sexta-feira, 5 de agosto de 2016

FAMÍLIAS

NADA É MATEMÁTICO OU SIMPLES  



"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."
– Chico Xavier

O entendimento do que constitui uma família é simples, em tese. Afinal, junta-se um pai, uma mãe, um filho e está formada uma, certo? Pois não mais. Já há algum tempo a configuração familiar tem ido bem além desse padrão.
Muitas pessoas se queixam de suas famílias. Relatam sérias dificuldades de comunicação, conflitos, falta ou mesmo impossibilidade de afeto e convívio; ou o contrário, tudo isso em doses exageradas, nocivas.
Como lidar?
Hoje em dia temos incontáveis possibilidades: casais com filhos, sem filhos, com enteados, casamentos, recasamentos, avós, casais de homens e de mulheres, sobrinhos, tios, primos de vários graus, agregados e até babá. Difícil e talvez desnecessário tentar delimitar onde começa e termina. Gosto de pensar que família começa com laços consanguíneos/amorosos e se estende àqueles que foram chamados para pertencer ao núcleo de convívio.
Enxergo a família como um centro de treinamento, formação e transformação de nossa personalidade para o mundo. Uma escola preparatória. E, tal qual existem boas ou más escolas, as famílias também não fogem disso. Podem ser uma prisão ou uma alavanca.
Reconheço, antes de tudo, que são pessoas como outras quaisquer que pretendem criar seus descendentes e conviver entre seus entes da melhor maneira possível. Porém, como estamos falando de um agrupamento de pessoas, é natural encontrarmos configurações saudáveis e patológicas.
Podemos e devemos falar sobre ela sem as fantasias que apenas nos impedem de enxergar novos caminhos potenciais para ter um convívio mais saudável.
Para a gente refletir sobre o assunto, vou expor aqui alguns padrões muito comuns que verificamos nas familias, por exemplo, existem famílias incondicionalmente inclusivas e receptivas onde predomina o sentimento de aceitação pessoal e ninguém necessita ficar provando seu valor ou tentando ser uma pessoa "perfeita" para ser amada. Por outro lado há aquelas que não conseguem repreender e educar um filho. Possuem dificuldade ao expressar afeto e sutilmente comunicam aos filhos que, caso não se comportem bem, terão o carinho negado. Interpretam mal as pedagogias modernas e acham que se darem afeto após um mau comportamento, irão perpetuar a atitude indesejável. Tipo: Bom comportamento = Amor ou Mau comportamento = Frieza. É possível ser firme, sério e preciso sem quebrar a amorosidade.
Muitas famílias acabam reproduzindo em casa a frieza e o congelamento emocional de gerações passadas. Outras famílias são apenas caricaturas de abraços e beijos. Não possuem real intimidade emocional. É importante a gente discutir nossos sentimentos, não deixe de conversar sobre os fatos que acontecem na convivência com seus familiares. 
A comunicação é outro problema comum nos relacionamentos de uma maneira geral e não é diferente na família. Tenho a dizer que "O que" dizemos é tão importante quanto "o como" dizemos. Honestidade acompanhada de sutileza aproxima muito mais do que a transparência e a sinceridade agressivas. Sentimentos como a raiva são bem vindos desde que olhemos para a tristeza e o medo que eles escondem. Fazer esse exame auto-crítico é chato, mas necessário.
Outra coisa, muitos pais se agarram em um ideal de ordem e respeito patriarcal que beira a rigidez militar. Esbravejam e impõem regras. Gozam de sua autoridade para descontar nos filhos mais frágeis física e psicologicamente suas frustrações pessoais e  o instinto de querer dominar. Aos patriarcas e matriarcas, queria dizer que os limites do mundo por meio da autoridade é válido desde que não alimente uma necessidade compulsiva de estar acima de todos, todo o tempo. Essa imposição controladora apenas afasta a família de lugares nas quais o aprendizado e amadurecimento fluiria naturalmente. 
Última coisa, é importante que a familia ofereça espaço para manifestação pessoal de tal forma que a pessoa consiga responder a perguntas como "quem sou eu?" – e, ao mesmo tempo, explorar novas descobertas sem sentir o peso de um script pré-determinado pelos pais. Entende-se que ninguém precisa ser o bonzinho, o bandido, o sapeca ou o perdido da família. Nessa brincadeira, alguns viram heróis de si mesmos. Outros, eternos coitados e impotentes, lamentando a má sorte por anos sem fim. Ainda outros seguem a vida em uma leve normalidade, sob a qual pairam sentimentos que variam entre culpa, vergonha e angústia por memórias torturantes. Todos com dificuldade em se expressar e construir uma identidade própria. 
Com tudo isso, quero dizer que cultivar uma família mais saudável nos ajuda muito na confusa estrada de nossa construção pessoal.
Nenhuma família é normal. Mas todas podem melhorar a sua influência na vida de seus membros.
Mas lembre-se, nada é matemático ou simples nessa jornada.


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