AMOR SE CONSTRÓI NO TÊTE-À-TÊTE
Assisti a muito filme da Disney na infância, cresci curtindo novela do Manoel Carlos e passei a adolescência comendo pratos e mais pratos de brigadeiro acompanhados de comédia romântica da sessão da tarde. Não é à toa que crescemos sonhando com amores à primeira vista, juramentos apaixonados e beijos de novela. A ficção também tem culpa da crença cega no amor romântico que destroi muitas uniões.
A verdade é que o amor inventado é tão lindo que nos faz acreditar que a vida também precisa de cavalo branco, lágrima nos olhos, joelho no chão, sapato perdido e a perfeita sintonia do reencontro das almas que logo percebem que em outras vidas já se amaram assim.
A gente se deixa seduzir pela ficção porque é bonito mesmo. É plástico. É poético. É encantador esse negócio de se olhar e já se amar num passe de mágicas, sem dúvidas e sem as feiuras da realidade.
É bonito o amor intocado, mas nem que seja na marra o tempo ensina: amor instantâneo é quase sempre inventado. Na vida dificilmente é assim.
Com o tempo a gente aprende que as histórias de amor real também são lindas, é verdade, mas não são tão lineares assim. Com o tempo a gente aprende que o amor é complexo. Não tem certo ou errado. Amor se constrói no tête-à-tête. No olho no olho. Na conversa diária.
Amor de verdade leva tempo e passa rápido, tem discussão, discordância e uns bons bocados de afinidade, solidariedade e respeito, tem amizade, conversa boa, ajuda, carinho e a mais sincera das frases.
Mas também tem feiura, espinha nas costas e cravo na cara, doenças e imprevistos.
Amor de verdade é imperfeição, vem com paciência, tolerância e conversas francas e exige muita vontade e muito respeito. Dá liberdade, compreende e debate, implica, tem ciúme e às vezes dá raiva.
Amor instantâneo também é bonito, eu sei, mas amor construído soa tão mais verdadeiro que eu chutaria dizer que esse sim deve ser o tal amor. Aquele lá. O tão sonhado amor de verdade.