QUE FELICIDADE VOCÊ ESTÁ BUSCANDO?
how are you?¿que tal?¿que pasa?
No Brasil, a pergunta é bem mais "agressiva":
"Tudo bem?"
É muito engraçado isso, não existe espaço para não estar bem. A pergunta já presume que você não apenas está bem, mas completamente bem, e busca apenas uma confirmação. Afinal, o normal é tudo estar sempre bem. Se não está tudo bem com você, humm, então você está fora da regra, desviante do esperado, incorreta & inadequada.
E, aí, vai ter que já começar sua resposta desmentindo sua interlocutora:
"Não... É que..."
De cara o principal objetivo da gente é só e somente "ser feliz". Cada linha de cada texto, cada reflexão e cada raciocínio, sempre, como objetivo último, garantir nossa própria felicidade. Mas temos outros ângulos dessa questão para articular.
Digamos que não é bem verdade afirmar que: a verdade só é importante enquanto meio de atingir a felicidade. Senão, de nada serve;
Ou que se a verdade levar à angústia e depressão, ela torna-se pior que inútil, é nociva;
Ou ainda também que lutamos pela liberdade por ela ser um meio de nos conduzir à felicidade. Como fim, entretanto, a liberdade também é inútil. Pra que serve a liberdade se você é infeliz? Só a felicidade realmente importa. Deixar a verdade estragar isso é um crime.
Mas quando nossa sociedade e nossa cultura, nossas escolas e nossas igrejas, nossas mães e nossas colegas de trabalho, nossos outdoors de beira de estrada, fazem de tudo para nos vender a felicidade como objetivo último, talvez seja a hora de parar para pensar e voltar para o começo.
Na prática os momentos de felicidade acabam rápido, a busca pela felicidade não acaba nunca. Depois de um livro de auto-ajuda sobre como ser mais feliz, tem sempre outro. Como a felicidade não existe (pelo menos não como esse estado permanente, a busca nunca tem fim e nos mantém cegos e aprisionados a ela por toda a vida.)
Quando enxergamos tudo pelo prisma da nossa busca pela felicidade, as pessoas à nossa volta deixam de ser gente: elas se tornam maquininhas utilitárias fornecedoras de felicidade.
"O que essa pessoa pode me dar? Quanta felicidade ela pode me fornecer? Ela está me fornecendo tanta felicidade quanto antigamente? Quanta felicidade ela ainda pode me fornecer?"
E assim vamos trocando de emprego & de casa, de parceira & de cidade, sempre em busca de uma plena felicidade futura, sempre em busca do emprego ideal que realmente vai nos fazer feliz, do casamento perfeito que vai nos fornecer a pura felicidade.
Pois, afinal, é para isso que servem as pessoas, não? É para isso que existe o mundo, não? É isso que mais importa, não?
Ser feliz.
Nunca consideraram viver suas vidas sem sua própria felicidade como fim último. Não lhes parece teoricamente possível viver sem sua própria felicidade como fim último.
E, pior, se a felicidade não é o fim último, então qual é? Viver pra quê? Viver almejando o quê?
Ao criticar a busca pela felicidade, na verdade estou apenas criticando a busca sempre frustrada por felicidade genuína por meio de caminhos práticos (casamento, dinheiro, poder, realização profissional, amigos, etc).
Ou seja, o problema não é buscarmos a felicidade (algo inevitável, já que todo mundo não quer sofrer e todo mundo quer viver bem de acordo com o que pensa ser viver bem, isso não é um argumento, não tem como "discordar" disso), mas buscarmos de modo a nunca a encontrarmos. E temos só feito isso: tentamos ser feliz controlando condições externas. Algo impossível.
Não é parando de buscar a felicidade que a gente vai ser feliz. É buscando certo.
E pra buscar de modo inteligente eu acho que ajuda mudarmos aos poucos nossa visão sobre o que é desejável, sobre o que é felicidade.
Melhor do que parar de buscar, precisamos entender como conseguir o que desejamos. E ganhar clareza sobre o que desejamos. Porque não desejamos dinheiro, casamento, realização profissional, amizades, viagens. Desejamos vivacidade, estabilidade, equilíbrio autônomo independente das oscilações da vida, brilho no olho, abertura, sabedoria, generosidade, paz, é isso que desejamos. Todas as vidas são isso: pessoas se movendo para onde consideram ser uma posição mais feliz e evitando posições que consideram ser dolorosas. Você, eu, aranhas, formigas, jabutis, ...
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