EXERCITE O DOM DE SER FELIZ
É interessante observar a vocação que a maioria das pessoas tem para a infelicidade, é estranho pensar que alguém possa ter dom para ser infeliz, mas é que as pessoas mal se dão conta que contribuem para a própria infelicidade. A possibilidade de ser infeliz acena muito mais potente que a felicidade. É como se para ficar bem fossem necessários cinco braços para levantar, enquanto para ficar mal basta um dedo para derrubar.
Mas de onde vem toda essa fragilidade emocional?
Lamentavelmente, ela vem de toda parte. Da escola que estimula a competição, da igreja que intimida e ameaça; dos pais que educam pelo medo, desacreditam no potencial dos filhos, fazem comparações entre irmãos e criticam em vez de acolher; do sistema social que enquadra e julga atitudes fora do protocolo e inúmeros outros motivos. A união desses fatores limitantes funciona praticamente como a lei da gravidade – nos mantém no chão.
Para contribuir ainda mais com a vocação para a infelicidade, as pessoas parecem ser dotadas de uma aptidão natural para a insatisfação. Estão sempre descontentes com seu trabalho, com sua profissão, com sua família, com sua aparência. Quase nada ao seu redor parece bom. Não há gratidão pelo que se tem e, sim, lamúria pelo que se queria ter. Aliás, lamuriar e ter pena ou vergonha de si mesmo é bem mais vantajoso do que se dizer satisfeito. Quem se deprecia geralmente recebe elogios e palavras de encorajamento, já aqueles que ousam se elogiar são xingados de convencidos, imodestos, arrogantes ou de pessoas que não se enxergam. Em vez de exaltar o comportamento de quem se sente bem consigo e até aprender com eles, o que acontece, na prática, é a política da chacota invertida, elogia quem reclama, execra quem se sente grato e feliz.
Tantos estímulos negativos não poderiam formar adultos plenos, seguros e livres, ao contrário, formam pessoas tristes, carentes, medrosas, sem fé em si, encarceradas, submissas e permissivas. Pessoas que necessitam de afagos, afetos, elogios e aprovação do outro para se sentirem melhor. Pessoas que sucumbem a uma dor terrível pelo simples fato de serem rejeitadas, chegando a situações extremas de se submeterem a condições humilhantes para não saborearem desse sofrimento, negando o fato de que agir assim só intensifica a dor.
Para muitos, a infelicidade, as vezes até inconsciente, é tão insuportável que preferem não dar tempo para que ela apareça e optam por ocupar suas vidas com viagens, compras, atividades frenéticas, festas, álcool ou drogas no intuito de desfrutarem instantes de prazer e embevecimento. Mas nem tudo que reluz é ouro, como diz o ditado: “por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”. Muitas vezes é preciso exibir uma suposta felicidade para que os outros digam aquilo no qual nem eles mesmos acreditam: que a vida é boa.
Lamentavelmente, somos seres tão consternados e esmorecidos que é difícil convencer alguém da sua importância para o mundo, mas facílimo fazer com que ele acredite na sua inutilidade.
Abandonar o dom da infelicidade e exercitar o dom da felicidade, é simples, não implica em fazer mais, nem em conseguir mais. É preciso apenas soltar, abandonar seus apegos, seus conflitos. Porque o sofrimento não o está segurando; se você analisar bem é você que está segurando o sofrimento. E se você puder fazer uns experimentos, aceitando o que eu estou dizendo, você irá compreender por si mesmo. E não apenas você compreenderá isso, mas você irá experienciar uma entrega; você saberá como o sofrimento pode ser abandonado. E quando tornar-se bom na arte de abandonar o sofrimento, você irá perceber o que estava arrastando consigo. E ninguém, a não ser você, era responsável por isso. Por qualquer coisa que você tenha experienciado como sofrimento, nenhuma outra pessoa pode ser responsabilizada. Logo basta você abandonar uma coisa e exercitar uma outra que lhe traga paz de espirito.
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