O PROBLEMA É O SENTIMENTO DE "TRAIÇÃO" COM AS ASPAS E TUDO NELE CONTIDO
A traição não é um fato, mas a experiência de ser traído (ou de trair). Nesse sentido "traição" não é nada mais do que "sofrimento da traição". Se lidamos com o sofrimento da traição, a "traição" pode gradualmente desaparecer, até entendermos que não faz sentido sequer falar em traição, mas em sofrimento, confusão, alucinação, cegueira, prisão, aflição, controle, ciúme, apego, ...
No caso da traição o processo fica bem extremo: a gente acha que sofre por causa da "traição" (fato externo, alguma situação), não por essas nossas estruturas internas citada acima de apego, cegueira...
Nesse caso ajuda pararmos de pensar na traição como um fato externo, e entendermos que é uma experiência. Sendo uma experiência, quase uma sensação, uma percepção, pode ser mudada, alterada, desconstruída. Nesse sentido, a traição é a própria confusão gerada, não é nada além disso, não é sequer uma situação, um fato.
A ideia é bem simples: quando a gente trata de fatos, estamos tratando de coisas que não podemos mudar e que não passa por nossa mente, não é uma experiência. Logo, nada é um fato, tudo o que existe são experiências de mundo, experiências de fato.
Se tratamos de fatos e sofremos, é inevitável virar uma vítima, culpar outra pessoa pelo que sentimos: "Ela fez isso, eu sinto isso". Mas nosso mundo interno é sempre co-construído, podemos mexer nele, não é uma causação de fora pra dentro, ainda que isso seja sentido assim quando somos passivos, presos e confusos.
Se tratamos tudo como uma experiência, entendemos de modo mais refinado: "Ela fez isso e eu estou construindo a experiência de tal e tal modo, o que me leva a sentir isso. Mas basta eu construir a experiência de outro modo para sentir outra coisa. Os movimentos de outra pessoa não podem ter tanto poder assim sobre mim!".
A traição não é um fato. Uma relação paralela é um fato. A pessoa foi lá e transou com outro, se apaixonou, tem outra família. Isso se chama relação paralela ou qualquer que seja o nome. Ou seja não é nada inerentemente negativo nisso.
O que é negativo é a confusão na qual isso pode ou não se construir. É possível ter outra família e todo mundo estar bem com isso, todo mundo mesmo. Não é teoricamente possível? É difícil e raro, mas é possível. Ou seja, não é nada inerentemente negativo nessa configuração, vide Ms. Catra.
O que é negativo é o apego, o sofrimento causado, as tentativas de controle, as violências, brigas, cegueiras... E pra trabalhar com isso não adianta criar uma regra: "Não traia nunca!". É lindo se pudermos manter uma relação boa sem movimentos que possam parecer ataques, sem "traições", claro. Mas vamos admitir: tem muita gente se traindo por aí. Vamos lidar com isso ou não?
O que vejo prejudicar os casais é essa ingenuidade, quando rola uma "traição" aí nunca ninguém tá preparado, porque nunca deixaram o contrato bem claro, simplesmente acharam que nunca fosse acontecer.
É só esse meu ponto: vamos nos preparar, vamos olhar a traição como uma experiência de ser traído (o fato na verdade é uma relação paralela que surgiu), vamos fazer um voto de trabalhar com nossas estruturas internas em vez de culpar os outros pelo que sentimos, não precisa de nenhuma luta contra o outro. Se um dia isso acontecer no seu relacionamento, se está bem claro e estabelecido que a traição não faz parte do contratado, então faça valer o pré estabelecido. A situação fala por si só, o conflito e o desgaste é dispensável e desnecessário, porque não se trata disso. Essa é uma questão pessoal muito íntima que você enquanto o outro, jamais terá acesso.
Pare, olhe e siga em paz.
Pare, olhe e siga em paz.
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