A VERGONHA É RESULTADO DA REPRESSÃO
Quantos de nós já ouviram essa pergunta? Da mãe, do pai, da professora, do namorado, do amigo decepcionado. Você não tem vergonha de: bater no seu irmãozinho, tirar essa nota, fazer isso comigo depois de tudo o que eu fiz pra você, estar tão gordo, magro, não cuidar dos dentes, sentar dessa maneira e por aí vai...
Podemos ficar aqui por muitas horas lembrando de todas as perguntas que começam com essa frase. Quantos de nós, ao ouvir a tal indagação, desejaram com todo o coração que a terra se abrisse e fosse possível desaparecer sem deixar rastros?
Não é só com os tímidos e introvertidos. Vergonha é confundida com civilidade e educação. Emoção universal, instala-se permanentemente em nossas vidas. Não importa quanto tempo depois, se alguém toca naquele lugarzinho onde ela está escondida, ela ressurge com toda fúria, novinha em folha.
Passamos muito tempo de nossas vidas sem perceber o quanto nos envergonhamos — e de tantas pequenas coisas. Acabamos, exceto pelas situações em que nossa vergonha é exposta, vivendo como se ela não existisse. Mas existe e muito. Alguns estudos demonstram como a educação, por exemplo, incute a vergonha nas pessoas. Uma forma de controlar as crianças e adolescentes é exatamente fazer perguntas como: "o que você acha que aconteceria se todos soubessem o que você fez?"
A vergonha é considerada uma defesa para a vida em sociedade. Mas será que não exageramos ao apoiar tanto da educação e da polidez em vergonha? Será que podemos ser civilizados e gentis baseados em outras emoções? A vergonha tem um peso que muitas vezes não permite novidade ou criatividade. Temos que vencer muitas e muitas barreiras para ser alguém um pouco diferente.
E não falo só daquela gigante, dos grandes feitos. Há muitos pequenos atos cotidianos também liderados pela vergonha. Não tirar a camisa, não perguntar algo para um desconhecido, não entrar sozinha em um lugar. E também não dizer "não", não contar a alguém que está incomodado com algo, não dizer que não come tal coisa…
Vergonha, pelo mal estar que causa, fica parecendo culpa, mas é diferente porque a culpa diz respeito a coisas que você fez e a vergonha diz respeito a quem você é. Acho, no entanto, que em nossa sociedade judaico-cristã, baseada nas culpas e pecados originais, os dois se confundem, andam de mãos bem dadas.
Me arrisco a dizer que a vergonha é um dos sentimentos que mais nos travam, pois, muitas vezes ja sofremos por antecipação e nos bloqueamos antes mesmo de tentar.
Vejo a vergonha tendo uma ligação muito íntima com o medo "o que as pessoas vão achar" e com o medo da perda de uma identidade (na verdade esses dois medos também são interligados) e fazemos muito esforço pra não passarmos por situações vergonhosas, quando, na verdade, enfrentar essas situações é um bom jeito de sair da zona de conforto e testar nossa liberdade.
Não querermos ser perfeitos e sem falhas, mas singulares e únicos, ótimos em algumas coisas, não tão bons ou péssimos em outras. E queremos conseguir nos apresentar ao mundo assim: podendo ser diferente a cada dia, sem vergonha do que somos.
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