quinta-feira, 20 de abril de 2017

SOBRE DIALOGAR

O EQUILÍBRIO DE DIALOGAR COM O QUE É DITO MAIS DO QUE COM A PESSOA QUE DIZ


Quem nunca entrou em uma discussão e, horas depois dela já ter acabado, pensou em uma resposta com aquela sacada genial que deixaria o oponente no chão? Dá um pouco de raiva?
Ok. Vamos voltar duas casas.
Por um lado, é legal ter em mente que a pessoa com quem você estava discutindo talvez não mudasse de ideia mesmo com a tal resposta avassaladora, e isso não a faz pior ou melhor: só mostra a existência de situações nas quais precisamos concordar em discordar. 
Por outro, essas mudanças de pensamento muitas vezes só não ocorrem porque a maneira como o diálogo é construído não permite uma troca genuína de informações, transformando tudo no famoso apontar de dedos na cara com sacadas geniais. E é aí que a coisa fica perigosa, porque isso acaba servindo mais para tornar as conversas raivosas e menos para gerar discussões que de fato sejam proveitosas. 
Se a gente realmente quisesse o bem de quem gostamos invocaríamos, em poucas e necessárias ocasiões, o recurso "senta e escuta", exatamente como fazemos com as crianças. Falar o que precisa ser dito, sem camadas de raiva, inveja, ansiedade ou receio, apenas uma belíssima   e compassiva honestidade – diante do qual qualquer sujeito minimamente interessado em ser uma pessoa melhor não faria algo diferente de escutar e agradecer mesmo em silêncio as palavras endereçadas a si. 
Mas não é como se a gestão das críticas e opiniões de terceiros fossem coisas simples. Elas podem trazer à tona incertezas e fazer com que comecemos a nos preocupar com coisas que até então eram imperceptíveis. 
É uma via de mão dupla enfrentada por todos: o receber críticas e o "revidar" críticas. E quando,  elas ocorrem em contexto de exposição pública, a tarefa pode ser ainda mais desafiadora, abrindo espaço até para certas paranoias. 
Na verdade, a opinião das pessoas importa. 
Se você compartilha do mesmo sentimento, fica mais importante ainda voltar aquelas duas casas, dar uma respirada e repensar como estamos construindo nossas relações. No fim das contas, o dedo do outro na sua cara não vai ser resolvido com o seu dedo na cara do outro. 
Muitas vezes  ao entrar em contato com um texto, uma palestra, um vídeo ou qualquer outro formato de veiculação de significados, a vontade de agradecer e elogiar é grande, pois a sensação de alegria, bem estar e aprendizado acende um fogo interno no meio dos pulmões, e a vontade é de retribuir este calor com as palavras ou meios que estiverem disponíveis.
Muitas vezes a sensação de discordar e vontade de combater com palavras aquilo que foi lido, visto ou ouvido, também vem com força, como um terremoto interior, e as palavras que saem disso costumam ser feias, mas também podem ser argumentos e não só ataques ao indivíduo que disse, mas, principalmente, ao que foi dito.
Encontrar este equilíbrio de dialogar com o que é dito mais do que com a pessoa que diz é o grande objetivo... Pois a busca é por uma sinceridade que não seja agressiva mas não tenha medo de falar o que é pensado e tem a habilidade de expressar o pensamento de forma clara sem respingar nas pessoas com quem estamos falando.


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