COM O PASSAR DOS ANOS O MAIS EVIDENTE É A PROXIMIDADE DO FIM
Não sei se acontece com vocês mas o tempo passa e parece que ter me tornado adulta não fez tanta diferença. Quando eu era adolescente achava que quando eu me tornasse adulta seria uma espécie de outro tipo de pessoa, mas já estou na meia idade e não aconteceu. Com isso deduzo que o mesmo vai se dá na velhice. Já ouvi pessoas bem velhas que tem essa mesma sensação. A sensação de que nada mudou, fora alguma limitação física natural, sem um espelho não saberiam distinguir a pessoa de 20 com a pessoa de 80 tanto para o bem quanto para o mal, o que as vezes muda é o modo como lidamos com as coisas mas não a maneira como nos sentimos, o que muda é o entendimento e consequentemente o comportamento.
Todos sabemos que vamos morrer, mas para mim, a única coisa que se torna mais evidente com o passar dos anos é justamente a proximidade do fim. Qual a relação entre o nosso fim e nossa maturidade? Pois bem, a relação é justamente que, a medida que vamos vendo a linha de chegada, priorizamos as nossas ansiedades, nossas vontades. Tudo que antes vinha em um turbilhão, agora é selecionado. Afinal, sabemos não ter tanto tempo para dar vazão a tudo. As vergonhas, as inseguranças, os medos infantis continuam lá, porém agora há algo mais importante a frente: a morte iminente.
O filósofo Heidegger, em sua obra "Ser e Tempo", tratou deste assunto quando escreveu a respeito do que ele chamou de ser-para-a-morte. Em tal livro, a angústia e a possibilidade de morte, são os ingredientes para colocarem o ser em uma existência mais autêntica. Esta busca pela autenticidade parece-me ser um bom caminho para atingirmos nossa imaturidade em toda sua plenitude. Digo "imaturidade" pois já tenho entendido que o conceito de maturidade baseia-se nas rugas do corpo enquanto matéria e não em nossas experiências subjetivas. Somos, neste sentido, ao meu ver, eternamente imaturos.
Quanto mais encaramos a morte de frente, mais o medo nos enche de coragem criadora. Não criadora no sentido de todos nos transformarmos em artistas, mas no sentido de criarmos nossos momentos, antes de sermos engolidos pelo avassalador nada das vidas carimbadas e xerocadas.
Vamos morrer. Fato. Mas e agora, o que vamos fazer antes da vida contornar nossas esquinas? Antes do papel ser tirado das nossas mãos a força e deixarmos somente um rabisco de quem fomos no ar?
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