ONDE NÓS NOS ENCONTRAMOS
Em qual momento do tempo podemos nos situar?
As frustradas tentativas de impedir as revoluções dos ponteiros do relógio nos lembram de que a marcha autoritária do tempo não cessa. Não poderia aceitar que só o presente existe, pois toda vez que tentamos captura-lo nós o perdemos. Quando penso no presente ele já ficou no passado. Quando eu soletro uma palavra, as letras já se foram. Quando escrevo numa folha de papel, esta ficou na história.
Do futuro nunca teremos certeza. Com base em nossas experiências, podemos fazer projeções sobre os acontecimentos vindouros com algum nível de acerto. Mas as expectativas criadas no presente nem sempre são confirmadas no curso do tempo.
O passado está talhado em nossa memória. Ele vive em nossas tradições. Nosso corpo e as coisas que nos rodeiam estão impregnadas de história. Não há como nos livrar do que já aconteceu. Somos descendentes e herdeiros diretos do que foi feito no tempo passado.
O tempo não é relativo. Nós somos relativos. De uma forma ou de outra, sabemos que somos seres espaço-temporais. Sentimos a ação do tempo em nossa pele, a pressão da gravidade em nossas costas. Estar contido no tempo é estar à disposição do perecimento. Não vale sacrificar o presente em virtude de uma prometida utopia terrestre.
Talvez, uma resposta mais razoável sobre “onde” nós nos encontramos, é que estejamos em um lugar do tempo espremidos entre o passado e o futuro. O que está ao nosso alcance é cogitar, no presente, um esboço do futuro de acordo com as vivências do passado. Mais preciso sobre a temporalidade foi Santo Agostinho, quando disse: “O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; mas, se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei”.
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