O AMOR-ROMÂNTICO NÃO É RUIM, APENAS ELE NÃO É SUFICIENTE
A tragédia de nosso entendimento cultural do amor romântico é que ele faz imposições a nossos parceiros românticos, porque passamos a acreditar que eles tenham a responsabilidade de completar nossas vidas … dar sentido a elas, fazê-las intensas e cheias de êxtase. Aff!
A causa do problema é que quando estamos apaixonados vemos nossos parceiros românticos como versões idealizadas, endeusadas. E ficamos eufóricos com essa visão, e não com a pessoa em si. A contradição do amor romântico é que ele, enquanto permanece romântico, nunca produz relacionamentos humanos porque estamos apaixonados com nossas próprias criações fantásticas e não pela outra pessoa como ela realmente é.
De forma ainda mais trágica, presumimos que o ingrediente central que precisamos para um ‘relacionamento’... é o romance e que um relacionamento sem esse tipo de amor intenso e invasivo tem pouco valor, a ponto de se um relacionamento direto, não complicado e simples nos oferecer felicidade, não o aceitarmos.
A tragédia vem do fato simples de que o amor romântico sempre se dissipa, e a maioria das pessoas não sabe como passar de um relacionamento fantástico e extático para um relacionamento sincero e humano. E se aprendemos alguma coisa com os contos de fada é que o relacionamento sem amor romântico não tem valor.
Por toda vida tivemos uma visão do que o amor devia ser, e agora acreditamos que nosso “amor de verdade” precisa estar esperando por nós. A maioria das pessoas está para sempre presa nesse ciclo de lavar e secar do amor romântico, porque eles acreditam que o intenso amor romântico pode ser algo duradouro.
Os casais românticos que passaram mais da metade da vida juntos tem algo bem diferente de amor romântico. Eles têm uma disposição de compartilhar a vida comum e humana, encontrar sentido nas tarefas simples e nada românticas... encontrar conexão, valor e beleza nas coisas simples e comuns, e não exigir eternamente um drama cósmico... uma intensidade extraordinária em tudo.
De uma forma estranha, esse amor é verdadeiro porque pode durar, mas não é o script de amor com que somos bombardeados por todo tipo de entretenimento ou literatura por toda a vida.
Na medida em que projetamos idealizações endeusando nossos parceiros românticos e exigindo que nos façam felizes, como descrevem os contos de fada, nunca os realmente amaremos como seres humanos. Essa pode até ser uma forma maravilhosa de começar um relacionamento, mas esse relacionamento não irá a lugar algum se os dois indivíduos não estiverem dispostos a ver um ao outro como realmente são.
No final, a base de um relacionamento estável está fundada num amor que emerge não apesar de, mas exatamente pelas falhas e fraquezas do outro, porque no fim são nossas imperfeições que nos fazem humanos. Podemos buscar a perfeição com os anjos, mas só encontraremos amor verdadeiro entre os mortais.
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