SÓ TEM MEDO DA MORTE QUEM TEM MEDO DA VIDA
Você pode tornar tudo positivo somente se você tornar-se positivo em relação à vida. Mas nós não somos positivos em relação à vida. Por quê? Por que nós não somos positivos em relação à vida? Por que nós somos negativos? Por que essa luta constante? Por que nós não podemos ter uma entrega total à vida? Qual é o medo?
Você pode não ter observado que você tem medo da vida – muito medo da vida. Pode soar estranho dizer que você tem medo da vida, porque comumente você sente que tem medo da morte, não da vida. Essa é a observação usual, que todo mundo tem medo da morte. Mas dizem que a gente só tem medo da morte se tiver medo da vida, que aquele que não tem medo da vida não terá medo da morte.
Por que nós temos medo da vida? A vida é desconhecida, imprevisível: ela quer viver no conhecido, no previsível. A mente está sempre com medo do desconhecido. Há uma razão: é porque a mente consiste no conhecido. Tudo o que você conheceu, experimentou, aprendeu, a mente consiste nisso.
O desconhecido não faz parte da mente, o desconhecido perturba a mente; assim, a mente fica fechada para o desconhecido. Ela vive em sua rotina, vive em um padrão. Ela se move em trilhas determinadas, trilhas conhecidas. Ela vai girando, girando, exatamente como um disco.
Mas a vida sempre está se movendo para o desconhecido, e por isso você tem medo. Você quer que a vida ande de acordo com o que você acha que deve ser, de acordo com o conhecido, mas a vida não é assim, como já disse, ela sempre se move para o desconhecido. Eis porque nós temos medo da vida e sempre que nós temos uma oportunidade nós tentamos matar a vida, nós tentamos fixá-la.
A vida segue mudando o tempo todo. Nós tentamos fixá-la porque com aquilo que é fixo a previsão é possível.
Se eu amo alguém, imediatamente minha mente começará a funcionar no sentido de como me casar com essa pessoa, porque o casamento fixa as coisas.
Na verdade você não pode ter certeza quanto ao próximo momento. Mas a mente quer certeza, e a vida é insegurança.
Somente coisas mortas são previsíveis. Quanto mais alguma coisa está viva, mais ela é imprevisível. Ninguém sabe aonde a vida irá.
Assim, nós não queremos a vida, queremos coisas mortas. Eis por que nós continuamos possuindo coisas. É difícil viver com uma pessoa; é fácil viver com coisas. Assim, nós continuamos possuindo coisas e coisas e coisas… É difícil viver com uma pessoa. E se nós temos que viver com uma pessoa, nós tentaremos fazer dessa pessoa uma coisa, nós não podemos permitir a pessoa.
Uma esposa é uma coisa, um marido é uma coisa. Eles não são pessoas, eles são coisas fixas. Quando o marido chega em casa, ele sabe que a esposa estará lá, esperando. Ele sabe, ele pode prever.
Não se supõe que tenham outro comportamento. Elas são instituições fixas – institutos. Você pode confiar no instituto, mas nem tanto na vida. Dessa forma, nós transformamos pessoas em coisas.
Essa fixidez é o medo da vida.
A mente quer uma coisa e nega outra, mas a que você nega sempre faz parte da que você quer. A mente diz: “a vida é boa, a morte é ruim”. Mas a morte é uma parte – e a vida é a outra parte da mesma coisa. A vida não pode existir sem a morte.
A vida existe por causa da morte. Se a morte desaparecesse, a vida desapareceria, mas a mente diz “eu só quero a vida, eu não quero a morte”. Então, a mente se move em um mundo de sonho, que não existe em lugar nenhum; e ela começa a lutar contra tudo, porque, na vida, tudo está relacionado com o oposto. Se você não quer o oposto, começa uma luta.
Uma pessoa que compreende isso – que a vida é isso, essa dualidade – aceita ambas. Ela aceita a morte, não como contra a vida, mas como parte dela.
Compreensão significa estar consciente desse fato – não somente estar consciente, mas ter uma profunda aceitação do fato, porque você não pode ir para longe do fato. Você pode criar uma ficção… E nós estamos criando ficções há séculos.
Nós colocamos o inferno em algum lugar bem no fundo e o paraíso em algum lugar bem alto. Nós criamos uma divisão absoluta entre os dois, mas o inferno é a parte vale do paraíso. Ele existe com o paraíso; ele não pode existir à parte.
Essa compreensão ajuda a gente a ser positivo; a ser capaz de aceitar tudo. Por “positivo” eu quero dizer que você aceita tudo, porque você sabe que não pode dividir a existência.
Eu deixo a respiração entrar e, imediatamente, tenho de deixá-la sair. Eu inalo e, depois, exalo. Se eu apenas inalasse e não exalasse, morreria; ou se eu somente exalasse e não inalasse, então também morreria, porque inalar e exalar são partes de um processo, de um círculo. Eu posso inalar, somente porque eu exalo. Ambos estão juntos e não podem ser divididos.
É o que acontece se essa compreensão lhe chegar ? Você será positivo, tudo o que acontecer será aceito, não terá nenhuma expectativa, não fará exigências à existência e assim poderá estar tranquilo, em paz, sem medo.
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