quarta-feira, 3 de maio de 2017

É QUANDO DESCEMOS DO PALCO QUE ALGUMA TRANSFORMAÇÃO PODE ACONTECER

O SOFRIMENTO É O AMIGO QUE NOS AVISA QUE A PEÇA QUE ENCENÁVAMOS ACABOU


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O sofrimento, com tudo o que traz de desagradável e talvez exatamente por isso, parece nos fazer desacelerar. Há um detalhe que pouco nos damos conta, a alienação emocional que alimentamos em forma de pressa e de tantos estímulos sobrecarrega nossa percepção. O descompasso causado por uma ameaça ou perda emocional desacelera bruscamente o ritmo maluco que nos impomos.
Quem já teve uma pessoa querida que morreu sabe da sensação de congelamento anestesiante do tempo, soa como aqueles pesadelos de filme em que tudo é lentificado, fica tudo em slow motion.
Essa mudança da perspectiva de quem andava pilotando uma ferrari e começa a andar a pé também permite que as paisagens que ignorávamos começam a surgir, e o que escondíamos de nós mesmos explode em sensações desconfortáveis de um momento para o outro.
No momento da dor cada pessoa é colocada diante da própria vida quadro a quadro para contemplar seus pontos-cegos. As relações negligenciadas, os valores pessoais despedaçados, os momentos passados em apatia.
Quando alguém inadvertidamente fica querendo que o sofrimento passe naquela afobação de quem se desacostumou a experimentar pequenos desapontamentos cotidianos precisa sempre parar. São nesses momentos raros de desprazer que os olhos ficam mais límpidos. Ali não fingimos não ver, pois a solução do problema passa por encarar a realidade.
Em última instância, a solução para o sofrimento não é que ele passe, mas que revele o galho seco no qual estamos pendurados e que nos machucará muito mais gravemente se seguirmos apegados.
Quando a relação acaba estamos querendo combater a saudade indigesta quando deveríamos olhar para a fonte da nossa surdez seletiva, da mudez de honestidade e da cegueira do outro. O sofrimento escancara nossos condicionamentos, nosso padrões destrutivos, em última instância é uma denúncia escancarada de uma interioridade empobrecida.
Ao contrário do que dizem não é o sofrimento que ensina, ele apenas nos mostra o que está disfuncional. É o que empreendemos emocionalmente que pode trazer algum aprendizado, mas não aquele intelectualizados e cheio de fórmulas mágicas de mudança. O que reformula de verdade é a possibilidade de desacelerar, de olhar o que é.
É quando descemos do palco que alguma transformação pode acontecer, o sofrimento foi só o amigo que nos avisou que a peça que encenávamos acabou.


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