O QUE ESTAMOS FAZENDO E PARA ONDE ESTAMOS INDO?
Em alguns momentos das nossas vidas sentimos que precisamos parar e nos questionar sobre o que estamos fazendo e para onde estamos indo. Normalmente isso acontece na adolescência, quando na maioria de nós lateja este dilema, ou quando algo — muito importante — acontece e passamos a sentir que está na hora de parar para pensar.
No entanto, em geral, a vida suga a gente com atividades padronizadas. Seguimos tocando a vida no automático, a maioria das pessoas não tem tempo e nem mesmo vontade de parar para pensar nela. Até porque precisamos caminhar pelo mundo com certo tipo de força e retidão. Agimos pelo instinto. É muito mais simples seguir a vida assim — vivendo em um mundo pequeno, em um fragmento de realidade, onde seguimos uma percepção programada que nos gera uma reação programada.
O problema é que somos um animal inteiramente aberto à experiência. Nós não vivemos apenas o momento presente, mas estendemos o nosso eu interior ao amanhã, a nossa curiosidade a séculos passados, aos nossos temores a daqui a cinco bilhões de anos. Vivemos não apenas em um minúsculo território, tampouco em um planeta inteiro, mas numa galáxia, num universo…
O nosso eu é confuso. Queremos saber — pois não sabemos — quem somos, por que nascemos, o que estamos fazendo neste planeta, o que deveríamos fazer, o que podemos esperar. A nossa existência nos é incompreensível. E ela nos é incompreensível porque somos formados de uma maneira em que todos os nossos significados nos são introduzidos pelo lado de fora, pelas nossas relações como os outros. É isso que nos dá um ‘eu’ e um superego. Todo o nosso mundo de certo e errado, bom e mau, nosso nome, exatamente quem somos, tudo isso é enxertado em nós.
O sistema social em que nascemos traça as trilhas para nós, trilhas com as quais nos conformamos, às quais nos moldamos para que possamos agradar aos outros — nos tornamos aquilo que os outros esperam que sejamos. E em vez de trabalhar o nosso segredo interior, vamos aos poucos cobrindo e esquecendo, até que nos tornamos homens puramente exteriores.
“(…) ele pode ser perfeitamente capaz de ir vivendo, de ser um homem, pelo que parece, de ocupar-se com coisas temporais, casar-se, gerar filhos, conquistar reputação e estima — e talvez ninguém repare que, num sentido mais profundo, lhe falta um eu.” [Søren Aabye Kierkegaard]
Esquivamo-nos da nossa vida, deixamo-nos levar para longe de nós mesmos, do nosso autoconhecimento, da nossa autorreflexão. Ignoramos nossos motivos, buscamos o estresse, forçamos nossos limites e enfim, nos esquecemos de nós mesmos, não ousamos acreditar em nós mesmos, achamos arriscado demais ser nós mesmos… passamos a acreditar que é muito mais fácil e mais seguro ser como os outros, tornar-se uma imitação, um número, uma insignificância na multidão. Esta é uma caracterização magnífica do homem ‘culturalmente normal’, aquele que não ousa defender seus próprios significados porque isso significa um perigo e uma exposição grande demais. É melhor não ser ele mesmo, é melhor viver encaixado nos outros, engatado em um seguro arcabouço de obrigações e deveres sociais e culturais.
Mas… #sóquenão, temos que reagir e buscar o que falta agora ao nosso eu, que é, por certo, realidade. Na verdade, examinando mais detalhadamente, o que nos falta realmente é a N-E-C-E-S-S-I-D-A-D-E, é o poder de nos submeter ao necessário para nós mesmos. Precisamos nos tornar cientes de nós mesmos — cientes do que somos e do que queremos.
Isso significa: ser uma pessoa, ter individualidade e singularidade.
Para conseguirmos ser este tipo de pessoa, precisamos parar para refletir e para nutrir ideias sobre o nosso eu secreto, sobre o que este eu poderia ser. Devemos nos perguntar onde está a nossa individualidade, qual é a nossa singularidade, qual é a nossa verdadeira vocação — aquela que temos prazer de fazer e que nos alimenta o coração. O que está no nosso íntimo? Onde estão as nossas emoções? Nossos anseios? Devemos nos redescobrir, resgatar as perguntas da adolescência e os sonhos de criança…
Devemos procurar pelo nosso eu para vivermos mais distintamente, para enriquecer tanto a nós mesmos quanto a humanidade que nos cerca. Acredito que precisamos manter essa busca interior inteiramente viva e consciente, para que consigamos ter um eu com um valor máximo, e não com um valor meramente cultural e social.
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