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MORRA O MAIS VIVO QUE PUDER
Ter motivo para viver. Algo que para algumas pessoas é automático e não exige esforço algum, para outras pode ser literalmente a busca de uma vida.
O ponto chave é que todos nós enxergamos o mundo que construímos. Quando afirmamos que já tentamos tudo para mudar, provavelmente tentamos "apenas" tudo o que poderia ser tentado no nosso mundo restrito. A ideia de tirar a própria vida é uma dessas tentativas, e ela nasce de uma visão do tudo ou nada.
A morte de alguém que quer tirar a própria vida anseia é a de uma realidade específica, e não de si mesmo. Mesmo aqueles que se sentem cansados das próprias ações estão cansados na verdade... do seu próprio cansaço. Tudo é sem vida, tedioso e previsível, se pudessem, desapareceriam para si mesmos por um tempo e depois retornariam para ver se o cansaço passou.
É a dor de viver que querem aniquilar, mas eles não entendem que a dor não é um estado físico (apesar de ser sentida por muitos assim), mas uma concepção equivocada do mundo. O problema é que ele vê a realidade como algo concreto e não como algo que ele constrói.
A real é que nós criamos a realidade que habitamos; ela não existe em si. A mesma festa pode ser uma celebração para um e uma catástrofe psicodélica para outro, a paisagem mental de cada um se sobrepõe e cria o clima da festa. O óculos que você utiliza é que define a experiência que vai absorver.
As visões de mundo das pessoas se distinguem radicalmente. Para a pessoa bélica tudo é uma guerra, para a carola é tudo preto-no-branco/certo-errado, para o visionário as oportunidades estão sempre no meio do caminho.
A noção de felicidade que alimentamos é muito pobre e no mais das vezes é a própria causa da ideia de querer a morte. Se ela está trancafiada numa certa posição específica, como beleza, juventude, vigor físico, poder ou dinheiro, existe um alto potencial de que o envelhecimento, a doença e os altos e baixos do mercado de ações afetem sua sensação de pertencimento a esse mundo.
Mesmo se tiver tudo, ainda assim, nada satisfaz. Nem o parceiro, nem os amigos, muitos menos trabalho e família, sempre falta algo a mais, nunca é suficiente. A sensação de que nada é suficiente pode ser resultado de um tipo silencioso de tédio arrogante onde o insatisfeito crônico se vê acima do bem e do mal (mesmo que não esteja). É insatisfeito porque está sempre esperando uma satisfação externa para agradar o rei meio bêbado e entediado que grita lá dentro: "ei, alguém aí fora não vai me alegrar? Ninguém quer dançar para mim?"
É a incapacidade de sentir o que está sentindo porque está idealizando a realidade.
Deixo claro que entendo os mecanismos que levam as motivações próprias do sofrimento dos entediados e de quem chega ao extremo de se matar para se livrar da dor e da angústia, mas o que posso perceber com toda clareza é que definitivamente a pessoa ainda não explorou todas as possibilidades. Não mesmo!
Sobre viver eu digo a vocês: Morra o mais vivo que puder !
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