NO LUTO NÃO HÁ ESPERANÇA DE VITÓRIA
A esperança tem seu lado negro. A esperança nos estressa. A esperança muitas vezes nos faz lutar infindavelmente em prol de causas perdidas — pois, afinal, há uma esperança.
Há um dito popular muito conhecido que diz "a esperança é a última que morre" ou "pra tudo tem um jeito, a única coisa que não tem jeito é a morte", o que sugere que a única coisa que acaba com todas as nossas esperanças e a morte.
Talvez a beleza do luto seja isso, é que não há mais esperanças.
O luto não é uma luta: não tem objetivo a ser alcançado, não há esperança de vitória, nada há para ser ganho.
A pessoa amada morreu e não vai voltar, nem se fizermos o melhor e mais competente trabalho de luto do mundo.
Em momentos de dor, essa é uma libertação: não depende mais de mim. (Talvez nada nunca tenha dependido, mas, agora, com certeza, nem mesmo isso.)
O luto não é algo que faço pela pessoa querida que se foi, não é algo que faço para conseguir alguma coisa.
O luto é algo que é.
O luto existe através de mim, porque eu existo porque estou vivo. (Só tecido morto não dói.)
O luto é um processo meu: existe dentro de mim, por mim, para mim.
Por tudo isso, só depende de mim: o meu luto dura o tempo que eu precisar que dure.
E se eu quiser me fechar ao mundo e viver para aquela dor e ser definido por aquela dor, eu posso. É meu direito. Serei a viúva ou a mãe que passa o resto da vida de preto, guardando a memória daquele amor.
E se eu quiser levantar do chão e sacudir a poeira, comer, beber e ser feliz, pois amanhã morreremos, eu também posso.
Nada há para ser ganho. Não há esperança. Só existe o luto e seu processo, o luto e seu ciclo.
O luto é a pessoa. O luto da pessoa é ela.
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