A RAIVA É A TRISTEZA ATIVA; A TRISTEZA É A RAIVA INATIVA
A raiva é a tristeza ativa; a tristeza é a raiva inativa. Elas não são duas coisas diferentes.
Observe o seu próprio comportamento. Quando você fica triste? Você fica triste só em situações em que não pode ficar com raiva, ou uma coisa ou outra. O seu chefe no escritório diz alguma coisa e você não pode ficar com raiva, pode perder o emprego. Você não pode demonstrar raiva, tem de continuar sorrindo. Então você fica triste. A energia se torna inativa.
Aí você sai do trabalho, vai para casa e, quando está com o marido, encontra uma pequena desculpa, algo sem importância, e fica com raiva. As pessoas gostam de ter raiva, ela traz alívio, pois pelo menos elas sentem que estão fazendo alguma coisa. Na tristeza, você sente que estão fazendo alguma coisa a você. Você é a parte passiva, a parte receptiva. Fizeram-lhe algo e você estava indefeso, não pode retrucar, não pode revidar, não pode reagir. Se tem raiva, você se sente um pouco melhor. Depois de um grande acesso de raiva, você se sente mais relaxado e isso traz bem-estar. Você está vivo! Você também pode fazer coisas! Claro que você não pode fazer essas coisas ao chefe, mas pode fazer a seu marido.
Então o marido espera os filhos chegarem em casa — porque não é muito sensato retrucar a raiva na esposa, ela pode querer se divorciar. Ela é a rainha do lar e o marido de alguma forma depende dela e é arriscado se zangar com ela. Ele esperará pelos filhos. Eles chegarão da escola e ele então saltará sobre eles e os castigará— para o próprio bem deles. E o que os filhos farão? Eles irão para o quarto e atirarão longe os livros, chorarão ou castigarão as bonecas, o; cachorros, ou torturarão os gatos. Eles têm de fazer alguma coisa. Todo mundo tem de fazer alguma coisa, do contrário fica triste. Basta ter uma brecha, um bom pretexto pra jogar a raiva toda acumulada em quem passar pela frente.
As pessoas que você vê na rua com uma aparência triste, que vivem tão tristes que o rosto delas parece uma máscara de tristeza, são pessoas tão impotentes, que não encontram ninguém com quem possam ficar com raiva.
Raiva e tristeza são as duas faces da mesma energia, reprimida.
A raiva comum não tem nada de errado. Na verdade, as pessoas que conseguem ficar com raiva e esquecer tudo no minuto seguinte são pessoas realmente muito boas. Você sempre as achará amistosas, vibrantes, amorosas, compassivas.
Mas aquelas que estão sempre reprimindo as emoções, controlando tudo, não são pessoas boas. Elas estão sempre tentando mostrar alguma virtude, mas a raiva fica explícita no modo como se esquivam dos outros, a raiva fica ali borbulhando. Elas estão sempre prontas para explodir.
A raiva é humana, não há nada de errado com ela. É simplesmente uma situação em que você é provocado e, por estar vivo, você reage. Ela significa que você não cederá, que essa não é uma situação que você possa aceitar; que essa é uma situação em que você quer dizer não. Ela é um protesto e não há nada de errado com ela.
Veja uma criança quando ela está com raiva de você. Olhe o rosto dela! Ela está com tanta raiva, tão vermelha, que gostaria de matar você mas no minuto seguinte ela está sentada no seu colo, conversando amorosamente. Ela já esqueceu tudo. Qualquer coisa que tenha dito no momento de fúria, não sente mais. Não se tornou uma bagagem na mente dela.
Sim, no ardor do momento, ela estava com raiva e disse algumas coisas, mas agora a raiva passou e ela não ficará comprometida com isso para sempre, foi um ataque momentâneo, uma ondinha na superfície da água. Mas ela não ficou congelada naquele ataque.
A ondulação surgiu, uma onda se avolumou, mas agora não existe mais. Ela não vai carregar isso para sempre.
Isso tem de ficar bem claro. A pessoa que vive de instante em instante às vezes fica com raiva, às vezes fica feliz, às vezes fica triste. Mas você pode ter certeza de que ela não carregará com ela essas emoções para sempre.
A pessoa que é muito controlada e não deixa que a emoção aflore em seu ser é perigosa. Se ela se sente insultada, ela não fala nada, não fica zangada; ela se contém, ela esconde. Pouco a pouco ela vai acumulando tanta raiva que acaba fazendo algo realmente maldoso.
Não há nada de errado com um acesso momentâneo de raiva. Simplesmente mostra que você ainda está vivo. O acesso momentâneo simplesmente mostra que você não está morto, que você responde às situações e de maneira autêntica. Quando você sente que a situação exige que você fique com raiva, ela irrompe. Quando sente que a situação requer felicidade, a felicidade também irrompe. Você dança conforme a música, não tem preconceitos nem contra nem a favor. Você não tem nenhuma ideologia.
Eu não sou contra a raiva, eu sou contra raiva acumulada.
Qualquer coisa surgida no momento é boa, qualquer coisa trazida do passado é ruim, é uma doença.
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