É BOM SE COLOCAR EM PRIMEIRO LUGAR (E DEPOIS NUNCA MAIS SE TIRAR DE LÁ!)
Parece haver uma dimensão do relacionamento amoroso um pouco ignorada: ele parece servir de latrina para algumas pessoas.
A palavra pode ser pesada, mas na prática é como se as relações humanas e íntimas também tivessem uma função de descarga, as pessoas costumam vomitar seus mal estares na outra, que ela diz que ama.
É como se o bem-estar não fosse possível para algumas pessoas sem que elas consigam causar confusão como manifestação de amor.
O amor é mais estranho do que gostamos de pintar. Ele é carregado de todos os traços humanos bons e maus. Chamar o amor de "puro em si mesmo" é uma ingenuidade que acredita que os sentimentos humanos são descontaminados da personalidade de seus portadores.
Uma pessoa instável ama de um jeito instável e uma pessoa agressiva ama de um jeito hostil.
O problema não se trata de amar ou não amar, mas de quem ama.
As pequenas alfinetadas que uma pessoa dá na outra, com o tempo se tornam uma mensagem subliminar de dominação. "Eu provoco, pois tenho o poder sobre essa relação".
A pessoa atingida é lembrada a todo o momento quem está "no controle".
Por um tempo isso funciona, afinal, parece haver certa proteção implicada no relacionamento, mas o tempo acaba revelando a insatisfação acompanhada de anulação do outro, que pouco a pouco vai tendo a personalidade dominada.
A briga, que no começo parecia ser demonstração de intensidade, acaba diminuindo a admiração e se tornando inevitavelmente um anestesiador da relação. Ambos podem seguir anos como zumbis, sustentando uma relação que parece viva na superfície, mas que já morreu há muito tempo.
Quando você diz que não quer estragar as coisas, talvez seja numa análise racional, pois no campo emocional é exatamente o que pode desejar.
É como se você desse pequenas marteladas num objeto que aprecia até ele quebrar e depois se queixar que tudo quebra na sua mão.
Com isso, a cada relacionamento estragado vem uma sensação de derrota pessoal e a sensação de "eu mereço ser feliz" até entrar num próximo relacionamento e recomeçar o processo de amor > ataque> término> culpa> remissão.
O caminho para sair dessa bola de neve não é simples, pois é preciso sondar na sua intimidade os motivos pelos quais você prefere chafurdar a serenidade de seu parceiro, se existem motivos supostamente pessoais contra ele que não estão claros para você, além de suas questões pessoais com a figura de seus pais.
Afinal das contas, nós aprendemos a amar da maneira que fomos amados, e se a pedagogia utilizada com você incluía provocações constantes, é possível que você passe adiante um legado do qual você foi um alvo incapaz de reagir.
No entanto, sempre há chance de mudar esse cenário, com novos hábitos, observando com tranquilidade os seus impulsos antes que eles se transformem em ação. É a oportunidade de começar a se controlar, buscar meios de serenar seu desejo, de destruir aquilo que mais gosta.
Para as supostas vítimas, ame-se acima de tudo. É bom se colocar em primeiro lugar (e depois nunca mais se tirar de lá! ;)
Nenhum comentário:
Postar um comentário