DEPENDENTE > INDENPENDENTE > INTERDEPENDENTE
>PAIS NÃO CONGELEM SEUS FILHOS
Junto com o mito do amor incondicional, vem a ideia de que os pais são confiáveis e de que sabem o que é melhor para os filhos. Ora, justamente por acompanhá-los desde bebês, eles são os seres que mais têm visões condicionadas dos filhos:
– Filho, come esse pudim que você tanto adora!
– Faz anos que não como pudim, mãe.
Pais são pessoas que congelam os filhos de alguns modos. Além disso, os filhos têm sempre uma necessidade sutil de aprovação materna e uma busca por outra pessoa que cuide dele assim como sua mãe.
Temos aí configurados o fenômeno da adultescência e do amor materno incondicional, puro, perfeito.
Para os adultescentes eu diria que o melhor seria o filho agir como se sua mãe estivesse morta (sei que isso dói um pouco). Isso significa não precisar de acolhimento, mimo, cuidado ou atenção especial, estar livre para se relacionar com as pessoa, não precisar da aprovação de ninguém, não ser carente, não esperar roupas passadas e pratos lavados, não exigir postura materna de nossos parceiros.
É claro que isso não significa cortar relações, apagar do mapa ou ignorar o fato de que sua mãe foi, é, e sempre será muito importante. Nada disso, muito pelo contrário! Fazendo isso, cortamos um referencial sutil e nos abrimos para nos relacionarmos de modo muito mais saudável com nossa mãe, reconhecendo que, antes de ser nossa mãe, ela é uma mulher como qualquer outra. Então, libere sua mãe do seu papel de mãe, dentro de você. Não importa se ela sente o mesmo, se ela fará um movimento recíproco. Isso não é responsabilidade sua.
Para os pais dos adultescente eu diria que um dos seus papéis como pai é, em algum momento, deixar de sê-lo. Virar um companheiro dos seus filhos. Entender e sentir que dão conta de si mesmos, que não precisam de você, que não te devem nada. Por isso mesmo, você poderá ajuda-los e apoia-los sem que seja uma obrigação derivada dos seus papéis.
Temos cerca de uns 17/18 anos como pais, depois disso a relação precisa se transformar, quando isso não acontece dá muito problema. A relação entre mãe/pai e filho/filha, pra mim, faz sentido enquanto o pai de fato é pai, e a mãe é mãe, enquanto sustentam e cuidam de perto das crianças. Depois vira um cuidador mais distante que também, claro, pode ser chamado de pai e mãe, desde que se entenda a mudança. O problema é que muitos pais parecem nunca admitir a mudança. Eles exigem uma correspondência que simplesmente já não faz mais sentido.
Veja, não é que a amizade entre eles vai se tornar uma amizade como qualquer outra. É diferente. É apenas que a maternidade ou paternidade — como você conhece hoje (enquanto seus filhos são menores) — termina.
Veja, não é que a amizade entre eles vai se tornar uma amizade como qualquer outra. É diferente. É apenas que a maternidade ou paternidade — como você conhece hoje (enquanto seus filhos são menores) — termina.
Os clichês “Filho é pra vida toda” e “Você nunca mais vai dormir tranquilo depois de ter filhos” devem perder sentido e força ao longo dos anos, quando eles vão se tornando adultos.
Hoje me sinto livre e sei que meus filhos sentirão essa liberdade. Assim, quando for a hora, é bom que nos libertemos dessa relação e que possamos construir uma outra inédita, imprevisível, mas certamente viva.
*O ponto é bem simples: todos nós somos interdependentes. Sabemos que ninguém vive sozinho, mas no meio dessas relações, perdemos nossa liberdade. Resgatar nossa liberdade não é se afastar, mas se aproximar ainda mais dos outros, exatamente porque entendemos que nossa aproximação não é por dependência deles, então não temos medo, não temos pé atrás. É só isso.
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