quarta-feira, 4 de maio de 2016

O ERRO

APRENDA, PERDOE-SE E SIGA EM FRENTE



De pequeninos, o vaso cai no chão e suja tudo, nossas cabeças infantis antecipam o esporro. Não deveríamos estar ali, mexendo na substância transparente mais bonita do mundo, posicionada sobre a luz do sol acima de nossas cabeças.
Foram muitos os alertas que havíamos recebido: “Não mexa aí, menina!”, “Se isso cai e pega numa vista”. 
Tudo estava em paz até que uma mãozinha nervosa meteu os dedos na peça. De primeira já houve a queda da coisa.
Os cacos jogados eram a sentença do crime: havíamos feito aquela única coisa que não deveríamos fazer. O erro teve lá suas motivações, foi cometido senão por encantamento, por curiosidade e enquanto estivermos vivos de verdade não perderemos esse encantamento pelas coisas, muito menos a curiosidade. O que não é predominantemente bom nem ruim, vá lá – machucamos gente pelo caminho, perdemos muitas chances, parcerias e cumplicidade, fazemos coisa errada mesmo, da qual nos arrependeremos por bons tempos. Mas há quem aprenda a jardinar depois de pisar na flor, há o filho que nunca seria não fosse a irresponsabilidade do casal, a cicatriz do pega-pega com a melhor amiga no chão escorregadio.
Ainda bem que ainda tem quem bote fé no potencial do erro. Achei uma breve entrevista no Canal Brasil, na qual um ator argentino chamado Ricardo Darín falava sobre isso. Ele criticou a pressão constante que existe sobre nós de agir com foco no resultado, como se uma borracha se devesse passar sobre caminhos que induziram ao erro.
Basta ser um pouquinho observador – de si mesmo e dos outros – pra perceber que essa pressão pode ser improdutiva.
Isso significa que quanto mais deixamos que nossos erros sejam motivos de vergonha e condenação, menos nos permitimos experimentar novas maneiras de ser, novos padrões. E isso também não é lá motivo pra se orgulhar, a verdade é que se somos muito críticos de nós mesmos, as chances de que sejamos extremamente intolerantes para com os outros é grande. E isso não é bom pra ninguém – só alimenta de novo e de novo a destrutividade do erro, condenação e inibição.
Mas há outra possibilidade possível: experimente, tente quebrar o menor número de caras possíveis pelo caminho, aprenda, perdoe-se e siga em frente.


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