma nova ordem: os momentos que tivessem uma mesma qualidade ficassem agrupados.
Por exemplo se sua dor fosse sentida de uma única vez, todas as intensas vinte e sete horas de dor que você sentiu enquanto viveu. Seis dias cortando as unhas. Quinze meses procurando por itens perdidos. Dezoito meses em filas. Dois anos entediado. Seja olhando pela janela do ônibus ou sentado num terminal qualquer. Um ano lendo livros.
Ossos quebrados, partos, até que chegue a maratona de quinze mil dias tomando banho. Duas semanas tentando entender o que acontece quando você morre. Um minuto percebendo que seu corpo está caindo. Setenta e sete horas confuso. Uma hora percebendo que você esqueceu o nome de alguém. Três semanas percebendo que você está errado. Dois dias mentindo. Seis semanas esperando o semáforo abrir. Catorze minutos experimentando a alegria verdadeira.
Três meses lavando roupa. Quinze horas escrevendo sua assinatura. Dois dias amarrando cadarços. Sessenta e sete dias com o coração partido.
Cinquenta e um dias decidindo o que vestir. Nove dias fingindo entender o que está sendo dito. Duas semanas contando dinheiro. Dezoito dias parado na frente da geladeira. Trinta e quatro dias sentindo saudades.
Quatro semanas sentados pensando se você não poderia estar fazendo algo melhor com o seu tempo. Três anos mastigando. Cinco dias fechando botões e zípers. Quatro minutos pensando o que seria da sua vida se você tivesse mudado a ordem dos acontecimentos.
Nessa parte da vida após a morte, você imagina alguma coisa parecida com a sua vida na Terra e o pensamento é de estranheza . Pensa, numa vida onde os episódios são divididos em minúsculos pedaços fáceis de engolir, onde os momentos não duram tanto, onde se experimenta a alegria de saltar de um lado pro outro, sem nunca ter que repetir nada. É engraçado pensar numa vida assim, acho que assim seria mais fácil dar conta dos micro momentos de nossa existência. Cada ato que fazemos como amarrar os tênis, esperar numa fila... é parte do nosso existir, sem eles nada, nenhuma história de vida seria possível, são milhares e milhares de micro momentos que ao somarmos dará o incrível resultado que se chama história de vida, então nada é perda de tempo, ou melhor quase nada.
É boa essa ideia de "viver" e não perder tempo. E quando digo viver, não estou falando somente dos micro momentos, nem das fotos no face de sexta a noite no happy hour, estou falando em fazer tudo na vida passando o máximo de tempo possível fazendo o que realmente gosta, e com as pessoas que realmente gosta.
Acho que viver está associado a estar presente o que inclui curtir os melhores momentos, gente, caminhos, na imprevisibilidade das pequenas e grandes surpresas diárias. Tudo fracionado nas 24 horas de um dia e bem menos no depois, no futuro, no se... o que parece fazer a gente gastar improdutivamente nossa vida.
Esse meu texto é pra fazer pensar, ele não quer dizer que você está equivocado em nada. Ele é apenas pra gente refletir sobre o valor de cada micro momento dessa loucura que se chama vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário