ENTRE AS CARÊNCIAS DO INDIVÍDUO ESTÃO A ACEITAÇÃO E A COMPREENSÃO
Entre as carências do indivíduo estão a aceitação e a compreensão. Ser e sentir-se amado é uma das maiores necessidades que o ser humano possui. Trata-se de uma necessidade cujo suprimento geralmente fica a cargo de outras pessoas (já que comumente, ao falar dessa necessidade, boa parte das pessoas não considera o auto amor) e como tal, envolve aceitação e compreensão alheia.
Aceitar e compreender são dois processos diferentes. É possível que alguém se sinta aceito sem que tenha sido compreendido, ou que se sinta compreendido sem no entanto ser aceito.
Vislumbrada essa falta de espírito de conciliação da aceitação com a compreensão, pensamos: qual das duas é preferível? Na incapacidade de alguém nos aceitar por completo ou nos entender perfeitamente, qual das duas virtudes nos pareceria mais importante?
Na eventual impossibilidade do auto amor ou o amor universal serem bastantes ao indivíduo, o amor ideal de que se desejaria ser destinatário seria aquele no qual o indivíduo se sente aceito e compreendido.
Contudo, ainda, na impossibilidade de não encontrar alguém que ame de forma a aceitar e compreender, ouso dizer que, caso fosse possível escolher entre um e outro, sentir-se aceito seria mais importante que sentir-se compreendido.
A compreensão envolve um nível de empatia maior do que a aceitação e talvez por essa razão seja mais difícil ser compreendido do que ser aceito. Compreender requer buscar saber o porquê, requer exame, análise, reflexão. Para compreender é preciso mergulhar no universo do outro.
É nesse ponto que reside a dificuldade de encontrar pessoas que realmente compreendam (enquanto, por outro lado, é um pouco mais fácil encontrar pessoas que aceitem) e que compreendam e aceitem ao mesmo tempo. É ele que justifica a possibilidade de existirem pessoas que aceitem sem compreender ou compreendam sem aceitar.
Ser compreendido está a um passo adiante de ser aceito, pois enquanto a aceitação envolve reconhecimento da sua condição humana, a compreensão consiste não só nesse reconhecimento de alguém como humano mas também no reconhecimento de todas as razões que o tornam tão humano quanto você.´
A busca pela aceitação e compreensão é complicada porque trata das mais grandiosas necessidades, desejos e aspirações: sentir-se valorizado, amado, admirado, digno de atenção e de amor, sentir-se efetivamente aceito e compreendido por outro ser humano. Deposita-se em outro ser humano a expectativa de que todas essas necessidades e desejos sejam preenchidos e realizados. É uma exigência demasiado pesada a ser feita para outro indivíduo que está nesse mundo na mesma condição de humanidade que você.
Ser aceito sem ser compreendido pode ser decepcionante, mas ser compreendido sem ser aceito é mais doloroso. Ao sentir-se compreendido mas não aceito, a sensação é de rejeição. Afinal, a partir do momento em que se sabe que o outro te compreendeu, isso significa que ele já “mergulhou” no seu universo... Mas, se ao fim desse “mergulho” não houve aceitação, isso significa que o indivíduo não gostou do que encontrou.
Desejar a aceitação é uma postura um pouco mais caridosa. E mesmo a aceitação, embora não seja tão completa quanto a compreensão, também não é tão fácil de se encontrar em um relacionamento amoroso (seja ele de qualquer espécie). Pode-se considerar, indubitavelmente, que ser e sentir-se aceito são por si só grandes dádivas, independente de quão longe esteja a possibilidade de ser e sentir-se também compreendido.
Isso seria dizer que a compreensão é uma etapa necessariamente posterior à aceitação?
A aceitação guarda em si a compreensão em estado potencial. A aceitação é uma esperança de compreensão. Quem te aceita está mais propenso a te entender um dia, pois ao aceitar estar ao seu lado terá chances mais frequentes de abrir-se para o seu universo até um dia conseguir compreendê-lo. Porém, não é impossível que o caminho inverso seja realizado: ser compreendido para depois ser aceito.
Mas sentir-se aceito antes de sentir-se compreendido é sentir-se mais amado do que no procedimento contrário, pois a aceitação é incondicional. Quem compreende sem aceitar pode discordar, mudar de ideia e consequentemente mudar de lado... Mas quem aceita é leal pois não depende da concordância de ideias para permanecer ao lado.
Quando um indivíduo é excluído, seja qual for o motivo da exclusão, lhe é negado o amor. Quem rejeita, rejeita por inteiro.
Assim, no campo dos sentimentos, a aceitação é preferível à compreensão, pois cumpre melhor o objetivo de fazer o indivíduo sentir-se amado.
Saibamos a diferença para que possamos cobrar de César aquilo que é justo e não esperar das pessoas mais do que o que elas podem dar.
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