PARECE SURREAL MAS MUITAS PESSOAS NÃO SÃO PROTAGONISTAS DA PRÓPRIA VIDA
Parece surreal dizer o que eu vou dizer, mas muitas pessoas não são protagonistas da própria existência. E falando em existência, elas apenas existem: cumprem as funções fisiológicas e sociais quase que com o mesmo automatismo. Quase que com fatalismo, como se não houvesse possibilidade alguma de mudança, como se todas as cartas tivessem sido entregues e mais nada restasse a fazer que se adaptar a elas.
Obviamente, viver na autenticidade não é tarefa simples, até mesmo porque nem tudo depende da nossa boa vontade. Nem tudo depende da nossa escolha. Vivemos cercados por muitas pessoas e circunstâncias que vão restringindo bem o nosso sentido de liberdade. Não existe liberdade irrestrita, até mesmo porque estamos sujeitos a nós mesmos, às nossas limitações e autoenganos. Enfim, qualquer liberdade é relativa. É parcial. Nenhum problema. Tudo ou quase tudo é relativo mesmo. A não totalidade das coisas não as tornam menos intensas ou belas.
O problema reside em viver numa quase total falta de liberdade, quando tudo ou quase tudo na nossa vida vira uma grande pé no saco. O problema é quando tudo vira obrigação.
O problema é quando a gente se sente deslocado na nossa própria vida. Quando a gente se sente dispensável para nós mesmos. Quando fazemos apenas o que "temos" que fazer, vamos perdendo o brilho, a inspiração. Acabamos nos tornando parte de tudo que mais desprezamos e de certa forma passamos a nos desprezar também. A associação entre autodesprezo e autopiedade forma uma combinação explosiva para qualquer autoestima e sentido de vida.
Obviamente, a vida tem um lado objetivo e prático, cheio de deveres chatos. Não há como fugir. O problema é quando este lado cansativo começa a sufocar todas as coisas bacanas que somos capazes de realizar e sentir. Muitas vezes, a vida faz mais sentido para nós quando ela não faz sentido para a maioria das pessoas. Sim, existe uma relação forte e poderosa entre ser feliz e remar contra a maré. Ser feliz não significa estar livre de problemas. Ser feliz significa estar em sintonia com você mesmo, convivendo e compartilhando experiências e sensações com aqueles que se conectam a nós. Ser feliz é deixar-se tocar pelos outros e os outros se deixarem tocar por nós numa dinâmica viva.
A felicidade tem a ver com cumplicidade, com apetite. Enquanto o apetite de viver e fazer e sentir e pensar for maior e mais expressivo do que o medo de tentar coisas novas, a preguiça de romper com esquemas ultrapassados que já não fazem sentido, o tédio diante das dificuldades da vida, podemos dizer que somos felizes sim.
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