SOFRIMENTO É BIRRA EXISTENCIAL, É BOLHA QUE VOCÊ PODE ESTOURAR
Antes de falar aqui o que entendo como sofrimento gostaria de diferenciar da ideia de dor. Dor é um estado psicofisiológico. Algo que se contorna com medicações anestesiantes.
Isso leva muitas pessoas a entenderem o sofrimento como algo parecido, com substância e localização bem definida. Erro de raciocínio.
O sofrimento sendo transitório é resultado de um entendimento equivocado sobre a realidade vida.
Uma pessoa querida morre e eu sofro sua perda. Sofro por que ela se foi e eu não terei mais acesso a ela. Meu sofrimento é resultado da quebra de uma condição estável. Preciso abrir mão do meu apego à imagem de que ela está associada a mim. Entender que as pessoas morrem cedo ou tarde por causas naturais ou acidentais e que ninguém está blindado de nada. O sofrimento decorrente dessa perda na verdade é uma resistência às mudanças inevitáveis da vida. O sofrimento é a tentativa da mente de conservar um estado psicológico imutável.
O sofrimento é o denunciador de minha dificuldade em ceder ao evento novo que se apresenta.
Diferente do que alguns pensam não é o resultado de amadurecimento. O sofrimento é sinal de rigidez emocional, apego, inflexibilidade. O sofrimento é uma birra existencial.
Uma pessoa perde o emprego, esbraveja injustiça e fica abatida. Por que sofre? Porque resiste à ideia de mudança, “por que eu?”. Por que não você? O que há de especial na sua vida diferente das demais?
Esse sentimento é uma das bases do sofrimento. A sensação de ser uma pessoa especial oferece o terreno propício para essa contestação típica do sofrimento: “por que eu?”
No sofrimento há uma grande dose de passividade frente à mudança. O sofredor teima em achar que a realidade complicadora irá se resolver magicamente, sem esforço ou desprendimento. A condição passiva de vítima das circunstâncias funciona como um sentimento de injustiça que se instala e pode permanecer por anos à fio. A vítima se acha no direito de cobrar o estado original perdido. “Não me conformo que perdi "tal coisa!”. O sofrimento é decorrente dessa prisão psicológica instaurada na mente. “O mundo precisa me devolver o que perdi!”. Com isso a vítima perde mobilidade existencial e fica sentada parada no trono de suas certezas e seguranças.
“O sofrimento ensina!”. Não creio nisso, pois se o sofrimento é um efeito colateral de resistência à realidade, na verdade, ele só evidencia que a pessoa não vai ceder. Prefere ser vítima do que ser participante da própria existência. Ser participante, porque ninguém está isolado nesse mundo e na maior parte das vezes estamos expostos à condições indigestas e fora de controle.
O sofredor sempre atribui culpados pela sua infelicidade e renuncia sua condição de autor de si mesmo.
Mudança + resistência + rigidez no pensamento + sentimento de privilégio + passividade + culpabilização = sofrimento.
Situação prática: Pessoa perde o interesse afetivo pela outra e se separa + “Como assim?” + “Eu achei que seria para sempre” + “Como aquela pessoa ousou me deixar agora?” + “não quero mais saber de nada e nem de ninguém” + “Eu deveria ter terminado, agora fiquei por baixo” = sofrimento.
Desfazer o sofrimento é resultado de uma mudança de postura na vida, aceitar que mudanças são inevitáveis, permitir que sua mente se deixe absorver por entendimentos mais amplos da realidade, colocar-me na mesma condição de vulnerabilidade dos outros, ter uma postura ativa na vida, entender que não há culpados e nem inocentes na vida. Estamos todos no mesmo barco de relações desiguais, instáveis e imprevisíveis.
Mas se você ainda acha que vai aprender alguma coisa com o sofrimento eu já adianto, só vai aprender a continuar sofrendo. Não é o sofrimento que ensina, mas o aprendizado que ensina.
Vejo que o sofrimento não causa nem amadurecimento e nem aprendizagem: cristalizaram-se em ressentimentos e em reações infantis às complexas situações da existência, geralmente consolando-se com as vestes do vitimismo e com as cores de ódios mal disfarçados.
Se quer aprender mesmo abra sua mente, pois sofrimento é sinal de resistência. É uma bolha que você pode estourar.
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