UMA MENTE INFELIZ NÃO PODE NOS FAZER FELIZ
Esperar algo de outra pessoa, ainda que num relacionamento, é pedir para ter uma grande decepção.
Eu acho que se você espera chegar a um estado ideal e não real de felicidade condicionada, o seu relacionamento de casal não vai ter solução, não tem como resolver, estará fadado ao fracasso. Quanto mais insistimos nessa visão romântica, mais sofremos e mais fazemos os outros sofrerem.
Parece que já superamos o romantismo, mas não é verdade: mesmo que saibamos que é impossível, nossa operação emocional ainda é a de andar por aí buscando um namoro sem problemas (ou com poucos problemas). Quando enfim encontramos alguém que parece nos fazer feliz, colocamos nossa energia, nosso tempo, nossa respiração na dependência dessa pessoa. Começamos a negociar, controlar, esperar, exigir, reclamar… Essa mente em si mesma já é uma mente infeliz. Não tem como ela nos fazer feliz, por mais incrível que a outra pessoa seja.
Diante dessa condição, alguns teimam na busca romântica e outros se deprimem numa espécie de anulação completa de si: já que não tem como dar certo, então vamos no contentar com migalhas de relacionamento. Há muitas pessoas assim.
Ambos os extremos, do romantismo e da anulação pessoal, não levam a pessoa a entender a necessidade de trabalhar com sua mente, com suas emoções, com seu mundo interno, que é a verdadeira origem de todo o sofrimento e também da felicidade verdadeira— quando cultivamos atenção, estabilidade, relaxamento, sabedoria, amor, alegria, compaixão, lucidez. A satisfação não tem como vir de uma pessoa, mas pode, sim, surgir de um cultivo interno em meio a todas as relações. O problema é que hoje não sabemos como iniciar essas práticas, então “compaixão”, “sabedoria”, “relaxamento” se tornam apenas palavras bonitas.
Namorar é brincar com fogo. Ninguém nos avisa, mas tem pessoas se matando por causa disso o tempo todo. Quem não chega a algum tipo de violência acaba tomando remédios, usando drogas, comendo demais etc.
Quanto mais você souber que pode se queimar, mais estará preparado para quando acontecer. Estar preparado inclui entender que não há culpados, que você não fez algo errado (os problemas vieram junto com o pacote) e principalmente que você pode trabalhar com a vida do jeitinho mesmo que ela vier. Não importa o que aconteça ao seu redor, internamente você sempre pode relaxar, respirar, olhar de modo mais amplo, sorrir, se equilibrar de modo autônomo, ver qualidades nos outros, desejar que eles não sofram, cultivar amor e agir com mais liberdade, sem tanta aflição, sem tanta seriedade, sem tanto ficar centrada em si mesmo. Você pode, mas precisa aprender a acessar essa possibilidade sempre disponível.
Um relacionamento mais lúcido seria aquele no qual pelo menos uma pessoa consegue aproveitar o que acontece para se transformar e ajudar o outro a fazer o mesmo. É possível fazer isso no começo, no meio, no fim e após o fim.
Um relacionamento no qual ambos só agem para conseguir fazer dar certo, para conseguir a própria felicidade, é algo meio inútil. Quando acaba, a pessoa não sai com uma mente mais clara, menos ciumenta, mais compassiva etc, apenas leva uma mente que vai tentar fazer a mesma coisa com a próxima pessoa, dessa vez com mais espertezas (“Ah, aquilo deu errado, agora sei o que funciona…”).
A gente deveria guardar isso no meio do peito: o outro é livre. É impossível conhecer o outro, é impossível controlar o outro, é impossível segurar o outro.
É a capacidade de olhar o outro dentro do mundo dele, ver qualidades, ajudá-lo com obstáculos e se alegrar com seu viver que traz o equilíbrio necessário para que possamos chegar a um relacionamento lúcido.
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