RESPEITAR O DESEJO DO OUTRO PARECE POUCO, MAS É MUITO
Alguém já disse que "não" é uma frase completa, porque um "não" sozinho já se basta. E eu concordo!
Parece que qualquer coisa dita depois do "não" já transforma sua negativa em negociação.
Reparem a diferença entre:
Ele: "Quer sair comigo?"
Ela: "Não, hoje estou ocupada..."
Ele: "Ok, então, quando desocupar, rola?"
e
Ele: "Quer sair comigo?"
Ela: "Não, obrigado, prefiro não."
Olhando assim e pensando friamente, se somos adultos, tirando uma ou outra obrigação, me parece natural que a gente só faça o que a gente quer. Portanto, se te convidam para algo e você diz "não quero", isso deveria encerrar qualquer discussão, sem ninguém precisar carregar debaixo do braço o grande livro das desculpas, de explicações, apelar para outros compromissos, inventar justificativas.
Naturalmente, nada disso é natural, pois cada vez que recusamos um convite dizendo simplesmente:
"Não, obrigado, não quero."
Isso é uma quebra tão grande das expectativas que parece que as pessoas à volta ficam totalmente sem resposta, não acreditam, acham que não ouviram direito, e até pedem pra você repetir.
Muitas vezes, a pessoa fica tão desarticulada pela negativa que insiste:
"Ah, tem certeza? Vamos sim. Vai ser legal. Deixa de ser chata."
Aí quem fica chocado é o cara que deu a negativa que se vê obrigado a responder em um tom ainda mais franco:
"Perdão, mas dado que eu manifestei claramente que não quero, qual é o sentido de insistir? Você quer realmente que eu te acompanhe contra a minha vontade?"
Por isso digo que respeitar o desejo do outro parece pouco, mas é muito.
Esse assunto me lembra meu amado e estimado pai, nunca vi meu pai dando desculpa e garanto que quem o conhecia também não. Sempre considerei isso uma virtude, uma atitude bacana e digna porque era legítima.
Eu entendia que quando dizia 'não, não quero' todo mundo deveria respeitar naturalmente. Nunca entendi porque todo e qualquer 'não', mesmo se falado da maneira mais delicada possível, é sentido como uma ofensa, a pessoa fica ferida, magoada, pode até afetar a amizade. Sendo que a única maneira de evitar o insulto é efetivamente convencendo a pessoa de que suas razões são fortíssimas, inadiáveis, inapeláveis. É uma coisa muito louca: ter que passar a vida, todo dia, argumentando para pessoas que você às vezes nem conheçe que você tem sim o direito de não ir aos lugares onde você não quer ir!
Não é questão de ser sincero, ás vezes, não quer ir porque não está a fim, porque está num dia ruim, qualquer um de mil motivos pessoais.
Noutras vezes, não quer ir porque será um sacrifício passar horas em algum lugar, ou atividade ou com alguma pessoa que considera chata, desagradável, tediosa.
Também não é questão de não dar atenção, o mais importante é ter claro que o nosso tempo só pertence a nós e que é o bem mais precioso, o único realmente não-renovável.
Ninguém tem DIREITO a seu tempo: você compartilha com quem quiser.
As pessoas confundem muito "gostar" com "se deixar subjugar" ou "obedecer".
Alguém sempre pensa:
"Se eu falar não, vou perder todos os meus amigos!"
Mas de que servem amigos que não respeitam a sua vontade?
Quanto mais velho a gente fica e quanto mais pessoas legais a gente agrega pelo caminho, mais nos encontramos cercados por pessoas verdadeiramente incríveis, pessoas com as quais nos sintimos plenamente visto, ouvido, contemplado, respeitado.
Isso não tem preço.
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