quinta-feira, 29 de setembro de 2016

LEVAMOS TODOS PORRADA DA VIDA

TODA EMOÇÃO SE CONVERTE EM DOR



Levamos todos porrada da vida. 
Ninguém é sempre campeão, não somos semideuses.
Atrás de toda pessoa feliz, deveria existir um homem com um martelo – para lhe golpear periodicamente a cabeça.
Só porque a vida mais cedo ou mais tarde mostra suas garras.
Só para lembrar que existem pessoas infelizes no mundo.
Só pra lembrar que elas também amanhã poderão estar infelizes.
***
Por exemplo, um belo dia, chega a porrada. Sofremos a traição e saboreamos a desilusão.
E é o fim de tudo: nunca mais confiaremos em ninguém, estamos fechados pro amor.
Sentamos na sarjeta e choramos, choramos nossa miséria, nossa feiúra, nossa desesperança.
Tão centrados em nós mesmos, coitados de nós, quanto durante o auge da felicidade…

* * *
Um dia a dor passa, porque, afinal, apesar da dor e do horror, uma das mais importantes leis da física é a seguinte: “lavou, tá novo.”
A dor e o prazer, a alegria e a tristeza: como diria o cobrador, é tudo passageiro.
Não há mal que tanto dure, nem bem que tanto perdure.
Mas existe um fascínio inegável pela sarjeta, por andar se arrastando, por fazer um espetáculo de nossa tristeza, por jurar, copo de chope na mão, que o amor, ah!, esse nunca mais!
Você fica como aqueles cachorros que não aceitam carinho de ninguém e se encolhem quando alguém chega perto. Você percebe na hora: alguém um dia cobriu aquele cachorro de porrada, ele apanhou, ele sofreu, e nunca mais esqueceu.
Já disse o filósofo que toda emoção é dor, que não existe emoção puramente prazeirosa que não vá, em algum momento, se converter em dor.
O carinho que sente pelo namorado será inversamente proporcional à sua dor por perdê-lo…. e perdê-lo você vai, seja porque ela cansou de você, morreu ou o sol explodiu.
De qualquer modo, nada é permanente: o bom e o mau, a dor de dente e o prazer, eu e a via láctea.
Mas mesmo assim estamos sempre dando nossa cara à tapa, mesmo sabendo que vamos sofrer, mesmo sabendo que vai doer. Porque sempre dói.
Só as flores de plástico não morrem, só tecido morto não dói.
Tenho uma conhecida cuja autodescrição no wathsapp é “pairando sobre um mundo hostil". Fico triste por ela, ninguém merece viver num mundo hostil, mesmo se o mundo for hostil de verdade, especialmente se o mundo for hostil de verdade.
Me recuso a ser o cachorro que se encolhe diante da possibilidade do soco – ou da carícia, sei que na vida vou levar socos, e sei também que vou receber carícias. Provavelmente, como quase sempre acontece, dadas pelas mesmas pessoas.
É melhor andar feliz e despreocupado por um mundo belo e seguro e, de vez em quando, levar uns tombos pelo caminho (eu sei me levantar!) do que viver sempre em um ambiente feio e hostil, cercado por cretinos e canalhas.
Tento desfazer minhas barreiras, abaixar meus escudos, me expor à dor e ao amor.
Sejam gentis.


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