TODOS NÓS DEVEMOS CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE O MUNDO INTERNO QUE NOS ACOMPANHA
Acredito que por volta dos trinta anos, começa a haver na gente um sentimento de imobilidade. A juventude já não se encontra no seu auge (embora ainda esteja bem presente) e há um sentimento de que não foi conquistado todo aquele mundo de glórias que planejamos para nós mesmos ao longo de nossa adolescência.
Por mais que possamos discutir racionalmente toda a inercia que somos capazes de manter por anos e anos... nada como refletir um pouco para despertar, se o texto cumprir sua missão deve lançar ao menos um pouco de luz sobre esse assunto, pelo menos ser capaz de colocar a semente do questionamento em quem lê. A pergunta é: O que você anda fazendo com a sua vida?
Quero que você guarde a pergunta com você. Embora eu saiba o quanto seria bom que alguém aparecesse, num simples artigo de internet, e fosse capaz de responder uma pergunta tão cara como essa, tenho que admitir que estou muito longe de ter uma resposta.
Focaremos em outro ponto.
Qual foi a última vez que você foi capaz almoçar prestando atenção no que comia, sem todas as distrações de uma tv ou internet, engolindo rapidamente tudo o que tem pela frente, pensando em inúmeras atividades por fazer, planejando atividades futuras que são, em boa parte, tão impraticáveis quanto todas as outras ilusões que criou anteriormente e que não realizou até agora?
Muitos de vocês talvez pensem que este pode ser mais um artigo sobre atenção plena e a capacidade de estar no aqui e no agora. Mas não é por aí que iremos.
Toda essa pressa e intromissão de outras atividades e atenções que descrevi ao falar sobre o almoço não estão aí inutilmente. Nosso psiquismo se organiza através de narrativas e, como já é bem claro para mim, caso eu pergunte qual a função de fazer tantas tarefas ao mesmo tempo em que se deveria aproveitar a comida, todos nós teremos uma boa lista de desculpas.
Somos as histórias que contamos e sempre acaba existindo uma narrativa muito bem amarrada que justifica tudo aquilo que fazemos. Somos nossos maiores sabotadores.
O ato de estar presente no aqui e no agora andam tão fora do nosso cotidiano que ninguém leva essa história muito a sério. Nem mesmo tentamos.
Como se sabe, quando somos capazes de promover algum tempo de silêncio e quietude externa para nós mesmos, as vozes internas parecem surgir com bastante força. O que elas nos dizem? De onde elas saem? Qual o intuito de cada uma?
Gosto da metáfora de que o psiquismo humano age como um grande parlamento. Chega a ser engraçado confidenciar essas vozes internas, mais de uma, e ainda que, muitas vezes, elas discordam entre si. A maior parte das pessoas entende isso como uma esquisitice pessoal, mal imaginam que se trata de um fenômeno dos mais comuns.
O intuito principal é permitir que as contradições internas possam, de alguma forma, ganhar um contorno mais definido. Não depende de nada muito elaborado, pelo menos não de início. Basta ter atenção e ouvir as vozes que discutem e lutam por hegemonia no nosso intimo, ter um pouquinho de disciplina para anotar pontos importantes de cada uma delas e criar um registro sobre como os pensamentos surgem em nossa mente.
Algumas dessas vozes podem ser aliadas, outras podem nos levar por um caminho de autodestruição. Com algumas é bem possível negociar, outras precisam aprender o lugar e a hora delas. Todas elas lutam para que caiamos no comportamento automático que prepararam, ao longo de nossa vida, para nós. É essencial que sejamos, de alguma forma, capazes de dar sentido e praticidade para elas, do contrário passaremos a vida em busca de um desejo que não se afina nem um pouco com a vida que levamos.
Para quem já fez análise alguma vez na vida, deve ter percebido como o processo que acabei de descrever é muito parecido com o que acontece dentro dos consultórios. É justamente essa a intenção, promover um pensamento analítico sobre os próprios comportamentos. Nem todos precisam de um processo psicoterapêutico clínico, mas, sem dúvida, todos nós devemos conhecer um pouco mais sobre o mundo interno que nos acompanha.
Sobre a pergunta que levantei no fim do 2º parágrafo: “o que você anda fazendo da sua vida?”
Talvez não cheguemos a respostas conclusivas, mas creio que, o simples fato de levantar a questão já é um tipo de estímulo à vida.
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