MINHA MORADA É NO MAIS PROFUNDO DAS COISAS
Superficialidade e profundidade, na visão desta que vos escreve, não se trata de conceitos éticos ou morais. Não são expressões para definir valores e diferenças entre seres humanos, mas são parâmetros que podem nos auxiliar em nosso próprio desenvolvimento.
Imaginemos a superficialidade como a escala mais baixa de uma medida e a profundidade a sua escala mais alta.
Agora imaginemos o oceano, agitado em sua superfície, totalmente susceptível a influências externas como o vento e a influência magnética dos astros e completamente silencioso, pacífico e imóvel em sua profundidade, sendo um rico habitat natural para diversas espécies marinhas.
A superficialidade está ligada aos nossos sentidos, são sensações advindas sem nenhum esforço e decodificadas imediatamente tal como um reflexo condicionado, está relacionado a padrões de crenças profundamente enraizadas, e tais como máquinas programadas, respondemos através de nossos sentidos a estímulos dentro de determinados padrões pré-estabelecidos.
Os desafios impostos pela nossa sociedade atual, não exige que o homem contemporâneo desenvolva habilidades mais complexas, sentidos mais aguçados e percepções mais sutis, muito pelo contrário, é interessante para determinadas organizações que o ser humano permaneça na escala mais baixa de comportamento pois, desta forma, a ênfase colocada por sobre valores baseados no bem de consumo e no capital, transformam-se na espinha dorsal da nossa sociedade, criamos uma espécie de Frankenstein, algo que está acima da vida humana e que para a economia é fundamental para o desenvolvimento da sociedade.
Entretanto, enquanto a nossa consciência estiver identificada com a superficialidade e acreditar que o desenvolvimento humano pode ser mensurado por cifras, não deixaremos a parte mais baixa desta escala e desconheceremos a profundidade de nós mesmos, o desenvolvimento, as habilidades e o amadurecimento que poderíamos alcançar, se os nossos valores não estivessem deturpados e as nossas crenças não estivessem no limiar do primitivismo histórico e social.
Quando um indivíduo está totalmente identificado com a superficialidade é como se ele estivesse na superfície do mar, será vulnerável a todo e qualquer acontecimento externo, o ventinho de uma pequena ofensa, de um deslize no trânsito ou de uma notícia não tão boa, será o suficiente para deixá-lo revolto, suas emoções e os seus pensamentos se agitam com facilidade, sua ansiedade é constante e o grau de tensão no seu dia a dia é extenuante.
Já o indivíduo que descobriu-se, que aprofundou-se em sua realidade interna, que por meio da sua experiência entrou em contato com a força da Grande Vida, a força que está em tudo e em todos, que está dentro e fora de nós, que mergulhou profundamente em seus questionamentos e descobriu dentro de si mesmo as raízes, bases e essência de sua própria existência, este conheceu o que é a profundidade, e a partir desta escala desenvolve sua sabedoria, seu crescimento e seu amadurecimento.
E quando o ser está identificado com a profundidade é como se ele estivesse nas profundezas do mar, suas emoções não são arrastadas devido a influências externas, está centrado em si mesmo, conhece a paz e a alegria da harmonia interior, mesmo diante das situações mas conturbadas, permanece sereno e é capaz de decidir com assertividade, com o equilíbrio da razão e da emoção, pondera, observa, sente, avalia, e só depois de tudo isto dá uma resposta, ou seja, ele dá uma resposta a cada situação, não reage automaticamente a cada situação como se fosse um robô.
Aquele que vive identificado a partir da perspectiva de sua profundeza, precisa desperder um pequeno esforço, para alcançar grandes resultados, suas ações convergem com a força da sua natureza em harmonia com a Grande Vida e, portanto, flui espontaneamente e ultrapassa obstáculos contornando-os sem qualquer dificuldades.
Quem vive na superfície é reativo, quem vive a partir da profundeza é pró-ativo. Na superfície há sofrimento e incompreensão, na profundeza há alegria e pleno entendimento.
Mas para encontrar a profundeza de si mesmo, é necessário estar disposto a percorrer uma longa caminhada, a vivenciar um processo de aprendizado e autoconhecimento, é necessário ser um cientista de si mesmo, observar-se, conhecer-se, descobrir o que há por de trás de cada emoção, sentimento, hábito, pensamento, crenças, limitações, etc. E desta forma iniciar um processo de profunda mudança interior.
Percorrer este caminho que conduz da superficialidade até a profundidade, é percorrer o caminho do encontro consigo mesmo.
É descobrir o teu grande desconhecido que vive aí dentro.
É transformar-se naquilo que já se é.
Viver na superficialidade é viver enfraquecido, divido, fragmentado, enquanto que viver na profundeza é viver íntegro, inteiro, completo e fortalecido.
Diante de tudo isto, aonde você decidirá construir moradia? Na tua superfície ou nas profundezas de ti mesmo?