Sei que pedir a alguém que aceite a morte do seu jovem filho é pedir pra aceitar o inaceitável mas a morte, que ninguém aceita, também nos convida a querer buscar desesperadamente essa aceitação que parece impossível. É justamente aí, onde perdemos tudo, é que vamos encontrar um espaço para reconstruir, reinventar, ressignificar nossa história, consciente de que a dimensão trágica da vida existe e precisa ser encarada, só assim poderemos seguir em frente, caso contrário esse drama segue até que você consiga relaxar, olhar para dentro, rever o passado-presente, e então ir a diante, fazer verdadeiras novas escolhas, que exigem novos olhares e pensamentos sobre a vida, e não reencenações "fortes" de velhas histórias.
A morte me parece ser uma mãe, nem sempre tão discreta, que surge, abraça seus filhos silenciosamente e os alivia das obrigações dessa vida. Não me parece muito perspicaz perguntar para uma mãe o motivo de ter feito o que fez pelo seu filho, ela simplesmente faz algo e contemplamos. Existem coisas para as quais precisamos colocar os pés no chão e simplesmente olhar como são.
Talvez você nunca tenha pensado na morte como uma mãe e vá me dizer que uma mãe nunca enterraria o seu filho, mas mães fazem coisas muito difíceis pelos seus filhos e seus motivos são insondáveis. E cada vez que brigamos com aquilo que não temos controle parece que perdemos força ao invés de ganhar. A força vem de uma dose de aceitação daquilo que está além de nós. Quando aceitamos aumentamos de tamanho, mas quando brigamos com a realidade diminuímos, por brigarmos com as forças da vida.
Olhar a morte como uma mãe talvez nos faça sentir que um filho esteja bem cuidado e nos ajude a seguir em frente, mesmo que lentamente, até porque um filho nunca gostaria de ver sua mãe agindo como uma doida varrida.
O único caminho para lidar com o inevitável é manter nossos pés no chão, por isso devemos pensar que a vida é como um contrato que estabelece a própria vigência em uma das cláusulas. Ou seja, basta estar vivo para estar sujeito às leis da existência, que determinam o seu próprio término. Lutar contra esse fato inelutável é garantia de dor. Ao contrário, aceitar a transitoriedade da condição humana – que se aplica a você, a mim e a mais seis bilhões de indivíduos, sejam crianças, jovens ou adultos – ajuda a aliviar o sofrimento que a ideia da morte costuma trazer. Você não pode mudar o fato de que todos vão acabar um dia. Mas você pode mudar o modo como se relaciona com esse fato.
Então, vamos conciliar que esse é o nosso destino final. Não por morbidez, não para se esquecer de viver, não porque seja bom deixar de existir. Mas simplesmente porque vai acontecer e não somente conosco – mas com todos os que andaram, andam ou venham a andar sobre a Terra. A você e a mim, portanto, resta apenas aprender a conviver com isso. Encarar de frente, compreender, admitir. Em vez de escamotear, negar, esconder. E, quem sabe, assim, sofrer menos com a visita que a morte nos fará um dia e com os eventuais sinais da sua presença que ela já tenha plantado ao nosso redor.
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